É
inadmissível que trabalhadores, pessoas que acordam cedo, pagam seus
impostos, lutam por um país mais justo, admitam esse palco farsesco que
se presenciou na noite de domingo. Chegamos ao fundo do poço de nossa
infâmia, de nossa inanição moral e intelectual. Como bem enfatizou Jean
Willys: "Uma Casa formada por analfabetos políticos"; uma Casa liderada
por um mafioso, capaz de arregimentar como feiticeiro o baixo clero e
prometer-lhes o vil metal que quebranta toda possibilidade ética, e
julgar e decidir o destino de um país com mais de duzentos milhões de
pessoas. Ou como disse outro deputado do Psol: "Uma Casa presidida por
um gângster". Não existe pior melancolia, pior ressaca existencial do
que esta. A nossa fauna rupestre de mentes tacanhas, inflamados pela
violência; legalistas que invocam deus, torturadores, assassinos,
cafetões, oportunistas, párias ideológicos, infames, esquisoides,
mandriões farsescos, finórios de carteirinha; que homenageiam
"corretores de imóveis", "o filho", "o cachorro", "os médicos", mas que
não embasam o voto de acordo com as finalidades do debate; esse
exercício seria impossível para alguns, pois o baixíssimo capital
cultural não permitiria. Como bem afirmou o jornal argentino Página 12, um parlamento formado por "escravocratas", filhos e herdeiros da casa grande. Uma aliança corrupta, firmada na luxúria ménage à trois entre
a mídia golpista, setores atrasados da política nacional e das elites
nacionais e admitida pela servil e ignorante classe média.
Os
deputados que votaram pelo "sim" sabem o querem: fazer parte da
composição do novo governo que será montado de forma ilegítima. O bolo
já foi fatiado. Os ministérios e secretarias já foram fracionados. Eles
foram para o plenário com os conchavos já montados. Aproveitaram a noite
para aparecer no telão, talvez, numa das poucas oportunidades que terão
na vida política. Nos dias normais, essas figuras se escondem no
submundo da Câmara. Fazem migrações e engendram negócios espúrios contra
o povo.
O que não é aceitável é vê trabalhadores coadunando com esse "show" de horrores. Quem está sendo violado, estuprado, é o Estado Democrático de Direito; os direitos trabalhistas; a nossa rala e inconsistente democracia; as conquistas sociais para os grupos olvidados deste país; a dignidade dos negros, índios, mulheres humildes, analfabetos, crianças e adolescentes; a comunidade LGBT, os quilombolas, os deserdados e desesperançados; aqueles que dependem do SUS. Aqueles que disseram "sim" não votaram pelo povo, pela justiça. Votaram pelas suas famílias bem assistidas, que comem todos os dias, que quando passam mal vão a um hospital particular; que estudam nas boas escolas privadas do país. Como diria o velho Marx "a história se repete como farsa".
Chegará o dia que muitos trabalhadores, que firmaram posição contra o governo, ludibriados pela mídia, arrepender-se-ão da esparrela em que se meteram, do projeto criminoso que apoiaram. Se eles soubessem os conchavos que estão sendo costurados nas masmorras do Congresso Nacional contra os trabalhadores, sairiam às ruas para que mais da metade da Câmara e do Senado acertasse contas com a justiça, para que Dilma não fosse vítima dessa encenação burlesca.
O que não é aceitável é vê trabalhadores coadunando com esse "show" de horrores. Quem está sendo violado, estuprado, é o Estado Democrático de Direito; os direitos trabalhistas; a nossa rala e inconsistente democracia; as conquistas sociais para os grupos olvidados deste país; a dignidade dos negros, índios, mulheres humildes, analfabetos, crianças e adolescentes; a comunidade LGBT, os quilombolas, os deserdados e desesperançados; aqueles que dependem do SUS. Aqueles que disseram "sim" não votaram pelo povo, pela justiça. Votaram pelas suas famílias bem assistidas, que comem todos os dias, que quando passam mal vão a um hospital particular; que estudam nas boas escolas privadas do país. Como diria o velho Marx "a história se repete como farsa".
