[Wagner era um] “gnomo fungador da Saxônia com talento bombástico e caráter desprezível”
Thomas Mann, sobre o compositor alemão.
No início da semana, terminei a audição da famosa tetralogia do Anel, do compositor alemão Richard Wagner. Os quatro trabalhos somam mais de quinze horas de música, teatro e uma exigente performance para os músicos. Os quatro trabalhos – “O ouro do Reno”, “As Valquírias”, “Siegfried” e “O crepúsculo dos deuses” são trabalhos complexos e que revelam as enormes aspirações do compositor. “O anel do Nibelungo” pode ser colocado como uma das produções mais rigorosas já produzidas por um ser humano. Por trás dessa grandiosa obra, nota-se o homem Richard Wagner.
Para completar esse quadro, li uma excelente reportagem no jornal alemão DW, publicada há dois dias que tratava sobre o homem e o mito Richard Wagner. Ao longo de sua vida – e até hoje -, o compositor construiu, ao mesmo tempo, um exército de admiradores quase religiosos e um outro exército de críticos ao seu trabalho e à sua personalidade. Ou seja, não há como negligenciar a condição de polemista do alemão.
Primeiramente, é importante abordar o caráter político do alemão. Há por trás de sua personalidade manifestações preconceituosas e oportunistas. Em vida, Wagner foi o defensor de um resgate do verdadeiro espírito alemão. Seu antissemitismo é um dos aspectos mais asquerosos de sua biografia. Certamente, ele fortaleceu, no final do século XIX, muitas das aversões que foram direcionadas aos judeus. Outro aspecto, nebuloso é a ligação de seus descendentes com a ideologia de Hitler. Não se pode dizer que Wagner inaugurou o nazismo. Não existe o menor fundamento histórico para isso, mas, pode-se afirmar que a música do compositor foi usada como estética para a pedagogia do 3º Reich. Quando se observam as imagens dos soldados perfilados, da regularidade da marcha, dos uniformes, as multidões perfiladas, tudo cria uma frugalidade e um rigor operístico. Certamente, o entusiasmo nacionalista do compositor criou essa identificação. A personalidade de Wagner passou a ser admirada e endeusada pelos principais líderes do regime nazista.
Hitler, desde a juventude, havia se apaixonado pela música do alemão. Fazia incursões anuais para Bayreuth, pequena cidade do interior da Alemanha, onde foi construído sob o patrocínio de Luís II, da Baviera, o famoso teatro para que as óperas do compositor fossem encenadas. Todos os anos, 11 de suas principais óperas são encenadas nos meses de julho e agosto. Isso tem sido feito desde 1876. A fila para conseguir um ingresso é altamente disputada, chegando a 8 ou 10 anos.
Em segundo lugar, é importante dizer que a música de Wagner não deve ser negligenciada. O drama é uma condição inexpugnável de sua música. Ela é elevada a níveis altíssimos. Algumas de suas óperas possuem quase quatro horas de uma apresentação intensa em que não é possível baixar a intensidade. Ou seja, um verdadeiro desafio para aqueles que desejam representá-la. A obra do compositor procura exaltar um ideal de grandiosidade e pureza. Sua música é capaz de provocar fortes emoções. Há nela elementos fantasiosos e uma atmosfera quase religiosa.
O “talento bombástico” ao qual se refere Mann diz respeito, certamente, ao magnetismo que a música do alemão promove. Bruckner o chamava “mestre dos mestres”. A admiração do compositor austríaco era das mais exageradas. Ele viajou algumas vezes da Áustria para a Alemanha para acompanhar o famoso Festival na cidade de Bayreuth. Suas 11 sinfonias estão impregnadas de Wagner. Dedicou a Terceira Sinfonia, cujo nome “Wagner” faz uma referência explícita à admiração que tinha pelo grande operista.
Wagner insere uma nova página para a música moderna. Suas inovações podem ser percebidas, por exemplo, na relação que ele estabelece da voz com a força da massa sonora da orquestra. Em Wagner, não somente os cantores contam a história. A orquestra também o faz. Notam-se por meio de insinuações dos instrumentos, a adequação entre o que está sendo cantado e o que está sendo reproduzido pelos músicos da orquestra. Nada é gratuito. Tudo deve ser observado, pois tudo compreende o drama. Os leitmotivs também foram uma técnica desenvolvida por ele como espécie de metalinguagem para que fossem percebidos insinuações do tema do trabalho que é representado.
