"O intelectual não tem prestígio numa sociedade em que o que vale é o
financeiro. As pessoas falam todo tempo que as crianças e os jovens não
leem. Não é um problema isolado, mas consequência. Instruem a não nos
ocuparmos de coisas que tomam tempo, que são profundas, lentas ou
difíceis. Dizer que o intelectual não tem importância hoje leva aonde? É
um tema mais profundo: que tipo de sociedade estamos propondo. Hanna
Arendt define cultura como aprendizagem da atenção. Aprender a prestar
atenção. Toda a cultura que alimentamos hoje é contra a atenção, com um
elenco de gadgets que requerem um salto constante de uma coisa a
outra. Interrupção de toda atividade pelo toque do celular, de e-mail,
do que seja, o que implica que a conversação atenta e longa é menos
importante. Uma estrutura estética para todas as artes visuais em que a
duração do período de atenção, o parágrafo visual, é demasiadamente
breve.
O sistema utilizado pelas séries televisivas é formulado assim:
alguém fala algo, o outro responde, segue nova cena. Há um corte rápido
para dar lugar ao comercial, também editado muito freneticamente. Tudo
contribui para a educação da atenção breve. Educam-se as crianças para
que não dediquem a algo atenção maior do que cinco minutos. Depois de um
minuto já muda de canal ou deixa o que está fazendo, muda a
conversação. Isso é grave porque o tempo de reflexão deveria ser mais
longo do que o tempo de observação. Vejo algo e logo precisaria de tempo
para pensar, discutir ou experimentar novamente se fosse o caso.
Estamos eliminando isso de nossa sociedade, para dar lugar ao elemento
mais necessário que temos hoje, que é ser consumidor. Este necessita não
refletir nada, não prestar atenção, porque um consumidor que preste
atenção, que reflita quando olha um jeans a 500 euros pode achar
ridículo e pensar: por que comprar? Se ele refletir, não irá comprar,
não irá consumir. É fundamental que ele veja a publicidade e diga “eu
quero comprar”, e passamos à próxima etapa ou fase, como num videogame.
Isto parece ser o problema essencial. Civilização do espetáculo, como
fala Llosa, sim. Mas por quê? Como? E, sobretudo, o que fazer para
mudar?"
(Alberto Manguel, in Revista Cult, no. 178, mês de abril)
Entrevista completa aqui
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