Chegará o dia que muitos trabalhadores, que firmaram posição contra o governo, ludibriados pela mídia, arrepender-se-ão da esparrela em que se meteram, do projeto criminoso que apoiaram. Se eles soubessem os conchavos que estão sendo costurados nas masmorras do Congresso Nacional contra os trabalhadores, sairiam às ruas para que mais da metade da Câmara e do Senado acertasse contas com a justiça, para que Dilma não fosse vítima dessa encenação burlesca.
Uma digressão
Historicamente,
o Brasil sempre foi um país dividido. As imagens que alimentamos da
política e das relações sociais servem para mostrar o quanto a nossa
sociedade se pauta pela violência em todos os sentidos. E essa violência
é usada para estabelecer conexões com a vida social. O Brasil ainda não
rompeu com os efeitos da casa grande e da senzala. Então, muitos
setores da sociedade, principalmente, a classe média, principal agente
de reificação do “status” das elites, é a cimentadora dessas
contradições. Existem dois problemas nesse sentido:
(1)
ela é vítima de sua própria ignorância. Suas pretensas vantagens não a
tornam em uma entidade autônoma dentro da sociedade de classes. Ela
também é explorada. Vende a sua força de trabalho. Ocupa determinados
cargos do alto funcionalismo público; algumas profissões liberais como a
de advogados, médicos, dentistas etc. Acham-se “livres”, todavia, esses
indivíduos não fazem parte da dança do grande capital, necessariamente
fator de relação nas grandes corporações.
(2) Alguns setores, arrimados na violência, fazem escolhas alienadas, ou seja, se tornam algozes. Esses grupos ostentam signos de “status”. Gostam de exibir determinados privilégios. Usam a violência como mecanismo de orientação social – por isso, o apoio à redução da maioridade penal, desejo que o país adote a pena de morte, o apoio a pilantras nazistas como o Bolsonaro etc e todo tipo de ação que leve ao não empoderamento dos mais necessitados. Têm raiva da diversidade social, do diferente. Criminalizam as políticas sociais. Chamam os programas sociais de assistencialismo, por entenderem que “a força vem do trabalho”, todavia, não sabem que o “trabalho” de que falam é o trabalho alienado. Chamam governos progressistas de populistas, um discurso que faz parte do ideário das elites da América Latina. Têm raiva dos índios, dos negros, das mulheres humildes, da comunidade LGBT, dos sem-terra, dos sem-teto, dos necessitados plurais do nosso país. A classe média paulista, por exemplo, entregou o que tinha de ouro em 1932 e 1964, para que o país enfrentasse “a ameaça vermelha”. Todavia, quando olho para isso, não consigo deixar de enxergar o duplo caráter de que falei acima – a ignorância, fruto da alienação, leva, necessariamente, ao chancelamento da violência e do obscurantismo.
(2) Alguns setores, arrimados na violência, fazem escolhas alienadas, ou seja, se tornam algozes. Esses grupos ostentam signos de “status”. Gostam de exibir determinados privilégios. Usam a violência como mecanismo de orientação social – por isso, o apoio à redução da maioridade penal, desejo que o país adote a pena de morte, o apoio a pilantras nazistas como o Bolsonaro etc e todo tipo de ação que leve ao não empoderamento dos mais necessitados. Têm raiva da diversidade social, do diferente. Criminalizam as políticas sociais. Chamam os programas sociais de assistencialismo, por entenderem que “a força vem do trabalho”, todavia, não sabem que o “trabalho” de que falam é o trabalho alienado. Chamam governos progressistas de populistas, um discurso que faz parte do ideário das elites da América Latina. Têm raiva dos índios, dos negros, das mulheres humildes, da comunidade LGBT, dos sem-terra, dos sem-teto, dos necessitados plurais do nosso país. A classe média paulista, por exemplo, entregou o que tinha de ouro em 1932 e 1964, para que o país enfrentasse “a ameaça vermelha”. Todavia, quando olho para isso, não consigo deixar de enxergar o duplo caráter de que falei acima – a ignorância, fruto da alienação, leva, necessariamente, ao chancelamento da violência e do obscurantismo.
Estou
triste e decepcionado, mas sereno. Sou sabedor de que a história é
resultado da luta de classes; que não existem lances fáceis e gratuitos.
A dialética da história não nega os seus movimentos.
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