sábado, maio 01, 2010

"Eis o Homem 2"

Ouvi-me! Eu sou alguém e, sobretudo, não me confundais com os outros[1].

Tenho conhecimento do meu destino. Sei que algum dia o meu nome estará relacionado, em recordação, a algo de terrível, a uma crise como nunca ocorreu, à mais tremenda colisão de consciências, a uma sentença definitiva pronunciada contra tudo aquilo que se acreditava, exigi santificava até então. Eu não sou um homem, sou uma dinamite. E, não obstante tudo isso, não tenho rompantes de fundador de religiões; as religiões são coisas de gentalha; eu sinto a necessidade de lavar as mãos depois de ter tocado as de um homem religioso... Não quero “crentes”; acredito que sou demasiado mau para crer em mim mesmo; eu nunca falo às massas... tenho grande medo de ser, algum dia, santificado; desse modo, compreenderão por que eu publico antes este livro: deve ele evitar que se abuse do meu nome... Não quero ser um santo, prefiro ser um palhaço... Talvez seja eu um palhaço... Todavia, ou talvez não todavia – porque até agora não há nada tão mentiroso quanto os santos – eu falo a verdade[2].

Nietzsche é um dos pensadores mais autênticos que já existiram. É preciso ter nervos de aço para fruí-lo. O imaturo, perder-se-á; o religioso, execrar-lo-á; os desconfiados, abandoná-lo-ão; os sequiosos de poesia e verdade, amá-lo-ão. Ecce Homo parece, antes de tudo, ser um acerto de contas de Nietzsche com Nietzsche. Ousado, nervoso, irônico, original, trêmulo, sóbrio. O livro é uma martelada de um sátiro na catedral das convenções do Mundo Ocidental com todo o seu rigor burguês e de moral decadente. Nietzsche é um visionário. Já previa o que seria o século XX. Não coube em seu tempo. O rio de suas palavras transbordaram na planície da história. Acima de tudo, Ecce Homo é de leitura imensamente agradável. Uma vez começada a leitura, empreendemos uma excursão até o fim da obra sem pestanejar, sem nos cansar, sem nos fatigarmos. Sua energia é uma força propulsora.

Achei uma excelente resenha sobre a obra. Segue:

Nietzsche era um romântico. Mais tarde seria considerado um divisor de águas na filosofia. São várias as classificações à Nietzsche, Martir Heidegger, por sua vez o identificou como o último dos filósofos metafísicos e colocou o divisor de águas em si mesmo, dizendo ter sido ele o primeiro filósofo não-metafísico da história da filosofia ocidental.

Max Weber, de sua parte disse: “O mundo onde nós existimos em termos de pensamento é um mundo cunhado pelas figuras de Marx e Nietzsche.”

É fato que Nietzsche foi um dos mais importantes pensadores alemães de todos os tempos e estendeu a área de suas influências para muito além da filosofia, adentrando a literatura, a poesia, e todos os âmbitos das belas-artes. Influenciou movimentos que vão do naturalismo alemão ao modernismo, e escritores tão diferentes quanto Heinrich e Thomas Mann. Com sua obra quebradiça e aparentemente fragmentária, que no fundo adquire uma vitalidade orgânica que lhe dá unidade através do aforismo. Nietzsche mostrou, desde o início, que todo artista genuíno tem, de uma maneira ou de outra, conspurcar o próprio ninho. E Nietzsche, que nasceu cercado de moral por todos os lados, fez da moral o alvo de seus combates e considerou sua guerra pessoal contra ela sua maior vitória.

Nietzsche viveu sobre a navalha da interpretação. Mal interpretado como filósofo, já em função de seu estilo poético, já devido à exploração de certos aspectos de seu pensamento – mal versados pela irmã e pelo nazismo – Nietzsche foi, na realidade, um dos críticos mais ferozes da religião, da moral e da tradição filosófica do Ocidente.

Mas, sem dúvida, Nietzsche é o maior dos pensadores ocidentais para mim, e muitos fazem coro comigo. Mesmo grandes pensadores e escritores célebres apontam Nietzsche como o maior dos pensadores de todos os tempos.

Extraído DAQUI

Por Carlos Antônio M. Albuquerque

Data: 1 de maio de 2010, 12:15:56


[1] NIETZSCHE, Friedrich. Ecce Homo. Sao Paulo: Martin Claret. 2002. p. 31

[2] Idem, p. 117

[3] Acessado em 1 de maio de 2010. Disponível em: http://www.lendo.org/ecce-homo-nietzche-muito-alem-da-filosofia/

Nenhum comentário: