sábado, março 22, 2014

Padre Cícero e Lampião, dois ícones da cultura brasileira

Assisti com grande entusiasmo ao programa Almanaque, da Globo News, sobre a relação de Padre Cícero, figura tão iconográfica do Nordeste e do Brasil do século XX e Lampião, outro nome vinculado às grandes figuras do banditismo social, como atestou Eric Hobsbawn, em seu excelente Bandidos. Existe um interesse profundo em mim de conhecer de forma mais detalhada as histórias dessas duas emblemáticas figuras da cultura brasileira e que se tornaram em lendas com requintes folclóricos.

Por ser nordestino, cresci com a figura do Padre Cícero ligada a mim. Minha avó por parte de pai, por exemplo, possuía uma imagem do beato. Quando criança, ao ir à casa de algumas pessoas, ainda em Pernambuco, avistava o quadro com a foto do "Padim Ciço", como é chamado pelo sertanejo. Padre Cícero se tornou uma figura poderosa, tanto do ponto de vista religioso quanto do político. Fico a imaginar comigo que, se ainda hoje uma multidão de romeiros afluem de todos os cantos do Nordeste e do Brasil para visitar Juazeiro do Norte, no sul do Ceará, reduto do religioso, imagine como era isso no início do século XX! O padre conseguiu uma fama de milagreiro em decorrência de supostos acontecimentos extraordinários. No início de janeiro, quando fui à casa de minha avó por parte de mãe, vi que ela tinha a sua imagem do velho padre. O ano passado ela foi em romaria com outras pessoas do lugar onde mora, Zona da Mata de Pernambuco, mesmo estando a mais de oitocentos quilômetros de distância, a Juazeiro do Norte. 

A força religiosa fez com que Padre Cícero conseguisse influência política. Chegou a ser tornar deputado federal. Essa mancebia da religião com a política o tornou em patriarca do Vale do Cariri. Em 1926, Lampião foi a Juazeiro visitar o poderoso beato. E aqui ligamos o cangaço à religião, posto que mesmo exercendo uma vida marginal, os cangaceiros possuíam uma devoção incomum. Lampião era devoto do Padim. O fato é que Lampião visitou Padre Cícero, procurando a bênção do velho beato. Imaginemos isso: Lampião era o grande flagelo, a figura mítica por excelência que levava medo e um senso de justiça por onde passava. Mas mesmo assim, dobrou-se à figura do velho padre. Lampião acaba saindo de lá com o título de "capitão", o que o torna ainda mais em uma figura mítica. Ou seja, dali para frente ele passou a ser conhecido como Capitão Virgulino Ferreira da Silva. 

Luis Carlos Prestes havia iniciado a sua grande marcha pelo país. Era uma marcha que buscava fazer o Brasil "desabrochar". Tão grande empreendimento em um país proporcionou mais o surgimento de lendas do que mudanças efetivas no mundo material. As forças federais temiam a Coluna. Arthur Bernardes não tinha um governo fácil. E aqui entra a figura de Padre Cícero Romão Batista, que conseguiu juntar o bando de Lampião às forças do Estado para combater a Coluna de Prestes. Está aí algo muito, muito emblemático e que faz engrandecer os poderes do padre.

Há alguns dias comprei o extraordinário livro "Milagre em Joaseiro", de Ralph Della Cava, o famoso e renomado texto do brasilianista americano. O livro é um baita estudo, uma referência necessária à vida de Padim Ciço. Pretendo lê-lo futuramente. Outra importante fonte de estudos são os livros do pernambucano citado no programa abaixo - Frederico Pernambucano de Melo.

 

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