quarta-feira, outubro 17, 2007

A luz da arte e a minha cegueira

A primeira impressão que tive da pintura ao lado foi de estranhamento. Afinal de contas, não enxerguei em minhas limitações as paisagens que Benjamim descreve. Os olhos de minha sensibilidade precisam de um colírio forte para limpar a minha alma. Perguntei a um colega o que ele via na pintura e ele me respondeu mais ou menos assim: "Acredito que seja um desenho de criança". Nunca cheguei a conhecer as intenções de Klee. Mas entendo acima de qualquer coisa que a resposta do meu colega tenha um propriedade e uma profundidade inerentes. A pintura revela as mãos infantis do artista. A arte é séria, mas brinca com as nossas convenções. Ela nos choca porque fala daquilo que não estamos acostumados. Vivemos o trivial. Vemos o mundo por meio de sombras e quando nos apresentam a luz daquilo que pode ser, assustamo-nos. É bem parecido com aquilo que Platão narra em seu Mito da Caverna. Sei que as palavras revelam os limites do meu mundo, anunciando de onde venho, quem sou, as minhas experiências e as minhas limitações. Com certeza, quem mais entedeu esse quadro fora de Klee foi Walter Benjamin. O filósofo afirma de forma brilhante o seguinte sobre o quadro de Paul Klee:



"Há um quadro de Klee chamado Angelus Novus. Representa um anjo que parece a ponto de afastar-se para longe daquilo a que está olhando fixamente. Seus olhos estão arregalados, sua boca aberta, suas asas estendidas. O anjo da história deve ter este aspecto. Seu rosto está voltado para o passado. Onde diante de nós aparece um encadeamento de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que vai empilhando incessantemente escombros sobre escombros, lançando-os diante de seus pés. O anjo bem que gostaria de se deter, despertar os mortos e recompor o que foi feito em pedaços. Mas uma tempestade sopra do Paraíso e se prende em suas asas com tal força, que o anjo já não as pode fechar. A tempestade irresistivelmente o impele ao futuro, para o qual ele dá as costas, enquanto o monte de escombros cresce até o céu diante dele. O que chamamos de Progresso é esta tempestade".

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