segunda-feira, abril 12, 2021

“Inocência”, de Visconde de Taunay.





Durante o século XIX, alguns escritores deram vasão a uma experiência sertaneja. O Brasil com sua extensão enorme e seu interior ainda pouco explorado promovia um impulso a essas intenções. Procurava-se com isso encontrar a essência do homem brasileiro nos vastos rincões ignorados do país. Vale mencionar que o Brasil era um país que ainda não conhecia o florescimento urbano que somente ocorreria com o deslocamento do eixo econômico para as grandes cidades, principalmente com a industrialização ocorrida a partir de 1930, coincidindo com o fim da República Velha, essencialmente oligárquica e agrária, e os anos do Governo Vargas.

Ainda no século XIX, escritores como Bernardo Guimarães, Franklin Távora, José de Alencar e Visconde Taunay, tentaram descrever essa face ignota do país. Soma-se a isso a estética idealista do romantismo, preocupado com a construção de arquétipos com força representativa.

Nesse sentido, como afirma Alfredo Bosi, Visconde de Taunay (1843-1899) é aquele que “tinha condições de dar ao regionalismo romântico a sua versão mais sóbria”. Essas características saltam de imediato do texto de Taunay. O seu nome sempre me chamou a atenção. Sempre mantive contato com o seu livro mais famoso – “Inocência” – mas sempre me ausentei dele por causa do nome (sic). Julgava que o nome estranho, talvez, evidenciasse uma história enjoativa. Claro, trata-se de um critério tolo – julgar um escritor pelo nome. Taunay tinha ascendência francesa. O seu nome era Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay. Foi político, escritor, sociólogo, engenheiro militar, historiador, músico, professor. Essa plêiade de formações atesta sua estatura intelectual bem como a influência do seu texto.

Participou da Guerra do Paraguai como engenheiro militar, entre os anos de 1864 e 1870. Essa experiência é narrada em “A retirada da Laguna”.

O romance “Inocência” é a sua mais relevante produção artística. O livro é agradável de ser lido. Escrito em 1872, “Inocência” já evidencia as mudanças estéticas por que passava o Romantismo, que marchava em direção ao Realismo e ao Naturalismo.

Taunay procura retratar a história da doce, mas infeliz “Inocência”, que vive na província de Mato Grosso. O escritor procura retratar com rara beleza a natureza do lugar. Isso, por exemplo, se faz sentir no capítulo que abre o livro. Somos bombardeados por uma escrita lapidada, preocupada em fotografar o espaço natural. Em Taunay, já não percebemos as incursões exageradas de Alencar. Taunay é mais “jornalístico”. Talvez, a carreira militar tenha dado a ele esse aspecto mais contido. É, por isso, que Bosi fala em “sobriedade”.
Visconde de Taunay

“Inocência” é um romance em que o verossímil é possível. Não possui um aspecto puramente ideal ou mítico como em Alencar – outra vez.

Como conhecedor das ciências humanas – história e sociologia – Taunay procura retratar os valores e costumes sertanejos. Mas, vale ressaltar que essa característica não tem nada a ver com o naturalismo. Taunay não está preocupado em comprovar uma tese; não torna os seus personagens em meros títeres do meio.

Taunay mescla o romantismo com um enredo carregado de realismo. Observando as características da obra, pode-se afirmar que o livro possui romantismo, realismo, drama e comédia. Os personagens apresentam características e humores bastante variados. Vai desde o comportamento atrapalhado do alemão Meyer ao aspecto rude e inculto de Manecão; do aspecto sombrio de quem se esgueira pelos cantos do anão Tico ao altruísta e apaixonado Cirino; da bondade angélica e amedrontada de Inocência ao rigor conservador de Pereira.

Outro fato importante a ser mencionado é como a figura da mulher é mostrada na obra. Pereira promete a jovem Inocência a Manecão. Vale especular que ela tivesse de 15 a 17 anos. A promessa deveria ser cumprida. A questão da honra prevalecia sobre a vontade individual. Pereira ameaça a própria filha, caso ela não cumpra o acordo e case com Manecão.

O final do livro é shakespereano. O amor impossível entre Inocência e Cirino faz lembrar a história de Romeu e Julieta, uma das histórias mais famosas da literatura.

Vamos, agora, ao quarto livro – “Memorial de Aires”. Já o estamos lendo.

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