domingo, fevereiro 26, 2012

O sabor doce e selvagem de "Morangos Silvestres" de Bergman

Morangos Silvestres, de Ingmar Bergman, está naquela lista de obras imortais. A película sueca de 1957 causa espanto por causa de sua maviosidade poética. A fotografia da obra parece ter sido pintada pelas mãos hébeis do diretor sueco. Após ter visto esse filme na tarde de ontem, fica-me a certeza de que Bergman foi um dos maiores diretores da história (se não o maior).

O que torna Bergman singular é a capacidade de depurar com uma linguagem muito pessoal, fatos marcantes e imprimir no telespectador uma sensação de quietude, de embasbacamento filósofico e teológico. Nunca mais surgiu no cinema alguém com a capacidade de Bergman para fazer filmes no qual o silêncio das imagens, as feiçoes dos atores, sejam capazes de promover "um bem-estar", uma sensação de que estamos diante de uma obra iluminada. A obra de Bergman é um mergulho na alma humana. Seus filmes estão assentados em questionamentos sobre vida, sobre a existência de Deus, sobre o medo da morte (ou a inevitabilidade dela), sobre o caos que habita o interior do mundo humano. Em suma, as perguntas que todos fazem em momentos de perplexidades, mas nunca achamos respostas e seguimos pela vida a fora - "quem somos", "aonde estamos", "para onde vamos".

Não pretendo comentar toda a história da obra, mas Morangos Silvestres é um road movie. Conta a história de Isak Borg (Victor Sjöstrom) e sua viagem de Estocolmo até Lund, onde vai receber um prêmio. Nesta viagem, ele leva a sua nora Marianne, papel encenado pela maravilhosa Ingrid Thulin. A Marianne emcenada por Ingrid Thullin é uma personagem emblemática, seu aspecto denota mistério e uma tristeza de aspectos inifinitos. Um sol velho, numa galáxia abandonada. Uma das cenas mais extraordinárias do filme é quando ela conversa com o marido, filho de Isak Borg, sobre o fato de estar esperando um filho.

É nesta viagem que Isak Borg consegue se conectar ao passado após visitar a casa na qual morou 50 anos antes. A visão que ele tem do passado possui um brilho descomunal. Trata-se de uma viagem espiritual e existencial.

A obra está repleta por uma atmosfera de sonho. Em dados momentos não conseguimos distinguir o que é sonho e o que é realidade.

Abaixo, uma das cenas iniciais do filme. O diálogo entre Isak Borg e Marianne. É possível observar como há um nível de tensão na fala dos atores. Marianne destila uma crueldade misteriosa, com uma habilidade incomum. Sua beleza é misteriosa, todavia seu humor é seco e cortante.


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