segunda-feira, dezembro 29, 2025

"Suíte Tóquio", de Giovana Madalosso

 

Terminei a leitura do livro "Suíte Tóquio", de Giovana Madalosso. Já o conhecia de nome, antes de sair uma propalada lista feita pelo jornal estadunidense "New York Times". O famoso jornal fez uma lista com os cem melhores livros lançados em 2025. Foi o único livro de um escritor brasileiro que figurou na lista. Senti-me estimulado a lê-lo. Deve ser ressaltado que o livro não foi publicado em 2025. Se não estou enganado, a publicação ocorreu em 2020. A explicação: o livro ganhou uma edição em inglês somente em 2025.

Admito que há em mim uma presumida dificuldade em ler essa safra nova de escritores brasileiros. Percebo que as histórias gravitam em torno de temas que surgem como “lacrações". Portanto, sempre os evito. Fico com os clássicos. O erro nunca se consuma. É certeiro. Mas, por outro lado, penso que é importante lê-los.

 Confesso que o livro é bom e bem escrito. Surpreendeu-me, embora ainda possua passagens em que certos termos como “bu**eta" ou “f**er" surjam, o que gerou em mim um esgar de cansaço, de lábio contrafeito; todavia, segui a leitura. Outra: acompanho as colunas da escritora Giovana Madalosso, no jornal Folha de São Paulo. Seus textos abordam comportamentos, sexualidade, costumes e temas políticos. Ela é hábil com o vernáculo. Giovana é jornalista e roteirista de cinema. Ela sabe estruturar personalidades; formatar personagens.

Em “A Suíte Tóquio", Giovana utiliza um recurso que demonstra inteligência: há duas vozes narrativas, duas mulheres com histórias, valores e situações socioeconômicas bem distintas – Fernanda e Maju. A primeira é uma mulher bem-sucedida em sua profissão. Trabalha como diretora de documentários e programas televisivos. Sua profissão vem em primeiro lugar. Encarna o arquétipo do paulista, aquela entidade que vive para o trabalho; que cisma em correr, a comer mal; que procura ser o verdadeiro emblema da produtividade. Maju, por sua vez, é uma empregada doméstica. Trabalha a mais de trinta anos nessa profissão. Seu sonho é ter um lar feliz; ter uma família, ser mãe. Ela inicia a história a afirmar que está raptando a filha da patroa - Cora ou Ana.

Desse começo aparentemente banal, despropositado, o leitor é empurrando para uma narrativa ágil, desenvolta, repleta de pimentas reflexivas. O que fica é uma narrativa oportuna. A leitura segue fácil, em lances desenvoltos. Durante boa parte do livro, eu fiquei com uma impressão de desconfiança. Entretanto, quando se chega ao cabo do livro, a impressão da totalidade acaba por dar à história uma impressão afirmativa. Giovana utiliza elementos sutis para sugerir alguns debates. Por exemplo, o papel da maternidade em uma sociedade preocupada com a produtividade. A posição elitista, de indiferença das famílias ricas, que desconsideram as histórias das pessoas que estão próximas. A relação de descarte para com aqueles que são diferentes. O nome do livro – “Suíte Tóquio” – é resultado da sugestão de Fernanda. Para que Maju não tivesse folga e fosse para casa a cada quinze dias, ela permite que a empregada receba o namorado nesse cubículo a que ela nomeia dessa forma – é uma “suíte” pela finalidade; e é “Tóquio” por ser pequena.  É a atualização, a modernização das senzalas. Giovana, por sua vez, não é impositiva ao sugerir esses temas para debate. Ela consegue criar um verniz de leveza, apesar dos temas fundamentais.

Escutei uma entrevista da escritora em que ela fala que foi bem fácil criar a personagem Fernanda. De certa forma, é uma mulher cujos valores são os mesmos da escritora. O problema foi criar a personagem Maju; construí-lhe uma psicologia; demandas existenciais. A escritora informou que viajou de ônibus, perfazendo o percurso que a personagem Maju realiza em certa passagem da história. Viajou para o Acre a fim de se apropriar das características da Floresta Amazônica.

Por fim, foi bom ter conhecido o texto bem escrito de Giovana

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