Para completar esse quadro, li uma excelente reportagem no jornal alemão DW, publicada há dois dias que tratava sobre o homem e o mito Richard Wagner. Ao longo de sua vida – e até hoje -, o compositor construiu, ao mesmo tempo, um exército de admiradores quase religiosos e um outro exército de críticos ao seu trabalho e à sua personalidade. Ou seja, não há como negligenciar a condição de polemista do alemão.
Primeiramente, é importante abordar o caráter político do alemão. Há por trás de sua personalidade manifestações preconceituosas e oportunistas. Em vida, Wagner foi o defensor de um resgate do verdadeiro espírito alemão. Seu antissemitismo é um dos aspectos mais asquerosos de sua biografia. Certamente, ele fortaleceu, no final do século XIX, muitas das aversões que foram direcionadas aos judeus. Outro aspecto, nebuloso é a ligação de seus descendentes com a ideologia de Hitler. Não se pode dizer que Wagner inaugurou o nazismo. Não existe o menor fundamento histórico para isso, mas, pode-se afirmar que a música do compositor foi usada como estética para a pedagogia do 3º Reich. Quando se observam as imagens dos soldados perfilados, da regularidade da marcha, dos uniformes, as multidões perfiladas, tudo cria uma frugalidade e um rigor operístico. Certamente, o entusiasmo nacionalista do compositor criou essa identificação. A personalidade de Wagner passou a ser admirada e endeusada pelos principais líderes do regime nazista.
Hitler, desde a juventude, havia se apaixonado pela música do alemão. Fazia incursões anuais para Bayreuth, pequena cidade do interior da Alemanha, onde foi construído sob o patrocínio de Luís II, da Baviera, o famoso teatro para que as óperas do compositor fossem encenadas. Todos os anos, 11 de suas principais óperas são encenadas nos meses de julho e agosto. Isso tem sido feito desde 1876. A fila para conseguir um ingresso é altamente disputada, chegando a 8 ou 10 anos.
Em segundo lugar, é importante dizer que a música de Wagner não deve ser negligenciada. O drama é uma condição inexpugnável de sua música. Ela é elevada a níveis altíssimos. Algumas de suas óperas possuem quase quatro horas de uma apresentação intensa em que não é possível baixar a intensidade. Ou seja, um verdadeiro desafio para aqueles que desejam representá-la. A obra do compositor procura exaltar um ideal de grandiosidade e pureza. Sua música é capaz de provocar fortes emoções. Há nela elementos fantasiosos e uma atmosfera quase religiosa.
O “talento bombástico” ao qual se refere Mann diz respeito, certamente, ao magnetismo que a música do alemão promove. Bruckner o chamava “mestre dos mestres”. A admiração do compositor austríaco era das mais exageradas. Ele viajou algumas vezes da Áustria para a Alemanha para acompanhar o famoso Festival na cidade de Bayreuth. Suas 11 sinfonias estão impregnadas de Wagner. Dedicou a Terceira Sinfonia, cujo nome “Wagner” faz uma referência explícita à admiração que tinha pelo grande operista.
Wagner insere uma nova página para a música moderna. Suas inovações podem ser percebidas, por exemplo, na relação que ele estabelece da voz com a força da massa sonora da orquestra. Em Wagner, não somente os cantores contam a história. A orquestra também o faz. Notam-se por meio de insinuações dos instrumentos, a adequação entre o que está sendo cantado e o que está sendo reproduzido pelos músicos da orquestra. Nada é gratuito. Tudo deve ser observado, pois tudo compreende o drama. Os leitmotivs também foram uma técnica desenvolvida por ele como espécie de metalinguagem para que fossem percebidos insinuações do tema do trabalho que é representado.
Ao ouvir as quatro óperas (uma por semana) de “O anel do Nibelungo”, pude absorver um pouco da atmosfera grandiosa e megalomaníaca do compositor. Em um primeiro momento, a impressão que nos passa é de que estamos diante de lendas ultrapassadas sobre mitos germânicos. Não. Wagner depositou ali os dramas humanos – a força, a honra, a coragem, a verdade, a mentira e tudo aquilo que envolve o desafio que é ser humano. O homem Wagner está escondido por trás de camadas polêmicas de controvérsias, mas sua música é grande, sublime, de força avassaladora. E isso é incontestável.
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