terça-feira, agosto 17, 2010

"Pesos e Medidas" ou o Império Ataca

Resolvi postar um texto do editor Mino Carta da revista Carta Capital. Abaixo segue um "pedaço" da reflexão com uma excelente análise empreendida acerca das entrevistas realizadas pela Rede Globo com os candidatos à Presidência da República. O casal mais ridente do jornalismo brasileiro estava lá ostentando a natural faceirice de superioridade. Ou seja, de quem é detentor da verdade. Modelo de relação. Espelho para as famílias brasileiras. Com relação à entrevista, nada de cordialidades para com Dilma e Marina Silva, que foram "encurraladas". No tocante ao canditato das aristocracias (José Serra), verbalização, mesuras, risos de complacência, nada de interrupções, cortes abruptos. Nada de apertos. Apenas duas perguntas supostamente embaraçosas ao candidato tucano. Já era de se esperar por isso. É de ver o debate que os globais irão promover?!!! Ontem, em pesquisa encomendada pela Rede Globo e pela Folha de São Paulo, Dilma aparece com mais de 10 pontos percentuais de vantagem em relação a Serra. Existe até mesmo a possibilidade da candidata petista vencer no primeiro turno, o que seria realmente extraordinário. O que eles estão pensando em fazer para tirar esta diferença?

Uma outra pergunta: por que não levaram Plínio de Arruda Sampaio ao Jornal Nacional? Medo do discurso com propostas de ruptura do canditato do PSOL? A Globo, sempre a Globo! Quem quiser ler o texto de Mino na íntegra, AQUI.

Em itálico, texto do editor Mino Carta:

[...] Para revidar às perguntas que não são do seu gosto, o candidato José Serra adota uma linha de refinado senso de humor. Anota a repórter Juliana Cipriani, de O Estado de Minas, que Serra “parece ter dificuldade em entender o que dizem os brasileiros ou inventou uma nova estratégia para evitar responder às perguntas que não o agradam”. Em meados de julho passado, em Pernambuco, o repórter de um jornal local dirigiu-lhe uma pergunta sobre o trem-bala destinado a ligar São Paulo ao Rio: obra feita ou tiro de festim? A pergunta deveria ser do seu gosto, pois o candidato é contrário ao projeto. Surpresa. “Não entendi, foi muito sotaque”, decretou Serra. Em Minas, quando um jornalista o questionou sobre recente entrevista de Lula em que o presidente lamenta-lhe a falta de sorte ao enfrentá-lo em 2002 e agora diante de Dilma Rousseff, Serra escandiu: “Esta fala mineira de vocês eu não entendo”. O candidato tucano consegue, porém, ser mais cordato, a depender das situações. Lá pelas tantas desta tertúlia eleitoral, o repórter Fábio Turci dirige a Serra uma pergunta sobre juros. O perguntado não esconde sua irritação, e indaga com a devida veemência: “De onde você é?” Turci esclarece ser da Globo. E Serra, de pronto: “Ah, então desculpe”. Tucano não voa, mas sabe onde pisa. Na noite de 11 de agosto coube a ele ser sabatinado por 12 minutos pelo casal JN, William Bonner e Fátima Bernardes, os sorrisos mais radiosos do Brasil. Antes, a oportunidade foi bondosamente oferecida às candidatas Dilma Rousseff, segunda 9, e Marina Silva, terça 10. Para ambas, um sufoco. As perguntas do locutor que considera Homer Simpson como telespectador ideal foram muito mais esticadas que as respostas, quando estas não foram furibundamente atropeladas. No caso de Dilma, o propósito foi mostrar (ingenuamente?) que ela é ao mesmo tempo uma marionete na mão de Lula e personagem dura, prepotente, mandona. De sorte a suscitar a observação da entrevistada, mais ou menos do seguinte teor: então, como vocês me querem, como títere do titereiro ou como a ministra inflexível que chama às falas os colegas de gabinete? Na vez de Marina, o intuito foi outro: provar que ela saiu do governo por discordâncias sobre a política ambiental enquanto, tempos antes, não se incomodou com o mensalão, o escândalo pretendido e até hoje não provado. A certa altura, a ex-ministra teve de reagir com alguma, insólita veemência, para pedir que a deixassem concluir o raciocínio. Com Serra, na quarta 11, tudo mudou. O casal JN deixou o candidato falar à vontade. E quando a entrevista pretendeu chegar ao ponto de fervura, a pergunta foi: o senhor não se sente constrangido de ter o apoio do PTB, partido metido no escândalo do mensalão petista? Nada do mensalão mineiro nem do escândalo do DEM em Brasília. Maluf e Quércia? Esquecidos. E os votos comprados para a reeleição de FHC? Segundo momento de aperto. Pergunta a evocar os usuários que reclamam dos preços altos do pedágio em São Paulo. Serra ganha a oportunidade de falar mal das estradas federais. Aí Bonner acrescenta: não existe um meio-termo, só dá para ter estradas boas e caras ou ruins e baratas? Serra emenda, feliz, que na última concessão que fez, os preços do pedágio caíram pela metade. Omitiu que os postos de cobrança foram dobrados e ao cabo cita sua origem humilde, estudante de escola pública etc. etc. Só falta chorar. A rapaziada não se dá ao respeito. Quem sabe haja quem se incomoda ao perceber que nos enxergam como malta de idiotas. Esta visão da plateia é própria, aliás, dos jornalistas nativos e seus patrões. Será que não usam na medição o metro recomendável para medir a si mesmos?

Abaixo os vídeos com as extrevistas dos três candidatos conforme a ordem "erigida" pelo Jornal Nacional da Rede Globo. As entrevistas foram realizadas do dia 09 a0 dia 11 de agosto de 2010:

Segunda-feira, dia 9 de agosto de 2010 - Dilma Rousseff (PT):



Terça-feira, dia 10 de agosto de 2010 - Marina Silva (PV):



Quarta-feira, dia 11 de agosto de 2010 - José Serra (PSDB), candidato global. Quem teve paciência de ver aos dois vídeos acima, observe como a tônica da entrevista com o candidato tucano é diferente:



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