segunda-feira, janeiro 07, 2008

Sobre um assalto em Goiânia – dia 24/07/2005, 22:45hs


Esses dias fui à cidade de Goiânia e me lembrei de um episódio ruim. Aconteceu em 2005. Fui à igreja. Ao sair da reunião, quando dobrava a esquina, fui surpreendidos por um elemento que veio em nossa direção - eu estava acompanhado - empunhando uma arma. Ameaçou-nos. Levou os nossos pertences. Ficou a lembrança enxovalhadora. A indignação. A sensação de que estamos desprotegidos. Escrevi naquela ocasião algumas linhas externalizando as minhas sensações mais profundas. Transcrevi-as abaixo. Ao lado coloquei o quadro O grito de Edvard Munch para retratar esse momento de agonia trêmula.

De repente estamos vulnerabilizados
Nos esmagam com a ameaça ordinária.
Pertubam-nos, arremessam contra nós
O peso da condenação.
Vemos tudo meio cinzento.
É um fato inesperado, com certeza.
Na mira estão o amor e a amizade.
Nervosismo.
Tensão.
Guturação instantânea a se derramar
Sem precisão.
O tempo é mínimo em que o
Indesejado nos acomete.
A tensão contínua instala-se.
A desconfiança nos assalta.
As imagens parecem ecos.
Um “esquisóide” a brandir uma
Arma entupida de munições.
A arma nos ameaça.
O “esquisóide” nos ameaça.
A vida pode ser tragada por
Um espasmo involuntário.
Somos pequenos.
Os olhos, a mente, as idéias
se embaralham, se turvam.
O estado de anomia psicológica
Se apodera de cada um de nós.
Andamos depois do acontecimento
Medonho de um lado para o outro
Como formigas agitadas.
A dignidade ferida.
Jogam lama na face da nossa paz
E ficamos manchados, vilipendiados.
A matéria foi roubada e recuperada em parte,
Mas perdemos a tranqüilidade.
Nervos esquentados.
Cantáramos aos céus, proferíamos louvores,
Bendisséramos a graça que nos abraça.
Numa esquina somos acometidos pelo destino.
Seria erro esmurrar ou violentar
Aquele que agrediu a nossa paz?
Se tivesse tido oportunidade,
Agarrar-me-ia com aquele bicho
Vestido com uma carcaça de homem.
Não existe vida ou solidariedade
Dentro daquele platelminto.
Se o encontrasse, se não fosse a arma
Que tinha apontada contra cada um de nós,
Tê-lo-ia esmagado.
Sacrilégio de minha parte, meu Deus?!
A injúria nos transforma em bichos.
Somos seres andrógenos.
Inconveniência descabida.
Prejuízo financeiro e material.
Dano moral, acidente que nos achata
A capacidade de confiar no outro.
Por todos os lados, temos a impressão
Que estamos cercados por criaturas prontas
Para nos acanalhar, para nos maltratar
A serenidade.
Já não podemos, simplesmente, ser
Homens de paz.
Estamos felizes, sorridentes, saltitantes,
Como cervos em campinas silvestres
E sem que esperemos assassinam a nossa
Liberdade.
Não podemos ter o que queremos ter.
Corremos um sério risco de sermos subtraídos.
O risco de atropelarem, de manietarem, de chafurdarem
A nossa estabilidade.
Passamos a estar em terra firme.
Todavia, percebemos um pântano social a
Nos cercar.
É preciso ser diligente e saber
Onde vai pisar.
A qualquer momento um pedaço
Do charco estrutural pode
Nos engulir.
Já não sabemos o que fazer.
Esconder-nos será apenas um paliativo.
Porque ‘o maior o esconderijo,
A maior escuridão, já não servirão de abrigo,
Já não darão proteção’.
O medo ainda andará conosco.
Mostrará seus traços terríveis.
Roerá famintamente a nossa confiança.
A neurose nos fuminará.
Seremos em breve bichos esquivos,
Assustadiços.
Nos embruteceremos.
Seremos criações sinistras.
Retrocederemos aos piores dias
Da história.
Somos piores que nossos ancestrais.
Não comemos carnes dos outros
Em rituais canibalísticos.
“Evoluímos” agora.
Come-se aquilo que não se ver.
Jantam a nossa aparelhagem psíquica.
Ameaçam-nos e vulnerabilizam
A nossa psique.
Após pensar a respeito daquele episódio
Fatídico, bate-me a desconfiança.
Ser homem não significa, prontamente,
Ser humano.
Existe dois tipos de homens distintos: aqueles
Que evoluíram e os que permaneceram boçais.
Àqueles, humanos;
Estes, unicamente homens.
É homem aquele que permaneceu
Animal, predatoriamente.
É humano o solidário, o que ama
Altruistamente a liberdade do próximo.
Aquele bicho biltre era apenas um homem.
Que pena!

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque

Nenhum comentário: