sexta-feira, abril 12, 2013

"Em nome de Deus" e algumas afirmações sobre Pedro Abelardo (1079-1142)

Na última quarta-feira, 10, assisti, pela terceira vez, ao filme Em nome de Deus, de 1988. Clive Donner é o diretor. O filme é muito bom. Conta a história de amor entre Pedro Abelardo, filósofo medieval, e Heloísa, literata de mente arguta e inquieta. A obra busca colocar em primeiro plano a história de amor entre os dois, passando-nos alguns lampejos do pensamento de Abelardo. Segundo Le Goff, quando Abelardo se enamora por Heloísa, esta possui 17 anos e, aquele, 39. Até aquele momento o pensador vivera de forma casta. Mas a paixão pela jovem desatou-lhe os nós da prudência. A maior parte do romance se passa na casa do tio de Heloísa, Fulbert. Este toma inimizade pela relação dos dois.

Então, desde a última quarta, ando inquieto para saber mais sobre o pensador. A Idade Média é um período sempre gerador de curiosidade por mim. É um dos momentos mais fantásticos da história humana. Há muita produção filósofica nesse período. Aquele preconceito iluminista de que se trata da Idade das Trevas acabou gerando equívocos. Afinal, foi nesse período da história que viveram pensadores extraordinários como Santo Agostinho (final da história antiga e início da Idade Média); João Escoto Erígena, Anselmo, Alberto Magno, João Duns Escoto, Boaventura, Tomás de Aquino, Guilherme de Ockham, Mestre Eckhart, Pedro Lombardo, Alberto Magno, Avicenna, Averróis (ambos do mundo árabe) e o próprio Pedro Abelardo. Assim como o século XI foi o século de Alnselmo e, o século XIII seria o século de Tomás de Aquino, o século XII foi o século de Pedro Abelardo.

O filme de Clive Donner nos passa imagem de Abelardo como sendo um professor exemplar. Um pensador refinado, revolucionário, que se colocava à frente do seu tempo na aplicação dos métodos pedagógicos. Seus alunos o veneravam, respeitavam-no; possuíam uma vida de amizade e saber constante com os seus pupilos. O pensador consagra a dúvida como um instrumento de aprendizagem. A dialética era a sua ferramenta de averiguação. 

Para o pensador a razão (ratio) possuía um protagonismo essencial. Todavia, a razão não era um instrumento capaz de desautorizar a Bíblia. A ratio era um instumento de afinamento, de ajustamento para que o inquiridor entendesse melhor. Assim, a razão ajustava o foco para o verossímil. Ele sabia que a razão era limitada, mas pensar dessa forma em pleno século XII era por demasia avançado. A fé absorvia a razão, fazendo com que o discurso filósofico não absorvesse a razão, mas o facilitase e o tornasse acessível. A razão não justificava a fé, mas tirava esta de um mero mecanicismo.

Abelardo e Heloísa em casa de Fulbert
No campo da ética, Abelardo coloca a consciência como centro das intenções do agir ético, regulado por uma lei que emanava de Deus. Para ele, existe uma intenção pré-moral em todo homem. Por exemplo, desejar uma mulher. Em sua concepção, nesse fato não havia uma transgressão. Todavia, o problema ético residia no fato em se dar voz a essa intenção. Ou seja, o problema ético está centrado no obedecer aos próprios desejos e não atender à lex divinae

Seus pensamentos possuíam tanto fermento crítico e, indicavam um novo viés metológico, que acabou tendo suas ideias sendo rechaçadas e condenadas em dois concílios (Soissons, em 1121; e Sens, em 1140. Jacques Le Goff vai dizer que Abelardo é a "primeira grande figura do intelectual moderno".

Pedro Abelardo, morreu em 1142. 

P.S. Algumas informações de cunho histórico foram extraídas do livro História da Filosofia - volume 1, de Giovanni Reale e Dario Antiseri, da Editora Paulus; e do livro Os intelectuais na Idade Média, de Jacques Le Goff, editora José Olympio.

Nenhum comentário: