quarta-feira, abril 07, 2021

Morre o gigante Alfredo Bosi


Morreu, hoje, o professor Alfredo Bosi. Uma perda irreparável. Figura de ponta do pensamento brasileiro, Bosi foi fulminado pela COVID-19, essa matadora implacável e negligenciada por um governo associado ao vírus. Bosi tinha 84 anos de idade. Estava lúcido. Apesar da idade, tinha muito ainda o que contribuir com o país. 

O primeiro contato que tive com ele se deu no curso de Letras. Qualquer sujeito que estudar literatura, precisa passar por ele. Seu "História Concisa da Literatura Brasileira" ainda hoje é uma referência. Apesar do nome "conciso" trata-se de uma manual de análise escrito de forma clara, com as palavras medidas, polidas, sobre a produção literária do Brasil. Há uma forte preocupação em fazer com que o social e o histórico dialoguem com a produção estética. E aí reside uma das suas marcas.

Mais tarde, comprei outros livros dele: "Dialética da Colonização", "Machado de Assis - o enigma do olhar" e "O ser e o tempo da poesia". 

Ao longo da vida ganhou inúmeros prêmios. De voz mansa e vocábulos medidos, Bosi deixa enormes lembranças nos seus ex-alunos. Seguem abaixo, algumas palavras de Lillia M. Schwarcz, extraídas do Instagram

"Acaba de falecer o querido Professor Bosi, que deixa de luto e enviuvados uma legião de alunos, amigos, colegas e admiradores. Alfredo Bosi tinha formação em literatura italiana e vasto conhecimento em filosofia, passando por Vico, Hegel, Croce, Lukács e Gramsci. Com o tempo passou a se dedicar sobretudo à literatura brasileira, escrevendo livros fundamentais como “História Concisa da Literatura Brasileira”, já em 1970. Da mistura entre Gramsci e Croce inventou uma forma própria de crítica literária que, sem abrir mão da análise estética, incluía a questão política e social. O professor Bosi foi militante junto a um grupo operária em Osasco nos anos setenta e também atuou no Centro de Direitos Humanos D Paulo Evaristo Arns, e na comissão de Justiça e Paz. Os livros “O ser o tempo da poesia” (1977), “Dialética da colonização” (1992), “Literatura e resistência” (2002) e “Ideologia e contraideologia” (2010) são provas do intelectual brilhante, do crítico literário humanista e comprometido com a democracia. O professor Bosi era membro da Academia Brasileira de Letras, foi casado com sua eterna companheira Ecléa Bosi, e era pai de Viviana, crítica literária como ele, e de José Alfredo, economista com formação em ciência ambiental e médico. Bosi estava internado com Covid e não resistiu. Precisávamos tanto dele lutando conosco por um país mais justo e democrático. Vai fazer e já faz muita falta".

Abaixo, três vídeos do mestre com sua profundidade e elegância eruditas.  


2 comentários:

Frazec (vulgo Jean-Philipe Rameau) disse...

Uma tristeza só, Carlinus! Tenho ficado silente nestas últimas postagens, mas as acompanho e admiro. Só nada escrevo, por estar tomado da tristeza que nos assola.
Um homem como esses morre enquanto irresponsáveis negligentes sobrevivem.
Ao menos Bosi deixa inteligência e lucidez para trás! Já os outros...

Carlinus disse...

Verdade, Frazec! É como se estivéssemos vivendo em terra arrasada. A cada dia uma nova tragédia, a cada dia uma nova tristeza.

Cuidemo-nos!

Um abração para você!