sexta-feira, abril 08, 2016

"Fome de Saber - a formação de um cientista", de Richard Dawkins

"Todos nós podemos nos considerar improváveis", Richard Dawkins.

Há mais de um mês fui à Livraria Cultura. Perambulei por entre as estantes como sempre faço. Permiti que os meus olhos passeassem pelas pilhas de livros, que ficam logo à entrada, ostentando os lançamentos. Os livros são dispostos em círculos. São três ou mais círculos. São verdadeiros chamarizes. Entre os muitos livros que encontrei, estava "Fome de Saber - a formação de um cientista" (Companhia das Letras), de Richard Dawkins.  Quando o vi, imediatamente coloquei o livro embaixo do braço. Não li nada dele - orelhas, contracapa, introdução... Desejei fazê-lo mais tarde. Sabia apenas que se tratava de material relevante. Naquela ocasião estava lendo Kafka e Graciliano Ramos, por isso, não comecei a leitura imediatamente.

Richard Dawkins é uma figura importante e internacionalmente conhecida. Sua militância é conhecida, seja em debates, palestras ou seminários. O cientista inglês é um dos mais conscientes ateus da atualidade. Não apenas isso, pois ele é um militante da causa ateia. Como em "Deus, um delírio", Dawkins mostra o quanto a religião institucional traz malefícios para a humanidade. "Fome de Saber" é uma autobiografia - sua aguardada autobiografia. Como é característico do autor, o livro possui uma linguagem simples, leve, convidativa. É possível ficar por boas horas lendo sem perceber a passagem do tempo. 

Dawkins começa a contar a história de sua vida, fiando-se pelos costumes bretões. É importante para ele contar certos feitos traditivos de sua família. Busca na história, que chega até o século XVI, o nome "Dawkins". Essa incursão genealógica é relevante para as figuras do Velho Mundo. Nós brasileiros não temos essa preocupação. A história não é um elemento no qual prestamos atenção. Não buscamos encontrar nela os caminhos que nos trouxeram ao presente. Sendo um cientista, Dawkins sabe muito bem analisar a evolução de sua história.

Como era filho de um militar, Dawkins passou boa parte de sua infância no centro-sul do continente africano. Seu pai estava a serviço do seu país. Ele morou em Uganda, Malaui, Tanzânia, África do Sul. Sua vivência com a riqueza natural talvez o tenha preparado, inconscientemente, para a biologia. Dawkins conta que aquilo era um grande prazer. Tanto é assim, que as viagens módicas que realizava para a Inglaterra a fim de visitar os avôs não possuíam o sabor que deveria ter. O clima e a natureza inglesas não davam o prazer sensual que ele sentia quando estava no continente africano. O livro traz algumas fotografias. Entre elas, é possível encontrar algumas de sua residência na África. 

Quando a Guerra acabou, Dawkins voltou para a Inglaterra. Seu pai comprou uma propriedade no interior do país. É o período em que o cientista estabelece contato com o ensino inglês. É numa dessas instituições que ele nos conta como perdeu a fé. Vale fazer uma digressão para contar que Dawkins foi um fervoroso crente na fé cristã quando jovem. Fazia suas orações. Frequentava os cultos da Igreja Anglicana. Cantava no coral da Igreja. Mas, o contato com a ciência fê-lo desistir da fé. Passou a não haver mais sentido para o conjunto de crenças em dogmas que arrimam a fé cristã. Em determinado culto, enquanto todos se ajoelhavam, ele permaneceu de pé, com os braços cruzados. Ele estava a sua nova forma de experimentar a religião - com frieza, tentando discerni-la por meio da razão.

Na segunda parte do livro, o escritor descreve a sua vida como pesquisador. As engenhocas inventadas na Academia. Sua paixão pelos computadores. A descoberta do darwinismo. O emprego conseguido em uma universidade dos Estados Unidos. Na segunda parte, há mais descrições da sua teoria, ou seja, de como ele chegou a escrever a sua grande obra, a saber, O gene egoísta, que o projetou para o mundo e o tornou um dos principais cientistas do século XX. 

Dawkins termina o livro com a promessa que haverá continuação da sua autobiografia, ou seja, um segundo livro. 

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