terça-feira, dezembro 06, 2022

"O Barba Ruiva", de Akira Kurosawa


Domingo, tive o privilégio de assisti ao longa “Barba Ruiva”, de Akira Kurosawa, de 1965. Após ter iniciado em três outras ocasiões – mas sem sucesso -, à tarde, demorei-me por um bom tempo no sofá, acompanhando a bela e delicada obra do mestre japonês. É um trabalho lento, sinuoso, que aposta em planos escuros. Uma fotografia bela e digna de Kuroswa. Exige-se atenção para que se consiga acompanhar os diálogos nas mais de três horas do filme.

No Japão do século XIX, um jovem e ambicioso e altivo médico recém-formado, procura trabalhar para um “shogum”. Isso permitiria tranquilidade e uma possibilidade de ascensão na carreira. Todavia, acaba sendo designado a desenvolver as suas atividades em uma aldeia, num hospital que atende pessoas pobres, exposto às experiências mais dramáticas e desafiadoras. Neste hospital, ele vai trabalhar sob a supervisão do doutor Niide (Toshiro Mifune), conhecido pela alcunha de “barba ruiva”. O médico é respeitado pela firmeza moral e pela postura humanista. Niide procura mostrar ao jovem médico que por trás de todo paciente existe um ser humano, alguém que precisa ser atendido com desprendimento, com carinho, com os rigores de uma solicitude que suprime o preconceito e a indiferença. O filme deveria ser obrigatório para todos aqueles que desempenham uma função de atendimento ao público, principalmente médicos.

“Akahige” (em japonês) é uma obra que aponta para uma crença profunda na humanidade. É o sensível olhar do diretor para a fragilidade da vida; e como ela não pode ser colocada em um segundo plano. A vida é um exercício que desenvolvemos e que, só passa a ter sentido, quando a realizamos com altruísmo e simpatia.

“Barba Ruiva” é a última obra que Kurosawa realizou ao lado do genial ator Toshiro Mifune. O filme demorou dois anos para ficar pronto. Kurosawa levou a paroxismos a dimensão dos detalhes. Prendeu Mifune em um contrato, que não permitia que o ator realizasse outros trabalhos. Isso acabou por gerar contendas recíprocas. Ao final, os dois cindiram as relações. Não mais trabalhariam juntos. Uma perda irreparável.


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