sexta-feira, agosto 26, 2011

"Onde estamos quando pensamos?"

Mesmo após ter terminado de ler o livro de Rudolf Safranski, Heidegger - um mestre da Alemanha entre o bem e o mal, fiquei a pensar numa retratação emblematicamente filósofica sobre Sócrates. Diz Safranski no capítulo 16 ("A saída da maquinação política"):

"Afinal, onde estamos quando pensamos?
Xenofonte nos transmite uma bela anedota sobre Sócrates. Este combatera valentemente como soldado na campanha do Peloponeso, mas em uma ocasao, quando as tropas estavam em marcha, ele de repente mergulhara em pensamentos e ficara parado, e ali ficou para do dia inteiro, esquecido de si, do lugar, esquecido da situação. Ocorrera-lhe, ou chamara a sua atenção, algo que o fazia pensar, e assim ele saíra da sua realidade. Entrara sob a coerção de um pensar que exigia dele um lugar-nenhum, mas onde estranhamente parecia sentir-se em casa. Esse lugar-nenhum do pensar é a grande interrupção no acontecimento cotidiano, e é um outro-lugar sedutor. Segundo tudo o que sabemos de Sócrates, a experiência desse outro-lugar do espírito é uma pressuposição de seu triunfo sobre o medo da morte. Sócrates arrebatado pelo pensar torna-se inatingível. Poderão matar seu corpo, mas seu espírito há de viver. Ele está livre do dasein. Nesse Sócrates, parado ali, imóvel e absorto, enquanto as coisas em torno dele seguem seu curso, pensava Aristóteles quando louvava a filosofia seu talento para todo lugar e lugar nenhum; ela não exigia "nem equipamento nem lugar especial para se exercitar... onde quer que na terra alguém se dedique a pensar, atingirá a verdade como se ela estivesse ali presente"".

SAFRANSKI, Rudolf. Heidegger - um mestre da Alemanha entre o bem e o mal. São Paulo. Geração Editorial. 2000. 518 p.

P.S. Comprei recentemente outro livro de Safranki (outra biografia). Dessa vez foi de Nietzsche. O nome é: "Nietszche - biografia de uma tragédia". Há ainda outro trabalho biográfico acerca de Schopenhauer. Mais informações AQUI.

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