quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Confissão apaixonada!

A literatura é uma vitamina que fortalece as percepções do espiríto. Esta frase canhestra, quase que saída de um protocolo de auto-ajuda me veio gratuita. Não encontro outra para descrever o sentimento que me balança. Lembro de outra mais séria e segura do crítico brasileiro Afrânio Coutinho: "A literatura é transfiguração do mundo". Descobri a literatura muito tarde em minha vida. Queria ter nascido com ela. Gostaria que ela fizesse parte do meu código genético. Que se misturasse aos fluídos do meu corpo. Mas somos resultado de uma interação. E geralmente as coisas se aproximam de nós por causa, na maioria das vezes, de uma confluência sócio-histórica. Ainda bem que ela veio a mim, mesmo que tarde.

Em matéria de conhecimento literário eu não passo de um pedante. Um diletante raso, sem matéria, sem nervos fortes. Sou estreito como um regato em tempo de seca. Não li ainda a maioria dos clássicos universais. Aqueles livros que entraram na categoria de imortais. E quando lemos um livro como O Processo, vem a nós uma sensação de estupidez, de questionamento aniquilador: "Por que você perdeu tanto tempo antes de chegar até este livro?". Apesar de ter lido A Metamorfose há dois anos atrás mais ou menos, somente agora estou lendo O Processo. Este ano ainda quero ler O Castelo e Carta ao Meu Pai, textos célebres de Kafka.

E fica-nos a pergunta: "O que foi Franz Kafka?". Um ateu religioso, criador de mundos repletos de si mesmo? Uma mente complexa que parece antever (no dizer de Lukács) a decadência do mundo burguês? O escritor, nos seus textos, descreve a esquizofrenia do nosso tempo. O absurdo de nossos processos existenciais, ordenado por um poder burocrático invísivel. Somos baratas asquerosas e os outros homens fingem nos aceitar. Gregor Samsa é uma metáfora.

Continuemos a nossa leitura exultando esta descoberta. Ah! a literatura... musa de corpo excitante e intangível.

2 comentários:

charlles campos disse...

Carlino, Kafka bate fundo mesmo. Ainda é um dilema o que ele quis dizer com suas parábolas, e vai continuar por bom tempo. Há, porém, uma literatura excelente em torno de Kafka. Recomendo-te o texto de Walter Benjamin sobre Kafka "Franz Kafka, a propósito do décimo aniversário de sua morte", que consta do livro "Magia e Técnica, Arte e Política" (um amigo disse ter visto esse livro disponível para download, se caso você tenha paciência para ler pela tela). Esse ensaio é maravilhoso, e revela muito de Kafka, coisas que por si só é difícil cogitar Chega a ser tão relevante e soberbo quando a obra de Kafka. O outro, trata-se de "Cartas a Felice", um texto de cem páginas deslumbrante produzido por Elias Canetti, e recém reeditado (depois de anos esgotado, e depois de intermitentes e desesperados pedidos de leitores) pela Cia de Bolso, a preço bom (creio que 29 reais, algo assim). Como todas as paixões, é melhor viver a literatura sem culpa: quando menos você perceber, já será um conhecedor do que há de melhor nela.

Abraços.

Carlinus disse...

Obrigado, Charlles, pelas dicas. O texto do Benjamin eu tenho. Ainda não tive a oportunidade de lê-lo em meio a essa vida agitada. Não conhecia o texto do Canetti. Não esperava alguém como você comentando num espaço simples, despido de sofisticação e profundidade como este. Fiquei impressionado com a sua ousadia no texto sobre Vila-Matas.

Estou sempre acompanhado o seu ótimo blog!

Abraços, Charlles!