quarta-feira, abril 21, 2021

"Punk", o documentário.



“Eu nunca vi o ‘punk’ como movimento. Na minha opinião, eles são politizados [os movimentos]. Eles têm uma finalidade para conseguir alguma coisa. Mas, como movimento, qual era o objetivo do ‘punk’? Consegui mais adeptos? Isso ele conseguiu rápido. ‘Punk’ é uma cultura; uma cultura de rebeldia. Nós estamos falando de uma cultura energética e inspiradora. Ela estimula a adrenalina e o cérebro a fazerem coisas, mesmo que seja só sair de casa e quebrar tudo”.

Jello Biafra, ex-vocalista do Dead Kennedys.

Terminei de assistir à série “Punk” (disponível no GloboPlay). Trata-se de um documentário, mas foi dividido em quatro episódios, o que passa a ideia de ser uma série. A primeira confissão a ser realizada é de que se trata de algo muito bom. Cada capítulo (com pouco mais de cinquenta minutos) procura trabalhar a cronologia do movimento. Dessa forma, procura-se explorar o movimento, do final dos anos 60, ao final dos anos 90. Ao terminar, fica uma mensagem de que ainda há algo no ar; o movimento ainda continua respirando – apesar das muitas mudanças na indústria fonográfica - e inspirando jovens. É só olhar na direção certa.

O documentário possui como curador e produtor um dos nomes mais importantes da história do rock – Iggy Pop, fundador do “The Stooges”, uma banda considerada por muitos como aquela que iniciou o movimento. Iggy conta como se deu a criação da banda, revelando muitas das atitudes do grupo no final dos anos 60. Suas apresentações eram, geralmente, marcadas por atitudes e acrobacias impensadas. O público ficava embasbacado com as performances.

Logo em seguida, outros nomes importantes vão surgindo. Um dos pesos pesados que devem ser mencionados é o MC5, que esbanjou ao longo de sua trajetória um viés mais político. Foi perseguido por isso, tornando-se alvo da violência policial.

O surgimento do termo “punk” é controverso. Quando se deu a denominação aos seguidores do movimento de “punks”, a palavra possuía uma conotação negativa. Ela estava associada ao contexto homoafetivo. Aqueles que eram chamados assim, haviam se tornado alvo do julgamento moral.

O documentário desloca os eventos em dois grandes centros – EUA e Inglaterra. Sendo assim, a primeira geração do movimento foca em bandas como “The Stooges”, “MC5”, “New York Dolls”, “The Dead Boys” e “Blondie”. Vale ressaltar que o movimento foi marcado, nos EUA, pelo surgimento dos Ramones, que consolidou uma estética muito peculiar – calças “jeans” rasgadas, blusa branca, Jaqueta de couro, tênis e cabelos compridos. Era o visual básico de motoqueiros com fisionomia para poucos amigos. Trata-se um visual arquetípico e que remete ao movimento, à juventude e à liberdade. Influenciados pelo “The New Yok Dolls” e pelo “Television” na cena nova-iorquina, os “Ramones” eram figurinhas carimbadas e atrações cada vez mais relevantes no lendário bar CBGB. Vale ressaltar que o CBGB foi responsável por abrigar essas abandas, servindo como cenário para manifestações emblemáticas e revolucionárias de uma geração. Em poucas palavras: impossível dissociar a importância do bar para a consolidação do movimento.

Logo em seguida, nota-se que há uma mudança para a Inglaterra. Em terras da rainha, o “punk” ganha uma forte carga política e social. Enquanto o movimento nos EUA flertava com elementos banais – brincadeiras, conseguir garotas; brincadeiras em torno de bebedeiras etc, na Inglaterra houve um fermento crítico intenso.

No final dos anos 70, a Inglaterra passava por sérios problemas econômicos. Tornou-se uma plataforma para os experimentos neoliberais de Margareth Thatcher, “a dama de ferro”, a partir de 1979, diminuindo a força dos sindicatos, desregulamentando o estado inglês, bem como privatizando boa parte dos serviços públicos. Passou a haver uma menor cobertura social para população menos favorecida. Os jovens se viam numa situação instável: ou estavam desempregados ou vendiam sua força de trabalho por um salário irrisório.

