quinta-feira, janeiro 10, 2008

A minha solidão de todas horas

"Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia". (Nietzsche)

Meus sentidos soluçam,
Sussurram, gemem.
Um astro abandonado numa galáxia
Fria, obumbrada, distante.
As desarmonias, a inconstante leveza.
Os meus silêncios como companhia.
Pirilampos tímidos a iluminar os
Meus pensamentos.
Os meus vales secretos,
Escolas estéticas.
Metáforas coloridas, representações
A me dominar por completo.
Música, acalanto, poesia.
A solidão transforma os homens em
Monges veneráveis.
A sisudez, a reflexão, o olhar
Projetado para dentro de si.
Não penso sobre desarmonias.
Eu sou a desarmonia, o encontro e desencontro.
O espelho projeta mais perguntas
Do que respostas.
A solidão nos ensina a ouvir
Mais do que responder.
Fala muito quem não houve muito.
Acusado de louco, demente, doente,
Vivo só, mas como se andasse em
Bandos.
Há aqueles que andam em bandos,
Mas estão sozinhos.
Para mim tanto faz.
O mundo é uma estrada solitária.
As presenças que se insinuam,
São efêmeras – um sol de inverno.
Ah! Solidão, companheira, amiga,
Filósofa, ensinas-me mais do que
Todas as bibliotecas.
Tu me ensinas e me habitas.
Contigo vivo existencialmente
Entre montanhas geladas, silenciosas.
Os seus cimos brancos, tempestuosos.
Habitada por fiapos brancos da neblina
Metafísica do mistério.
Não falo por conceitos, mas por metáforas.
Porque a metáfora é o cimento que estrutura
E dá sustentação ao texto do poeta.
Os homens lá foram caminham distantes, errantes,
Em suas rotas transviadas.
Escutam, mas não ouvem;
Vêem, mas não enxergam.
A arte é uma senhora que gosta das paisagens
Calmas, tranqüilas, solitárias.
Ela habita as coxilhas indivisas do infinito.
A minha solidão é um portal
Dimensional para esse mundo
De delícias.
A vida possui fenômenos trágicos.
Todos eles são belos porque nos
Mostram quem somos.
A paisagem ao lado se extingue
Na memória,
Mas revive na existência.
A solidão é emplasto que cura
Minhas oncoses relacionais.
Os contágios, os contatos insuficientes,
Os encontros vazios.
Não me chames para fora,
Quando aqui dentro eu sou
Habitado por todas as paisagens
E prazeres do universo.
Aristóteles, aquele citadino disse
Certa vez que o homem é um
Ser social;
E: que somente um deus ou um
Estúpido tinha prazer na solidão.
Nietzsche acrescentaria:
“Este homem seria um poeta ou filósofo”.
Aquele ente de Estagira era um homem
Da pólis com os seus sonhos
De cidadania.
Por isso escreveu “A Política”.
Aquilo era um tratado de como
Os homens deveriam ser portar
E serem bons cidadãos para que a
Democracia ateniense funcionasse.
Os gregos apolíneos gostavam da ordem,
Da harmonia, da virtude, das certezas balofas,
Dos pensamentos retos e planos, cultuavam
As aparências e esqueciam o trágico da
Existência.
Rechaçavam toda forma de embriaguez,
A lucidez deles estava a serviço do nada.
A solidão me envolve e me lança em
Lagos de reflexão.
Águas profundas, turbadas pelo mistério.
Por infinitas possibilidades.
Pelas estradas que se perdem no horizonte
E pedem para que eu caminhe por elas.
Mas eu tenho somente dois pés
E a certeza infinita das minhas limitações.
Tenho uma companhia perene:
A minha solidão de todas as horas.

Por Carlos Antônio M. Albuquerque

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