sábado, dezembro 10, 2022

Um comentário sobre a Bíblia

                          

Hoje, enquanto ziguezagueava pelo Facebook, encontrei uma reportagem da BBC Brasil a respeito do dilúvio contadopela Epopeia de Gilgamesh, um fascinante relato sobre como se deu a luta entre homens e deuses nos primórdios dos tempos. A reportagem chamava a atenção para o fato de que, a Epopeia que é muito mais antiga que os relatos bíblicos, já descrevia a existência de um dilúvio com características bem próximas daquelas aludidas no texto bíblico do Gênesis.

Li certos comentários – poucos. Alguns que questionavam a autoridade da Bíblia; já, outros, enaltecian sua suposta grandiosidade. Vivendo em um país cristão e, deveras, religioso, é algo natural que se faça uma defesa apaixonada de suas prerrogativas. Também deixei um comentário. Ei-lo abaixo:


A Bíblia é a experiência religiosa de um povo, no caso, os judeus, que foi transformada em registro sagrado. O que há na Bíblia é antropologia. É o desejo do homem em alcançar a eternidade. É a fé erguida por meio da linguagem. Boa parte dos escritos bíblicos está eivado de relatos mitológicos, principalmente, certos trechos do Antigo Testamento. Dizer que a Bíblia foi escrita por mais de 40 escritores diferentes; que os relatos compreendem mais de 3 mil anos; que ela mudou gerações, civilizações, não quer dizer nada. Na Índia, o Bhagavad Gita também tem mudado gerações; o Alcorão, também, tem feito isso no mundo islâmico. O cristianismo se tornou uma religião hegemônica no Ocidente. Durante muito tempo, nascer no Ocidente era automaticamente se tornar um seguidor de Jesus nos seus mais variados eixos - católico, protestante, ortodoxo etc. Quem não o fizesse era perseguido sob o risco de perder a própria vida; ou pagava duramente com o ostracismo social e político.

Os judeus, um dos povos mais fracos da Antiguidade, que não tinham nada de mais a oferecer; que não possuíam um exército forte; que não manobravam em rotas comerciais pelo Mediterrâneo à semelhança dos fenícios, foi dono de uma das maiores estratégias da história da humanidade: que foi fundação de uma religião nacional monoteísta sob a égide de Javé. Daí pra frente, nós conhecemos o resultado. Dizer que a Bíblia transforma as pessoas que são expostas a ela também não quer dizer nada. Como um livro compilado por uma série de eventos, o principal ator nas suas páginas é o ser humano com todas as suas fragilidades e fragmentações, diante do desejo, do medo, da angústia, diante do numinoso, como diria Rudolf Otto.

P.S. Além disso, encontrei esse vídeo entusiasmante e esclarecedor no Facebook sobre a famosa Epopeia e sua relação com a Bíblia.

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