Quando vejo disposições "sacadas" do lugar comum contra Marx, vêm a mim
dois sentimentos: primeiro de indignação e, segundo, de consciência da
ignorância do oponente. O capitalismo conseguiu cooptar, por meio do
deus mercado e da construção de um estilo de vida manco, a naturalização
do niilismo e do individualismo massacrante. Tal estilo de vida tem
levado o planeta ao colapso e, a humanidade, à barbárie. Confundem
experiências ou tentativas de materialização do socialismo com a
filosofia de Marx. Marxismo é acima de tudo uma força que busca a
liberdade, a humanização e a dignificação do ser humano. Um excelente antídoto (texto) contra o fascismo e a imbecilidade.
Habemus Papam
Por Mauro Saytayana. Extraído do site do Leonardo Boff.
Acusado por um conservador norte-americano de ser marxista, Jorge
Mario Bergoglio, o papa Francisco, negou sê-lo, mas disse que não se
sentia ofendido, por ter conhecido ao longo de sua vida muitos marxistas
que eram boas pessoas.
A declaração do papa, evitando atacar ou demonizar os marxistas, e atribuindo-lhes a condição de comuns mortais, com direito a ter sua visão de mundo e a defendê-la, é extremamente importante, no momento que estamos vivendo agora.
A ascensão irracional do anticomunismo mais obtuso e retrógrado, em
todo o mundo — no Brasil, particularmente, está ficando chique ser de
extrema direita — baseia-se em manipulação canalha, com que se tenta,
por todos os meios, inverter e distorcer a história, a ponto de se estar
criando uma absurda realidade paralela.
Estabelecem-se, financiados com dinheiro da direita fundamentalista,
“museus do comunismo”; surgem por todo mundo, como nos piores tempos da
Guerra Fria, redes de organizações anticomunistas, com a desculpa de se
defender a democracia; atribuem-se, alucinadamente, de forma
absolutamente fantasiosa, 100 milhões de mortos ao comunismo.
Busca-se associar, até do ponto de vista iconográfico, o marxismo ao
nacional-socialismo, quando, se não fossem a Batalha de Stalingrado, em
que os alemães e seus aliados perderam 850 mil homens, e a Batalha de
Berlim, vencidas pelas tropas do Exército Vermelho — que cercaram e
ocuparam a capital alemã e obrigaram Hitler a se matar, como um rato, em
seu covil — a Alemanha nazista teria tido tempo de desenvolver sua
própria bomba atômica e não teria sido derrotada.
Quem compara o socialismo ao nazismo, por uma questão de semântica,
se esquece de que, sem a heroica resistência, o complexo
industrial-militar, e o sacrifício dos povos da União Soviética — que
perdeu na Segunda Guerra Mundial 30 milhões de habitantes — boa parte
dos anticomunistas de hoje, incluídos católicos não arianos e sionistas,
teriam virado sabão nas câmaras de gás e nos fornos crematórios de
Auschwitz, Birkenau e outros campos de extermínio.
Espalha-se, na internet — e um monte de beócios, uns por ingenuidade, outros por falta de caráter mesmo, ajudam a divulgar isso — que o Golpe Militar de 1964 — apoiado e financiado por uma nação estrangeira, os Estados Unidos — foi uma contrarrevolução preventiva. O país era governado por um rico proprietário rural, João Goulart, que nunca foi comunista. Vivia-se em plena democracia, com imprensa livre e todas as garantias do Estado de Direito, e o povo preparava-se para reeleger Juscelino Kubitscheck presidente da República em 1965.
1964 foi uma aliança de oportunistas. Civis que há anos almejavam
chegar à Presidência da República e não tinham votos para isso,
segmentos conservadores que estavam alijados dos negócios do governo e
oficiais — não todos, graças a Deus — golpistas que odiavam a democracia
e não admitiam viver em um país livre.
Em um mundo em que há nações, como o Brasil, em que padres fascistas
pregam abertamente, na internet e fora dela, o culto ao ódio, e a
mentira da excomunhão automática de comunistas, as declarações do papa
Francisco, lembrando que os marxistas são pessoas normais, como
quaisquer outras — e não são os monstros apresentados pela
extrema-direita fundamentalista e revisionista sob a farsa do “marxismo
cultural” — representam um apelo à razão e um alento.
Depois de anos dominada pelo conservadorismo, podemos dizer, pelo
menos até agora, que Habemus Papam, com a clareza da fumaça branca
saindo, na Praça de São Pedro, em dia de conclave, das veneráveis
chaminés do Vaticano.
Um Papa maiúsculo, preparado para fortalecer a Igreja, com o
equilíbrio e o exemplo do Evangelho, e a inteligência, o sorriso, a
determinação e a energia de um Pastor que merece ser amado e admirado
pelo seu rebanho.
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