quarta-feira, dezembro 25, 2013

Cento e trinta anos depois, ainda Marx?

Excelente o texto! Traz à baila justamente a questão do posicionamento anti-marxista, antes mesmo que se conheça Marx. Criticar Marx sem que se tenha lido uma única página de Marx é uma baita de uma ignorância. A regra geral é que aqueles que fazem a crítica, geralmente desarrazoada, absorvem os argumentos daquilo que foi feito em nome de Marx. É o exemplo mostrado no texto. A ignorância histórica leva a associar o marxismo a práticas totalitárias. "Existem fatos históricos que podem explicar essa associação, sendo que o principal deles é a associação entre Marx e o regime estalinista da União Soviética. O problema é que entre as ideias de Marx e as práticas totalitárias existe uma série de mediações históricas, políticas e de ideias que são deixadas de lado. Assim, se chega a uma conclusão análoga a algo como atribuir a Einstein a responsabilidade pela bomba atômica". A teoria social desenvolvida por Marx é ampla, complexa e abarca a totalidade. Os reducionismos anti-marxistas nem resvalam na superfície do pensamento de Marx. O pensador buscou superar as contradições da materialidade, trazendo no bojo ideias como libertação, humanização e liberdade. Isso, sim, é Marx! O resto é caricatura e ignorância!

Cento e trinta anos depois de sua morte, Karl Marx continua causando polêmica. Poucos meses atrás, em Porto Alegre, foi veiculada a notícia de que ‘livros marxistas’ teriam sido apreendidos como documentos incriminadores. Pouco depois, o responsável pelas operações afirmou que isso não teria ocorrido. Enquanto isso, um estudante de relações internacionais ganhou notoriedade nacional ao se recusar a escrever sobre Marx em sala de aula. O que esses fatos mostram, antes de tudo, é que Marx continua vivo no debate político ideológico.

O problema é que poucos se aventuram a entrar nos escritos deste controverso pensador. O que geralmente se vê são críticas feitas ao totalitarismo, ao despotismo e à falta de liberdades. Em entrevista repercutida no jornal Zero Hora, o estudante mencionado foi questionado e convidado a explicar por que se posicionava contra o marxismo. Não respondeu. Afirmou: “Minha educação sempre foi pela liberdade, pela vida, pela justiça acima de tudo. Os regimes totalitaristas se tornaram genocidas, trouxeram miséria e morte. Vejo que o Brasil caminha para ser uma Venezuela.” Se vê claramente que a pergunta não foi respondida, e isso é reflexo da ignorância generalizada acerca das ideias de Marx, já que o rótulo ‘marxismo’ traz consigo a ideia pronta e acabada que associa o marxismo com o totalitarismo.

Existem fatos históricos que podem explicar essa associação, sendo que o principal deles é a associação entre Marx e o regime estalinista da União Soviética. O problema é que entre as ideias de Marx e as práticas totalitárias existe uma série de mediações históricas, políticas e de ideias que são deixadas de lado. Assim, se chega a uma conclusão análoga a algo como atribuir a Einstein a responsabilidade pela bomba atômica. A questão que mais interessa, neste momento em que vivemos, não é mais essa, e sim por que o estudante que recusa o marxismo sem ter condições de responder por que é contra o marxismo, ganha notoriedade nacional? Perguntas como essa poderiam encontrar respostas na concepção filosófica do próprio Marx, para quem as ideias e as representações da consciência estão entrelaçadas com a atividade e as trocas materiais. Vivemos em 2013 momentos de contestação e questionamentos acerca das desigualdades sociais que assolam o País. A produção material da vida e as regras que determinam quem ganha e quem perde estão sendo questionadas, e esse embate se reflete também nas ideias e na consciência. Assim, para além de um posicionamento político, a teoria de Marx continua válida nos dias de hoje para explicar esses embates. No entanto, é necessário compreendê-la, e não aceitar acriticamente associações automáticas que se escondem sob o véu da ideologia. Quem perde com isso são aqueles que querem aprender, conhecer e entender o mundo.

Rafael Kruter Flores é Doutor em Administração/UFRGS

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