No dia 23 de setembro teve início a primavera. O seu término se dará no dia 21 de dezembro. Poucos perceberam as mudanças que se fizeram sentir na natureza. A sinfonia das cores se multiplica em tons, nuances. Sinto-me mais feliz quando chega a primavera. A sua chegada recende à vida. Antonio Vivaldi na obra programática As Quatro Estações descreve de forma musical as estações naturais. A primavera representa os três primeiros movimentos da obra. O primeiro movimento é um Allegro. Percebe-se o canto alegre dos pássaros. O vôo da liberdade. Há a seguinte menção textual: “Chegou a primavera e alegremente a saúdam os pássaros com cantos felizes; e as fontes, com o soprar dos zéfiros, correm com doce murmúrio; no entanto, vêm, cobrindo o ar com um manto negro, os raios e trovões, anunciando tempestade. Enquanto isto, sem se importar, ficam os passarinhos, retornando ao seu encanto canoro”.
No segundo movimento anuncia-se: “E sobre os prados floridos e amenos, ao som doce do murmúrio de árvores e folhas, dorme o camponês, enquanto, ao lado, ladra o seu cão fiel”. É notório pelo Largo e pianíssimo um doce vento que atravessa os bosques floridos. No terceiro movimento, lê-se: “Ao som festivo das gaitas camponesas, dançam as ninfas e os pastores, sob o ansiado céu de Primavera, a surgir, brilhante”. Trata-se de uma Danza Pastorale – Allegro. A alegria reverente e reflexiva da música faz perceber a comemoração dos camponeses que celebram a chegada da primavera. A música de Vivaldi nos permite, pelo seu encanto, alegria e leveza, tatear o espírito da época. O compositor argentino Astor Piazzolla também compôs uma peça chamada As Quatro Estações. Não possui as mesmas características da de Vivaldi. Piazzolla a revestiu da tristeza e a da tragicidade própria do tango.
Diz Cecília Meireles numa efusão lírica na crônica denominada “Primavera”: “Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol (...) com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz”. A beleza, a simplicidade, alegria, a docilidade de como Cecília retrata chegada desta estação tão eivada de vida, enche-nos de calma e silêncio – de um espírito contemplativo. E de fato a primavera nos passa a impressão de que começou um novo ciclo na natureza e no coração dos homens.
Esta é a época em que a maioria das árvores florescem, todas se preparando para liberar a semente da vida. É a época do amor, da procriação. Muitos animais se reproduzem nesta época. As chuvas surgem pelo final da tarde, por causa do calor e da umidade alta. Isso propicia um reverdecimento da vegetação queimada por conta das condições severas da estiagem – que o diga o Centro-Oeste.
Duas estações bem definidas no hemisfério norte permitiu que o antigos dividissem o ano em duas fases: (1) a veris que era o “tempo bom”, ensolarado; e (2) hiems, conhecido “como mau” tempo. Por conta da alegria que surge neste período, a estação foi chamada de primo vere, que significava “início da boa estação” e mais tarde passou a ser denominada “primavera”. As estações do ano constituem as personalidades da natureza. Temos o inverno que simboliza a rigidez, a gravidade; o outono que é a metáfora da tranqüilidade, da reflexão; o verão que é lúbrico, cheio de força luminosa; e a primavera que é a alegria, a leveza, a vida no cio.
Vou ao texto de Cecília e eis que leio: “Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação”. E assim fico com a certeza de que “as festas da perpetuação” se apresentam com viço. Nada enche mais meus olhos do que isso.
Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque
Data: sábado, 27 de setembro de 2008, 00:42:13.
No segundo movimento anuncia-se: “E sobre os prados floridos e amenos, ao som doce do murmúrio de árvores e folhas, dorme o camponês, enquanto, ao lado, ladra o seu cão fiel”. É notório pelo Largo e pianíssimo um doce vento que atravessa os bosques floridos. No terceiro movimento, lê-se: “Ao som festivo das gaitas camponesas, dançam as ninfas e os pastores, sob o ansiado céu de Primavera, a surgir, brilhante”. Trata-se de uma Danza Pastorale – Allegro. A alegria reverente e reflexiva da música faz perceber a comemoração dos camponeses que celebram a chegada da primavera. A música de Vivaldi nos permite, pelo seu encanto, alegria e leveza, tatear o espírito da época. O compositor argentino Astor Piazzolla também compôs uma peça chamada As Quatro Estações. Não possui as mesmas características da de Vivaldi. Piazzolla a revestiu da tristeza e a da tragicidade própria do tango.
Diz Cecília Meireles numa efusão lírica na crônica denominada “Primavera”: “Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol (...) com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz”. A beleza, a simplicidade, alegria, a docilidade de como Cecília retrata chegada desta estação tão eivada de vida, enche-nos de calma e silêncio – de um espírito contemplativo. E de fato a primavera nos passa a impressão de que começou um novo ciclo na natureza e no coração dos homens.
Esta é a época em que a maioria das árvores florescem, todas se preparando para liberar a semente da vida. É a época do amor, da procriação. Muitos animais se reproduzem nesta época. As chuvas surgem pelo final da tarde, por causa do calor e da umidade alta. Isso propicia um reverdecimento da vegetação queimada por conta das condições severas da estiagem – que o diga o Centro-Oeste.
Duas estações bem definidas no hemisfério norte permitiu que o antigos dividissem o ano em duas fases: (1) a veris que era o “tempo bom”, ensolarado; e (2) hiems, conhecido “como mau” tempo. Por conta da alegria que surge neste período, a estação foi chamada de primo vere, que significava “início da boa estação” e mais tarde passou a ser denominada “primavera”. As estações do ano constituem as personalidades da natureza. Temos o inverno que simboliza a rigidez, a gravidade; o outono que é a metáfora da tranqüilidade, da reflexão; o verão que é lúbrico, cheio de força luminosa; e a primavera que é a alegria, a leveza, a vida no cio.
Vou ao texto de Cecília e eis que leio: “Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação”. E assim fico com a certeza de que “as festas da perpetuação” se apresentam com viço. Nada enche mais meus olhos do que isso.
Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque
Data: sábado, 27 de setembro de 2008, 00:42:13.
Nenhum comentário:
Postar um comentário