terça-feira, maio 04, 2010

Fragmentos de uma referência nietzscheniana

Fiquei aturdido no dia de hoje com estas palavras (logo abaixo). Elas revelam como nascem “as verdades”. A “verdade” não é algo em si. Apenas o mundo é. O “senso da verdade” nasce com as categorias e explicações que damos ao mundo. O pensamento acorda-nos para a responsabilidade. Para que despertemos de “supostos sonhos metafísicos” e assumamos a nossa integridade. Fantasiar a realidade surge como uma necessidade de acomodação e isso não é viver aquilo que a vida tem de mais autêntico para cada um de nós. Ou seja, ela mesma.

“O mundo é caos. A lógica do mundo está em nós, não no mundo. A forma tem aparência de algo durável, mas a forma é também um acomodamento que inventamos de acordo com a economia de nosso psiquismo. Há uma ilusão em acreditarmos na intransitoriedade da forma ao observarmos a continuidade através das aparências constitucionais. Há pequenas modificações que passam muitas vezes despercebidas. Nós somos constrangidos a formar o conceito de espécie , de forma, de fins e de leis, buscando sempre as identidades pela lei psicológica do menor esforço, como pelo desejo de acomodar o mundo a uma forma adaptável à nossa existência – o mundo que nos seja mais compreensível, em que não sejamos contradição. Este desejo é que explica a nossa ânsia de simplificação, porque temos o instinto de fugir ou de combater o desequilíbrio. Não vamos afirmar daí que o desequilíbrio seja a “causa” das nossas insatisfações, ou pelo menos a “causa” única, e que o desejo de equilíbrio seja o fim humano, embora seja um fim. A luta contra o desequilíbrio, em busca do equilíbrio, quando este é alcançado, gera novo desequilíbrio.

Esse é o aspecto dialético. A razão é uma síntese da atividade dos sentidos, é um acomodamento. (...) Ela e uma simplificação, uma sistematização, uma acentuação, uma interpretação, limitada à perspectiva do momento.

(...)

Possuímos, não há negar, o desejo da verdade. Esse desejo de estabilização é a ânsia de equilíbrio que dá um rumo aos impulsos na luta contra a instabilidade. É ele quem provoca o ímpeto de tornar o mundo verdadeiro, pela supressão do “falso”. A “verdade” não é, portanto, algo que exista, mas algo incriado que desejamos obter, apreender, tomar. É uma direção, um destino de nosso desejo de potencializarão, de realização de nossa vontade
[1]

Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Data: terça-feira, 4 de maio de 2010, 19:10:37.

[1] NIETZSCHE, Friedrich. Vontade de Potência – parte I. São Paulo: Editora Escala. 2003. pp.30-32

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