quinta-feira, outubro 13, 2011

A natureza e a sua voz silenciosa

Hoje pela manhã, enquanto caminhava para o trabalho, observei que uma mudança se perpetrou nos canteiros e jardins de Brasília. Uma mudança suave, branda, quase imperceptível, que aos poucos vai tomando conta de tudo - a revolução persistente da natureza. Há alguns dias atrás, Brasília era uma braseiro no Planalto Central do Brasil. As gramíneas estavam ressecadas. O calor era insurportável, asfixiante. Uma emanação morna e sufocante brotava do asfalto quente. A umidade do ar dava à Capital Federal características de um deserto.

As feições se contraíam. Reclamações engrossavam o caldo de descontentamento dos brasilienses. Tudo seco. A paisagem era feia. A vida havia se escondido. As árvores nuas, muniam-se com a estratégia que a evolução havia dado a elas - perder as folhas, como se estivessem dizendo: "É necessário polpar energia e água". Curioso.

Mas bastou que as primeiras chuvas surgissem para que uma transformação silenciosa acontecesse. De repente, o verde sai da alcova, tímido, sonolento, e se insinua gracioso. Isso me faz lembrar de uma frase de Victor Hugo: "É triste pensar que a natureza fala e que o gênero humano não a escuta". Assim, como Victor Hugo, eu acredito que a natureza possua uma voz delicada. É uma voz murmurante, quase inaudível, mas que pode ser percebida se prestarmos atenção. Os desastres ambientais e catástrofes naturais que têm se dado a nível mundial, são o resultado da incapacidade do homem de ouvir a natureza.

Não se trata de um pessimismo, mas penso que o erro fatal do homem será continuar com sua gana predadora, desconsiderando todos os gritos, gestos e avisos da natureza. Mas, enquanto ainda posso caminhar, vejo um parto natural sendo gestado e isso enche os meus olhos de alegria.


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