Quando todos os rios da vida correrem para o mar
Das mais genuínas e lamentáveis dores e lágrimas.
Quando todas as palavras do mundo não te compreenderem.
Quando vida tornar-se incrivelmente indecifrável.
Quando as tuas mais fulgurantes expectativas apodrecerem.
Quando nas manhãs tenebrosas da vida sentires ânsias de
Vomitar a vida que te fez mal.
Quando sentires a cabeça zonza por causa dessa ressaca e desse
Porre do nada.
Quando deitares na cama mais escura da dor e da angústia.
Quando as palavras e os sentimentos já não existirem.
Quando a fé for apenas uma mancha na parede da existência.
Quando os vários caminhos que tiveres à tua frente não te
Levarem a lugar nenhum.
Quando os livros passarem a ter apenas letras mortas e
Sem expressão de conhecimento.
Quando conselhos e filosofias mofarem e enrugarem.
Quando perversões saquearem as boas virtudes
E promoverem um completo pós-modernismo de valores e conceitos
Dentro da ti.
Quando já não souberes quem és.
Quando os bufões e palhaços contratados para divertirem as realezas
Que existem em ti já não forem mais engraçados.
Quando existir um pântano mal-cheiroso por trás daquele jardinzinho
Plantado e cultivado por ti.
Quando existir um Vietnã de batalhas dentro de ti.
Quando a África das inanições e privações não estiver fora, mas dentro de ti.
Quando a loucura e a fome já não forem realidades completamente distantes,
Mas passarem a ser as tuas companheiras mais achegadas.
Quando todos os dias do ano for inverno dentro de ti.
Quando pivetes, meninos de rua, morarem na praça mal administrada
Do teu coração.
Quando as flores do teu jardim não cheirarem a vida.
Quando fores traído pelas convicções falidas e pela fome da verdade.
Existe uma solução quando te achares assim:
Lava-te com as águas dos silêncios.
Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Data: 6/4/2004 09:19:08, quarta-feira.
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