
Dietrich Bonhoeffer, Ética, p. 120
Terminei a leitura, no dia de ontem, de O Idiota, de Dostoiévsky. Consumei, com grande expectativa e pesar, a leitura densa, complexa, de um dos livros mais fasntásticos entre os escritos pelo russo. A leitura se deu de forma irregular. O muito trabalho me impossibilitou de ler com disciplina. Li a maior parte de suas quase 700 páginas no metrô de Brasília - indo e voltando, de segunda a sexta-feira. Trajeto realizado em uma hora de minha casa para o trabalho - meia hora para ir e meia hora para voltar.
A príncipio, o que dizer de O Idiota? É um livro que nos deixa meio atordoados pela complexidade, pela profusão de temas, de diálogos densos, elétricos, arrebatadores; pela complexidade das personagens escuras. O que é o príncipe Michkin? A materialização da metafísica da bondade. Dostoiévsky nos coloca ante o pessimismo e o otimismo; ante o bem e o mal; ante a mesquinhez e a solidariedade. Michkin é tão bom, tão repleto de qualidades, que não se assemelha a um ser humano. Ele é um ente espiritual de bondade extrema, qual um Cristo que desce, mais uma vez à terra, para uma travessia experimental a fim de fazer uma incursão existencial amorosa entre os homens daqui. Em compensação, as outras persongens são modelos de vileza, ganância, loucura, interesse, arrogância e egoísmo. As personagens são mesquinhas em suas intenções. Forjam ardis. Agem motivadas pela vaidade.

A análise psicológica das personagens impressiona. Nastasia Filippovna Barashkova é um modelo exuberante e escandoloso nesse sentido. A moça guardava qualquer coisa de misteriosa. Possuía uma força oculta, uma loucura irremediável. Michkin a ama. Encanta-se por ela, mesmo estando cônscio dessa sua natureza partida. Ele a ama como um ente santo, enquanto, Rogozhin, outro personagem, ama-a odiando. Aqui fica claro o quanto o príncipe se mostra um modelo de virtude nas mais variadas situações.

Michkin é a materizalição dessa ética. Ele leva à frente esse ideal propugnado pela ética cristã. A força do seu caráter possui contumácia e regularidade. Jesus nos evangelhos diz: "Sede perfeitos". E Michkin parece possuir um motor moral que o torna a exatificação desse imperativo. A face mais real desse ideal.
Cheguei à seguinte constação pela complexidade caótica de O Idiota: por mais que leiamos dez vezes a obra, ainda assim, seus temas e profundidado não se esgotam. Dostoiévsky era um sujeito absurdamente religioso. Michkin seria aquilo que ele tinha como valor ideal de homem perfeito? A leitura dessa obra torna-se mais grandiosa à medida que entendemos que existe uma moralidade cristã ideal e que era alvo do romancista. Michkin certamente se coloca aqui como substrato desse fato. Ele é a compilação do mais alto nível de perfeição dentro da literatura.
Próximo livro do russo: "Os demônios". Sigamos, pois os horizontes são imensos.
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