quarta-feira, março 06, 2019

Paulo Guedes, uma gestão para fabricar miseráveis


Em artigo monumental assinado por André Araújo para o GGN, encontramos uma funda e lancinante análise sobre o incensado ministro Paulo Guedes, o “posto Ipiranga” do governo Bolsonaro e sobre a Escola de Chicago. Se tivesse sido coerente consigo, Bolsonaro não teria escolhido Paulo Guedes para ser o seu todo-poderoso Ministro da Fazenda. Vale lembrar que Bolsonaro foi um duro crítico das privatizações da era FHC. Ele sabia que para ter estofo, criar condições de elegibilidade e sustentabilidade de um suposto governo, teria que convidar alguém que fizesse amplas e irrestritas sinalizações para o mercado.

O início do governo Bolsonaro tem sido marcado por uma sucessão de qüiproquós. Percebe-se uma inabilidade administrativa de muitos dos ministros. Alguns são meros sabujos; outros, estão comprometidos com o obscurantismo; são antípodas da civilização. Negam evidências científicas. Radicalizam ideias numa fixidez infantil.

Um dos mais badalados é Paulo Guedes, o guardião das joias da coroa. Desde a campanha, Bolsonaro deu carta branca para que o banqueiro realize as reformas de que o mercado necessita. Todavia, aquilo de que o mercado necessita, não necessariamente está harmonizado com as demandas da sociedade. Administrar um país não é o mesmo que gerir uma empresa. Um país desigual como o Brasil exige que certas demandas sejam resolvidas com certa urgência.

O interesse do mercado é gerar riquezas para entes privados. Os benefícios para a sociedade acontecem por tabela, por consequência indireta. Para que o projeto de desmantelamento dos direitos sociais assegurados na Constituição e das riquezas do estado estejam à serviço do mercado é preciso flexibilizar direitos. O eufemismo, figura que consiste no abrandamento de uma expressão, utilizado para a consecução desse projeto é “reforma”. As reformas são necessárias, mas desde que beneficiem ou incluam os mais pobres. País rico não é aquele que produz riquezas para os ricos apenas, mas é aquele que consegue tirar o maior número de miseráveis da pobreza.

Paulo Guedes é sacerdote do deus mercado. Seu mantra é a privatização de tudo; a entrega das riquezas produzidas coletivamente para as mãos de poucos. Uma lipoaspiração profunda do estado. Cada um é o senhor de si, segundo a concepção ultraliberal de Guedes, capaz de colocar em prática a livre iniciativa. Guedes esquece que em um país, com o número de desempregados, ou de pessoas jogadas na informalidade, o mercado não é o mecanismo adequado para selecionar o problema. O receituário do Chicago Boy só gerou perdas e tragédias sociais onde foi aplicado. Uma vez que seja aplicado do modo como o mercado deseja, teremos uma geração de desvalidos e miseráveis, com menos serviços públicos, com degradação ambiental, violência, repressão e as expectativas cinzentamente melancólicas sobre o futuro. 

Das catacumbas de Chicago, uma política de exclusão social – a história cobrará seu preço

O Ministro Paulo Guedes acredita que o Estado não é necessário para amparar os excluídos da prosperidade, MAS ele estudou na Universidade de Chicago com uma bolsa da CAPES, portanto paga pela Estado brasileiro. Não é uma incoerência? É evidente, mas como procurar coerência em quem não tem a mínima noção de seu País? A visão dele é de mercado, ele é um homem de mercado e não de Estado, a partir do Plano Real a economia do Brasil é regida por “homens de mercado” e não por homens de Estado, com Paulo Guedes se chega a expressão máxima dessa anomalia.

A Escola de Economia de Chicago está HOJE absolutamente fora da corrente mais moderna do pensamento econômico nos Estados Unidos.

É uma doutrina que já estava fora da logica econômica ANTES da crise financeira de 2008, mas a partir dessa catástrofe, salva pelo Estado, a escola de Chicago foi enterrada, ninguém mais a leva a sério suas cartilhas démodées, sua visão simplista de mundo que nem aos EUA serviu. Teve um fugidio ciclo de gloria nos anos 70 e 80 nos governos Thatcher e Reagan com desdobramento nos porões do governo Pinochet no Chile mas mesmo no Chile o almanaque de Chicago foi arquivado com a queda humilhante do Ministro da Fazenda Sergio de Castro em 1982, um ícone de Chicago,   episódio que aqui no Brasil os Chicago-boys jamais contam, o plano neoliberal da gestão Sergio de Castro, tão elogiado por quem não conhece a estória inteira, fez agua, levou o Chile a uma mega crise financeira e politica e  uma completa troca da equipe econômica, o novo Ministro foi o General Enrique Montero, cuja politica foi um reverso da anterior com o  ápice numa crise cambial incontrolável, lembrando o que ocorreu com a gestão Gustavo Franco no BC do Brasil.

A escola de Chicago no Chile conduziu a economia chilena ao desastre, Pinochet trocou de política muito antes de cair, lá NÃO foi um sucesso.

Mas em Chicago uma curiosa recorrência aconteceu. Os alunos medíocres de Milton Friedman, muitos deles brasileiros, puseram na cabeça somente alguns capítulos de sua cartilha. Friedman era muito mais inteligente que seus alunos e ele tinha perfeita consciência das limitações da economia de mercado para organizar uma sociedade. Friedman foi um dos primeiros proponentes de um mecanismo de amparo social aos que não conseguem competir por limitações que são da própria natureza e não de culpa individual e para esses desafortunados Friedman defende o amparo do Estado, seu modelo é uma raiz da ” bolsa família’. Essa parte das aulas de Friedman os fanáticos da economia de mercado não aprenderam e não repercutem. Também não contam o final da vida de Friedman, que reviu muitas de suas lições em longas conversas com Alan Greenspan, que mostrou a Friedman a complexidade operacional da política monetária que ia muito além do que Friedman, um acadêmico puro, pensava.


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