terça-feira, abril 14, 2020

"A Aventura", de Michelangelo Antonioni.

 
A Aventura é um filme ítalo-francês, produzido em 1960 e dirigido por Michelangelo Antonioni. As credenciais, talvez, não impressionem a um espectador desavisado. Todavia, ao mencionar o nome do italiano, os sinais de atenção já devem ser ligados. Antonioni foi uma figura importante para o cinema italiano - e, principalmente, para o enobrecimento da sétima arte, elevando-a a um nível filosófico sofisticado e esteticamente impecável. 

De Antonioni, já vi Blow Up - depois daquele beijo, uma obra envolvente e repleta de suspense. Dessa vez comecei a ver a conhecida Trilogia da Incomunicabilidade. Trata-se de três filmes absurdamente densos e belos. O primeiro deles é A Aventura (1960), em seguida segue A Noite (1961) e, o último, O Eclipse (1962). Os três filmes são estrelados pela bela Monica Viotti, hoje, com 88 anos de idade.

Em A Aventura, nota-se uma obra com belas tomadas de cena; ênfase nas imensidões (planícies, mares etc); e a típica beleza e bom gosto italianos. O cinema italiano da época em que a obra foi produzida já havia passado por aquilo que ficou conhecido como "realismo italiano", que colocava em evidência a luta de classes em um estado italiano empobrecido pela Segunda Guerra e metido em um complexo caos político por conta do fascismo. Os filmes buscavam retratar a situação da classe trabalhadora. Um exemplo disso é o belíssimo Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica.

A enigmática cena final de A Aventura
Em A Aventura a ênfase é colocada sobre um grupo de italianos ricos. Enquanto nos filmes com a temática do realismo italiano encontramos o drama material, em Antonioni encontramos o drama existencial, ou seja, reflete-se sobre o imponderável e intangível material de que é feito o ser humano. Há angústias impensáveis, impossibilidade de paixão, traição; a insinuação da inconstância do ser humano. O cineasta italiano premia os amantes do cinema com uma obra cujo efeito metafórico é sempre de fuga, sempre de movimento. Os personagens parecem perdidos nas imensidões, nas planícies sugestivas. Há sempre uma busca por algo que nunca se torna presente.

Por fim, Antonioni faz uma crítica à sociedade moderna com seus movimentos tresloucados e incertos, que não levam a lugar nenhum. Aponta sua genialidade para a impossibilidade de concretização da felicidade; para a impossibilidade de comunicação, de acerto. Os outros não estão certos do que querem. Nutrem expectativas vazias sobre aquilo que desejam. Aliás, nem sabem o que desejam.

A Aventura é considerada uma das obras máximas da história do cinema. Comecei a ver O Eclipse.


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