domingo, novembro 03, 2013

Mario Vargas-Llosa, um cidadão cosmopolita

Final de semana apenas de trabalho. Corrigindo provas. Elaborando testes para serem realizados nesta próxima semana que se inicia. Sem tempo para ler; para escrever. Apenas operando cálculos e sentenças que aturdem. Desemaranhando sentenças textuais. Acordando muito cedo. Dormindo muito tarde. O cansaço como companheiro infatigável. O mau humor como ferramenta de execução. Penso que esteja estressado. O que me salva é a música, que vou ouvindo para me des-alienar, para me desaturdir. Ai se não fosse ela, evocando Nietzsche e Schubert!!

Mas o fato de comparecer por aqui numa noite de domingo(sic.) é para falar sobre a entrevista que o escritor peruano Mario Vargas-Llosa realizou em maio último ao programa Roda Viva. Já tive a oportunidade de vê-la por duas vezes. E essa experiência me deixou impressionado. Separei duas vertentes do homem Vargas-Llosa após assistir à entrevista: 

(1) o político de posição liberal, crente na democracia como ela se apresenta. Nesse sentido, fiquei desconfiado dele. Não se trata de rechaçar completamente a sua posição; ou excluir completamente as suas ideias. Percebi a sua ojeriza a Hugo Chavez (e a Maduro, sucessor do líder bolivariano) e a Fidel Castro. A crítica aos regimes socialistas. Mas apesar de sua postura clara e honesta quanto a essas questões, o que me deixou impressionado foi a sua transparência, a capacidade de não esconder o seu pensamento político. Outro elemento importante no que diz respeito a isso, é o seu profundo conhecimento da América Latina. Quando menciona algo sobre o continente, fala na perspectiva da irmandade e do conjunto. Enxerga o continente latino-americano como um território que possui muitos elementos em comum.

(2) e o homem da literatura e é justamente esse homem que me fascinou. Apesar de possuir alguns livros dele: Batismo de Fogo, Pantaleão e as visitadoras, Os cadernos de Dom Rigoberto, Peixe na Água - memórias e A Guerra do fim do mundo. Este último é uma das minhas pretensões a futura leitura. O fato é que no próximo mês entrarei de férias e há uma programação com muitos livros a serem lidos: As viagens de Gulliver, umas três ou quatro biografias (Marx, Malcom X, Eric Hobsbawn, Rosa Luxemburgo, Gramsci etc) e muitos outros romances com o mesmo fim - espero que assim seja. Incluí nesta lista, comprei lá na Estante Virtual, Conversa na Catedral. Para muitos, esse é o maior romance escrito pelo peruano ganhador do Prêmio Nobel, em 2010.  Cada frase enunciada por Vargas-Llosa me encheu de admiração e prazer. É gostoso ouvi-lo falar. Suas enunciações revelam um amor profundo pela literatura.

Outra questão importante é o seu amor e conhecimento dos escritores latino-americanos. Falou de Cortázar, Garcia Marques, Neruda - são os que eu consigo lembrar. Cito de cabeça uma das suas frases sobre Borges: "Se existe um escritor latino-americano que, com certeza continuará a ser lido daqui a trezentos anos, este é Jorge Luis Borges". Vale mencionar ainda a sua paixão por escritores brasileiros. Citou pelo menos dois: Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, a quem teve a oportunidade de conhecer. Vargas-Llosa é dono de uma bonomia incrível. É um cosmopolita a serviço do bom senso e da literatura. Mesmo quando não concordamos com ele, baixamos a cabeça em sinal de respeito às suas afirmações claras, polidas, envoltas no mais puro requinte literário. 

Intenções de leitura a fim de conhecer um pouco mais sobre Mario Vargas-Llosa: A guerra do fim do mundo e Conversa na catedral. Oxalá venha a dar certo!

2 comentários:

charlles campos disse...

A festa do bode, para mim, é o melhor dele. Se o ler, terá que estar em férias, pois é magnético.

Tive as mesmas impressões suas quando vi esse programa com Llosa. É o mais completo intelectual da América Latina, grande ensaísta, romancista e crítico literário.

Carlinus disse...


É verdade, Charlles! O cara é um baita intelectual. É gostoso ouvi-lo falar. Uma verdadeira aula de estética da literatura. Quando o ouvimos falar, enchemo-nos de certeza de que ler é uma dos maiores prazeres da vida.

Estou vendo que terei que voltar à Estante atrás de "A festa do bode".

Uma pergunta: qual livro você não leu, Charlles?

Abração!