(1) Passei uma semana em casa. A escola onde trabalho deu uma semana de recesso. Consegui descansar um pouco da labuta asfixiante. Amanhã, voltarei ao trabalho, rumo ao final de mais um ano letivo. Aproveitei, assim, a semana para ver alguns filmes. Entre eles, pude ver o excelente A culpa é do Fidel (2006), de Julie Gavras, filha do mitológico diretor grego Costa Gavras. O filme retrata a história de Anna (Nina Kervel) que quer compreender todo o celeuma político em que sua família está envolvida. Ela não se contenta com explicações parciais. Quer entender como os adultos que a cercam tratam as questões políticas. Quer saber o que é aborto, comunismo, solidariedade; o porquê dos homens lutarem por determinadas causas; o porquê de ser proibido cultuar determinada religião. A história se passa em Paris, no início dos anos 70, mas o pano de fundo é a luta contra o general Franco e a eleição de Salvador Allende, no Chile. O nome da obra - A culpa é do Fidel - já nos insere nesse universo de conflito contra a ética do socialismo e o mundo infantil. Nesse sentido, após tê-lo visto, fiquei com a certeza de que ele deve ser colocado ao lado de dois outros excelentes filmes, que retratam crianças como sendo o eixo que estabelece uma crítica - Pequena Miss Sunshine (2006) e A Língua das Mariposas (1999).

Na sexta, 18, por exemplo, fui assistir à estreia de Serra Pelada, de Heitor Dhalia, que já havia feito o excelente O Cheiro do Ralo, em 2007. Em O Cheiro do Ralo, Dhalia havia fugido dos convencionalismos e se fiado pela boa criação da ficção que nos enche os olhos. Em Serra Pelada, Dhalia resgatou uma das páginas mais dramáticas da história recente do Brasil, o garimpo de Serra Pelada, no estado do Pará, coração da Floresta Amazônica. O munícipio de Curionopólis, sul do estado do Pará, protagonizou uma corrida ao ouro no início dos anos 80. Estima-se que 30 toneladas de ouro foram extraídos do maior garimpo a céu aberto do mundo. Muitos brasileiros de todas as regiões do país correram em busca do tão propalado ouro. Muitos enriqueceram, mas outros continuaram pobres e tiveram seus sonhos enterrados pelas dificuldades materiais.

Embora reproduza a estética da miséria e da violência, criando uma trama hollyoodiana, a obra é significativa por retratar um evento importante da história do Brasil recente e trabalhar com aspectos tão singulares do mundo humano.
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