domingo, abril 21, 2019

"Lisístrata", de Aristófanes

Li neste feriado a deliciosa comédia Lisístrata, de Aristófanes. A obra possivelmente foi encenada em 411 a.C., num festival de comédias. Aristófanes, o seu autor, é considerado o maior comediógrafo da Antiguidade. Ele nasceu possivelmente entre os anos de 444 e 447 a.C., em um período bastante rico no que tange à produção cultural na Grécia. Morreu por volta de 385 a.C. Ou seja, a sua vida está dentro daquele período em que nomes como o de Socrátes, Platão e Aristóteles viveram. Ele recebeu uma educação bastante sólida. Seu local de nascimento é ignorado. 

Aristófanes escreveu mais de quarenta peças. Dessas quarenta, apenas onze são conhecidas. As demais se perderam. Tenho intenções de realizar a leitura de As nuvens e As rãs, duas outras obras importantes do comediógrafo. Suas obras fazem críticas mordazes às imposturas, aos desmandos, à corrupção, à megalomania da sociedade em que viveu. Nesse sentido, pode-se afirmar que Aristófanes via com certa desconfiança as mudanças que eram perpetradas de seu período histórico. Seus diálogos são ricos e expressivos. São diretos. Cortantes. Lancinantes, atingindo em cheio o propósito para o qual foram produzidos.

Em Lísistrata, o autor cria uma situação bastante singular, numa sociedade machista como a sociedade grega. As protagonistas são algumas mulheres, lideradas pela personagem de mesmo da obra. Em um tempo em que os homens se devotavam à guerra e negligenciavam as suas famílias, as mulheres decidem fazer uma greve de sexo até que os conflitos cessem. Inicialmente, a proposta de Lisístrata é vista com total desconfiança pelas outras mulheres. Todavia, decidem acatar a proposta, quando percebem que a espartana Lampito aquiesce com a proposta de Lisístrata. Começa a partir daí uma sucessão de conflitos, principalmente com as autoridades. O movimento ganha proporções. Chega a Esparta e influencia a Guerra do Peloponeso. 

O que chama a atenção são os diálogos entre as personagens. Há uma riqueza no debate das questões que transcendem a história. Muitos das questões suscitadas na obra ainda são debatidas no dia de hoje. Como exemplo, temos a seguinte fala de Lisístrata: "Só a pretensão masculina julga que administrar um estado é mais difícil do que administrar um lar". Boa parte dos diálogos da obra é o debate entre Lisístrata e os representantes da masculinidade - Coro de velhos, o comissário, embaixador de Esparta, cidadão ateniense etc. Lisístrata é uma obra fascinante. Há sutilezas maravilhosas - que, acredito, foram acentuadas com a excelente tradução de Millôr Fernandes. 

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