Foi assim que, abandonou-se a cultura pacificadora dos “hippies” por um movimento que usava o poder jovem e a atitude para criticar o sistema. O movimento “punk” inglês viu surgir bandas engajadas. É caso do “The Clash”. Mas, pode-se citar o “The Sex Pistols”, “The Damned” e “The Slits”. Curiosamente, conforme conta o documentário. Essas bandas ficavam restritas em guetos – bares e clubes. Não havia uma capilaridade do movimento em solo inglês. Ele estava restrito a certos grupos. Foi a ida dos “Ramones”, a banda nova-iorquina, um dos ícones do movimento, que tudo mudou. Após a excursão do grupo de Joey Ramone, a juventude inglesa foi incendiada. Foi graças a isso que o tão famoso movimento do “punk” inglês não se tornou um movimento marginal, mas acabou ganhando as massas.

Ao longo da explanação desses eventos, Johnny Rotten, antigo vocalista do “Sex Pistols” faz inúmeras afirmações sobre os eventos marcantes com a sua banda e com a história que vivenciou. Nota-se um “Rotten” insinuantemente controverso, gordo, malvestido, indigesto, “vomitando” palavrões com bastante naturalidade, o que transparece o aspecto mais virulento de sua personalidade. Se ainda se encontra assim, imagine à época em que os “Sex Pistols” estavam no auge.

Logo em seguida, o documentário volta-se para o movimento nos Estados e o quanto de violência passou a existir. Outro fato importante – isso já nos anos 80 – foi o surgimento do “hardcore”, uma sonoridade mais rápida e agressiva. Vale ainda mencionar o surgimento de de bandas como “Black Flag”, “Dead Kennedys”, “Bad Brains” as quais passaram a ser seguidas por grupos fascistas e nazistas. E alguns – como o caso do “Dead Kennedys” – passaram a ser perseguidos por eles. Outro fato é o machismo e a misoginia incrustada no movimento. As mulheres não possuíam muito espaço.

Criou-se, por conta disso, mais tarde, o movimento feminista “Riot Grrrl”. E desse movimento surgiram bandas como “L7” e “Bikini Kill” para denunciar a misoginia existente no movimento. O movimento “Riot Grrrl” buscava revelar o quanto aqueles homens brancos que se diziam oponentes do sistema, eram misóginos. Sendo assim, as bandas participantes do movimento buscaram enfatizar o protagonismo das mulheres como participantes do “punk”. Ou seja, o quanto elas poderiam contribuir.

No último episódio, há uma ênfase nas bandas que surgiram nos anos 90 – “The Offspring”, “NOFX”, “Green Day”, “Pennywise”. Os membros desses grupos revelam o quanto o movimento “grunge” foi importante para alavancar essas bandas, principalmente o Nirvana. Para eles, a banda de Kurt Cobain foi responsável por alavancá-los quando do lançamento de “Nevermind” (1991), o icônico disco do Nirvana.

Finalmente, há uma reflexão sobre as mudanças ocorridas com o advento da internet e o quanto esta foi responsável pelo enfraquecimento do movimento. Para eles, a possibilidade de “baixar” música matou a indústria fonográfica, dando prejuízos absurdos às bandas. Claro, que essa é a perspectiva dos artistas – e, por isso, válida. Afinal, eles sentiram verdadeiramente as mudanças. Com o advento da internet foi necessário se repensar a forma como as músicas deveriam alcançar o grande público. É um problema para as gravadoras, mas também para os artistas. As tecnologias não devem ser encaradas como vilãs apenas; devem ser vistas, também, como aliadas potenciais.

O documentário é muito bom. Não inova. Quem já conhece o movimento não vai se sentir impressionado. É algo relevante feito para aqueles que querem ter um contato inicial com o movimento. Duas qualidades devem ser apontadas: (1) as imagens muito bem escolhidas; (2) o depoimento de importantes nomes que fizeram o movimento: Flea (“Red Hot”), “Iggy Pop” (“The Stooges”), Henry Rollins (“Black Flag”), Debbie Harry (“Blondie”), Jello Biafra (“The Dead Kennedys”), Marky Ramone (“Ramones”), Wayne Kramer (“MC5”), Duff MacKagan (“Guns n’ Roses”), entre outros. 
 

3 comentários:

koloveli disse...

compartilha aí esse documentário... lçkçlçççlçl

Carlinus disse...

Rrrrrsss...

Como é que cê tá, rapaz? Aparece.

koloveli disse...

Vocês não tem tempo não e mudaram de casa... lkçklçlklç
Minha linha antiga de celular parou de receber sms e eu parei de colocar crédito (meu número agora é 994611903);
falou!