Excelente o texto! Traz à baila justamente a
questão do posicionamento anti-marxista, antes mesmo que se conheça
Marx. Criticar Marx sem que se tenha lido uma única página de Marx é uma
baita de uma ignorância. A regra geral é que aqueles que
fazem a crítica, geralmente desarrazoada, absorvem os argumentos
daquilo que foi feito em nome de Marx. É o exemplo mostrado no texto. A
ignorância histórica leva a associar o marxismo a práticas totalitárias.
"Existem fatos históricos que podem explicar essa associação, sendo que
o principal deles é a associação entre Marx e o regime estalinista da
União Soviética. O problema é que entre as ideias de Marx e as práticas
totalitárias existe uma série de mediações históricas, políticas e de
ideias que são deixadas de lado. Assim, se chega a uma conclusão análoga
a algo como atribuir a Einstein a responsabilidade pela bomba atômica".
A teoria social desenvolvida por Marx é ampla, complexa e abarca a
totalidade. Os reducionismos anti-marxistas nem resvalam na superfície
do pensamento de Marx. O pensador buscou superar as contradições da
materialidade, trazendo no bojo ideias como libertação, humanização e
liberdade. Isso, sim, é Marx! O resto é caricatura e ignorância!
Cento e trinta anos depois de sua morte, Karl Marx continua causando
polêmica. Poucos meses atrás, em Porto Alegre, foi veiculada a notícia
de que ‘livros marxistas’ teriam sido apreendidos como documentos
incriminadores. Pouco depois, o responsável pelas operações afirmou que
isso não teria ocorrido. Enquanto isso, um estudante de relações
internacionais ganhou notoriedade nacional ao se recusar a escrever
sobre Marx em sala de aula. O que esses fatos mostram, antes de tudo, é
que Marx continua vivo no debate político ideológico.
O problema é que poucos se aventuram a entrar nos escritos deste
controverso pensador. O que geralmente se vê são críticas feitas ao
totalitarismo, ao despotismo e à falta de liberdades. Em entrevista
repercutida no jornal Zero Hora, o estudante mencionado foi questionado e
convidado a explicar por que se posicionava contra o marxismo. Não
respondeu. Afirmou: “Minha educação sempre foi pela liberdade, pela
vida, pela justiça acima de tudo. Os regimes totalitaristas se tornaram
genocidas, trouxeram miséria e morte. Vejo que o Brasil caminha para ser
uma Venezuela.” Se vê claramente que a pergunta não foi respondida, e
isso é reflexo da ignorância generalizada acerca das ideias de Marx, já
que o rótulo ‘marxismo’ traz consigo a ideia pronta e acabada que
associa o marxismo com o totalitarismo.
Existem fatos históricos que podem explicar essa associação, sendo
que o principal deles é a associação entre Marx e o regime estalinista
da União Soviética. O problema é que entre as ideias de Marx e as
práticas totalitárias existe uma série de mediações históricas,
políticas e de ideias que são deixadas de lado. Assim, se chega a uma
conclusão análoga a algo como atribuir a Einstein a responsabilidade
pela bomba atômica. A questão que mais interessa, neste momento em que
vivemos, não é mais essa, e sim por que o estudante que recusa o
marxismo sem ter condições de responder por que é contra o marxismo,
ganha notoriedade nacional? Perguntas como essa poderiam encontrar
respostas na concepção filosófica do próprio Marx, para quem as ideias e
as representações da consciência estão entrelaçadas com a atividade e
as trocas materiais. Vivemos em 2013 momentos de contestação e
questionamentos acerca das desigualdades sociais que assolam o País. A
produção material da vida e as regras que determinam quem ganha e quem
perde estão sendo questionadas, e esse embate se reflete também nas
ideias e na consciência. Assim, para além de um posicionamento político,
a teoria de Marx continua válida nos dias de hoje para explicar esses
embates. No entanto, é necessário compreendê-la, e não aceitar
acriticamente associações automáticas que se escondem sob o véu da
ideologia. Quem perde com isso são aqueles que querem aprender, conhecer
e entender o mundo.
Rafael Kruter Flores é Doutor em Administração/UFRGS
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