Não existem governos perfeitos e invulneráveis - ainda mais quando se
trata do Brasil. Quando se fala de um governo, penso que a análise deve ser da
"forma" e do "conteúdo".
É importante lembrar o que foi o ano de 2013 e o estrago que a Lava Jato
provocou na política nos últimos anos. Observe como passamos a lidar com a
política. Note que desde o golpe contra a Dilma, os governos foram ruins na
forma e no conteúdo. Com relação ao governo Lula 3, há algumas aberrações na
forma, mas há coisas necessárias no conteúdo. Quiçá você não concorde com o meu
argumento, entretanto não existia outro nome e outro projeto que pudesse
desfazer o esfacelamento pelo qual o Brasil passou nos últimos quatros anos.
O radicalismo é
uma doença infantil. É importante não medir o atual governo por causa da práxis de alguns radicais. O governo
possui boas intenções. Há um quadro com importantes e respeitáveis nomes. Se há
erros, é da competência do próprio governo resolver essas pendências. Há um
Congresso adverso e imoral. O compromisso do Centrão não é com o Brasil.
No Brasil,
existe uma mídia canina, ciosa dos interesses do mercado. No fundo, essa
midialona gostaria que o Bolsonaro tivesse vencido o pleito eleitoral do ano
passado, pois a lógica segundo eles é: eu não importo com a "forma" -
se ele é um não democrata; se ele é limitado, misógino, anti-indigenista, preconceituoso -; o importante é saber se o conteúdo nos privilegia - se continuaremos
lucrando; para esses arrivistas, pouco importa se haverá desmantelamento do
estado, das leis trabalhistas; se o povo vai ficar mais pobre; se vai comer ou
não comer. Em um país como o Brasil, escravocrata e violento por natureza, um
governo que carrega o emblema "de popular" não será bem aceito.
Há uma
entrevista do Lira Neto no Foro de Teresina que reflete a grandeza e as
contradições de Lula. A entrevista procura fazer aproximações entre Lula e Getúlio;
e como cada um lidou com as crises políticas que enfrentaram. Não existem nomes
mais densos, sagazes e com uma visão política tão ampla na política brasileira
quanto os dois. Lula é um estrategista. Confesso que ele começou bem esses
quase três meses de governo. Não teria como ser diferente com um Congresso como
o que temos e com uma conjuntura tão adversa como a que se mostra.
Penso que a
tarefa histórica do Lula 3 é resgatar a política do possível. Lula só venceu a
eleição por causa da astúcia política que possui. Esquece-se de que a frente
montada por Lula é resultado de uma conciliação política. O objetivo era
derrubar a caquistocracia erguida por Bolsonaro e sua trupe. É preciso ter um
pouco de paciência. Lidamos, nos últimos quatro anos, como diria Joseph Conrad
em “O coração das trevas” com “o horror”.
Impressiona
como, no presente, utilizam o udenismo para fazer crítica. É aquela velha
fantasmagoria de um moralismo montado contra a corrupção. Às vezes, esses
mesmos atores se munem de um discurso que, no fundo, carrega a anomalia
queixosa e hipócrita montada por Carlos Lacerda. Note que a beligerância
estruturada contra o governo repete os mesmos elementos do passado. Trata-se de
uma recorrência trazendo à tona um moralismo requentado, colocando em disputada
‘Estado versus mercado’; ‘capitalismo versus comunismo’; ‘valores cristãos
versus imoralidade de esquerda’. Há sempre um maniqueísmo em jogo; uma prática
baseada no cancelamento. E, no fundo, essa gente é saudosa da Ditadura, da
escravidão, da violência institucional; do desmatamento das políticas públicas; da posse do
latifúndio; do mandonismo; da não-democracia.
E, com isso,
condena-se um projeto de governo que é amplamente desenvolvimentista e
nacionalista. Lula é um dos presidentes mais capitalistas que já governaram o
Brasil. Lira Neto diz que Getúlio
costumava questionar: “Por que esses caras não me dão paz? Será que esses
tubarões do capital não percebem que eu quero salvar o capital pra eles?”.
Penso que o Lula faça os mesmos questionamentos.
Lula não é um
disruptivo. É um conciliador. Penso que temos mais a ganhar com ele do que sem
ele.
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