domingo, abril 15, 2018

Ian Curtis, um gênio morto precocemente

Cartaz para o filme Control
O rock sempre foi um movimento dinâmico, uma fábrica de mitos; de sujeitos geniais, perturbados, incompreendidos e com fortes propensões para a autodestruição. Foi assim com Jimmy Hendrix, com Jim Morrison, com Bon Scott ou Kurt Cobain. Aqueles que não morreram ainda como, por exemplo, Ozzy Osbourne ou Iggy Pop, causam grande espanto pelas loucuras e imprudências provocadas contra a própria saúde.

Há alguns dias, assisti pela segunda vez ao filme Control (2007), do holandês Anton Corbijn. A obra é uma homenagem ao lendário vocalista do Joy Division, Ian Curtis. O músico, à semelhança de outros icônicos artistas, também esteve na esteira da autodestruição e acabou por cometer suicídio aos vinte três anos. O filme tem como intérprete de Curtis Sam Riley, que está muito bem no filme. Outro ponto forte é a semelhança física com Curtis. Riley mais tarde encenaria a adaptação da famosa obra On the Road, de Jack Keroauc. Na atuação do filme sobre o livro de Kerouac, Riley também está muito bem, embora o filme deixe a desejar. Tentar imitar as sutilezas febris, a velocidade; a agilidade das cenas; a movimentação frenética dos personagens de Kerouac; as experiências com drogas e sexo é, simplesmente, impossível. 

O fato é Riley consegue representar muito bem a personalidade do misterioso Ian Curtis. O vocalista chamava atenção nas apresentações ao vivo pelos movimentos enérgicos; pelas performances que imitavam os ataques de epilepsia que o acometia sempre. Os ataques eram constantes. Às vezes, as convulsões surgiam em meio a uma apresentação. O público não distinguia se era a performance arrebatada, frenética ou se era mais um ataque.
Ian Curtis em alta performance
Curtis foi um poeta soturno. Desde a adolescência, sempre prestara atenção na cena musical britânica. O punk estava em alta, mas ao mesmo tempo havia monstros sagrados espargindo cintilações lisérgicas como, por exemplo, Lou Reed ou David Bowie. Estes dois nomes foram caros para ele. Sua banda, o Joy Division, pode ser classificada como do cenário pós-punk. Mas as letras estão mergulhadas numa atmosfera que muito diverge do movimento punk. O efeito discordante começa pela voz lúgubre de barítono de Curits. Músicas como Atmosphere ou Love Will Tear Us Apart, que estão entre as suas principais gravações, criam um cenário sombrio, de volumosas nuvens cinzentas. Sua voz nos arrasta para uma melancolia leve e atordoante. Curtis como todo sujeito sensível parecia antever determinadas realidades. Era excêntrico por natureza como todo o gênio. 

Até que viu na morte a possibilidade de libertação para os males que o oprimia. Ficamos questionando quais razões teriam levado um garoto tão talentoso como ele a fazer isso. A letra de Love Will Tear Us Apart (que escuto agora) é soberba - "O amor vai nos separar". É um daqueles paradoxos que comprimem a nossa inteligência, que nos empurram a fazer um malabarismo com a razão. Como o amor pode separar? Certamente, trata-se de uma inusitada provocação; de um escracho para as sentimentalidades. Talvez, Curtis tenha se baseado em sua relação conturbada com a sua esposa Deborah Curtis. Mas, o fato é que a letra transcende a sua relação. Ela evola-se. Ganha contornos delicados, a liberdade singela de uma delgada pena.  

A música transmite esse sentimento de ruptura. As batidas ritmadas, o baixo a marcar a viagem e a sua voz grave dizendo que a rotina corrói as ambições e aponta para caminhos separados e, assim, o amor pode dilacerar, fazer mal, asfixiar, tornar-se tóxico. E para isso não há controle. Com a sua morte, houve a dissolução do Joy Division. Os músicos acabaram por formar o New Order.

Por esses dias, separei para ler a biografia escrita por Deborah Curtis, a mulher de Ian, cujo título é: "Tocando a Distância. Ian Curtis e Joy Division".

Um comentário:

Sidmar Garcia disse...

Oi Carlinus! Tudo bem? O que aconteceu com oserdamusica?
Me mande um e-mail: sidmargarcia@gmail.com