sábado, abril 07, 2018

Brasil: cada vez menor

Hoje é um dia bastante triste. A tristeza sempre nos acomete quando algo traumático nos acerta; ou quando algo importante é arrancado de nós, deixando um espaço enorme. É assim que me sinto neste momento. É inglório viver em país que não decola, que não permite avanços democráticos, que não admite mudanças sociais; um país em que aqueles que ousam enunciar um discurso heterodoxo acabam por amargar o ostracismo político; um país cuja mesquinhez de sua burguesia impede qualquer avanço no campo democrático.

A prisão de Lula no dia de hoje possui um significado simbólico. Lula é o maior líder popular que as forças populares desse país já produziram. Não existe outro nome. Nordestino pobre. Retirante como tantos outros "severinos" (como afirma João Cabral de Melo Neto) que saem daquela região  à procura de novas oportunidades. De família enorme, começa a trabalhar muito jovem. Ingressa num curso técnico. Faz-se na atividade sindical. Passa a ser respeitado. Organiza uma greve geral. É preso em plena Ditadura Militar. Percebia-se que ele não era um mero "joão-ninguém". Com as forças populares e setores amplos da classe trabalhadora, fundo o Partido dos Trabalhadores (PT). O Partido tornou-se grande. Ocupou um espaço importante da vida política nacional. Engajou uma militância aguerrida. Na verdade, o PT é o que de mais sólido a esquerda produziu em quinhentos anos de história.

A partir de 1989, Lula começa a participar das campanhas presidenciais. Essa participação se efetiva de maneira inglória até 2002, ano em que o PT ganha. Antes disso, ele perdera para Collor (uma vez) e Fernando Henrique (duas vezes). O Governo é marcado por uma coalizão com partidos de esquerda e de centro; por partidos abutres e oportunistas. Lula foi crédulo demais. O grande líder ganhou um grande condomínio para presidir, sob uma condição: que alguns andares não fossem desfeitos, ou seja, que a velha burguesia nacional não perdesse os seus privilégios. O governo do PT foi um governo resignado a algumas condições. As tímidas políticas sociais do governo Lula causaram uma impressão negativa nos donos do condomínio. Talvez, essa seja uma das principais causas do ódio que existe ao PT. Viveram-se dias de um forte otimismo. Achávamos que dessa vez o país decolaria. Todavia, por causa de sua burguesia ranzinza, invejosa, predatória e insensível, o país foi obrigado a ser o que sempre foi: um campo fértil de desigualdade e privilégios mesquinhos.

Com o fim do governo Lula, Dilma Rousseff assume a condução do país. Era a terceira vitória do Partido dos Trabalhadores. Esse fato já demonstrava uma contrariedade de determinados setores do capital. Em 2013, as manifestações que aconteceram em julho foram decisivas para influenciar as eleições de 2014. Mesmo com a campanha sórdida da mídia contra a reeleição da presidenta Dilma, ela ganhou, mas não conseguiu governar um único dia até o seu escandaloso impeachment, em 2016. 

A deposição de Dilma foi só o início. Foi apenas um aspecto do golpe. Era necessário mais do que isso. Era necessário impedir a maior ameaça aos grandes oligopólios. O maior medo é de ter um governo que possui resplandecências populares como foi o governo do PT, mesmo que o lulismo tenha promovido uma política de não agressão aos interesses do grande capital.

A mídia, um dos braços dos poderosos desse país, orquestrou uma campanha sórdida contra o PT. Desde 2014, não há um único dia que a mídia não tornem o PT e o seu líder Lula em notícia negativa nos seus jornalões. Setores inteiros da classe média - que não se reconhece trabalhadora - "consolidou" um movimento urdido pelo grande capital. As instâncias políticas fizeram um pacto agressivo contra o Partido dos Trabalhadores. O ódio se acirrou. Doses enormes de fascismo tomou o país.

Afirmar que o PT é um partido vendido à corrupção é uma das maiores baboseiras que existem. É lugar-comum rasteiro; argumento de sarjeta. É uma tentativa de criminalizar a esquerda. Os próprios agentes do estado (vide Ministério Público) criaram epítetos perigosos como, por exemplo, "organizações criminosas". Chamar um partido de "organização criminosa" é colocar em aberto ataque a democracia do próprio estado burguês. Já haviam feito isso com o Partidão (PCB) no passado.

O problema do PT foi aceitar, de maneira crédula, a relação de compadrio com as forças antipopulares. A corrupção é a tática utilizada pelas oligarquias que sempre buscaram se apropriar da condução política do país - custe o que custar. E, nesse sentido, é importante que fique claro que, a crítica ao lulismo deve ser feita. Mas, não se deve olvidar o homem Lula. Aqueles que aplaudem a prisão do Lula não entendem a força simbólica daquilo que ele representa para as camadas populares do Brasil. Lula é a maior liderança popular que esse país já produziu. Zumbi, Antônio Conselheiro, Getúlio Vargas, João Goulart e, agora, Lula são nomes que foram imolados pelas arbitrariedades da burguesia brasileira. Ou seja, todos aqueles que se levantam oferecendo um grito contrário aos desmandos das velhas oligarquias do estado burguês, acabam sendo abafados pela violência das instituições do estado brasileiro. 

Triste saber que um homem como ele - septuagenário - , ficará impedido de participar das lutas do povo. A conjuntura indicava que assim como, deu-se em 1950, com Getúlio Vargas, Lula seria um forte candidato a ganhar a eleição de outubro de 2018. Triste! Viver em um país como o Brasil ter a certeza da instabilidade - de que não é possível alimentar esperanças nem ter sonhos. Somos o país da rasteira, do tapete puxado de maneira absurda; país dos voos de galinha; um país que se torna cada dia menor - e mais difícil de se viver.


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