segunda-feira, maio 15, 2023

Uma resposta a partir de uma questão suscitada no WhatsApp


São boas as perguntas. Eu entendo a sua preocupação. Mas, não seria importante analisar o conteúdo daquilo que está sendo julgado?

Você acha que as decisões do Alexandre são meros caprichos jurídicos?

Não acredito que o Randolfe esteja sendo privilegiado pelas decisões do STF. Falar em ditadura do STF é bastante forte. É a retórica usada pelos bolsonaristas. Estamos a falar da instância máxima de decisões jurídicas do país. Com exceção do Kássio Nunes e do André Mendonça, penso que os demais ministros estejam à altura da Corte. Eu acredito que a culpa do STF foi ter se omitido em anos anteriores, quando permitiu que absurdos continuassem a ser praticados. Um exemplo foi a conivência com a existência da lava-jato e o acovardamento diante das notas golpistas de alguns milicos de pijama.

Mais uma vez: o PL é necessário. Condená-lo na integralidade é um erro. O PL não é do Governo atual. Ele está sendo debatido desde 2020; o PL não concede poderes de censura ao Governo. Ele “moraliza” o uso e a forma como as plataformas disseminam informações.

Outra questão importante: um amplo espectro da vida social é regulado por normas. Por exemplo, existem regras de como você deve negociar; regras para construir a sua casa; até que ponto o seu muro deve avançar na calçada; regras de como se deve comercializar alimentos. A forma como você conduzir o seu veículo. Ora, por que não deve haver regras para organizar o uso de um espaço tão imponderável como as redes sociais?

Semana passada, a Revista Piauí fez uma reportagem bastante interessante sobre o número de brasileiros conectados à internet. Os números são avassaladores. Atualmente, 84% dos brasileiros têm acesso à internet (181,9 milhões). Em 2013, eram 102 milhões.  O crescimento em uma década foi de 78%. A quantidade de brasileiros com internet, mas sem saneamento básico equivale à população do Equador. Ou seja, o total chega a 18 milhões de pessoas. Segundo a reportagem, esse valor é duas vezes a população da Áustria.

Dentre os brasileiros conectados, mais de 9 milhões recebem salário inferior a 550 reais e 1,27 milhões não têm acesso à água potável. Os brasileiros gastam tanto tempo na internet quanto ingleses e japoneses somados. Em 2022, um brasileiro médio passou 9 horas e 32 minutos na internet por dia. O brasileiro passa o dobro de horas que um americano no Instagram. Em média, o brasileiro gasta, por mês, 15 horas e 54 minutos. É uma das médias mais altas do mundo. Só perde para os filipinos. São 954 minutos. Lendo uma página por minuto, seria possível ler um livro de 954 páginas em um mês. Seguindo essa matemática, seria possível ler o "Ulisses", de James Joyce ou "O homem sem qualidades", do Robert Musil. No Yutube são 22 horas. No Facebook, 12 horas; no Twiter, 12 horas e 48 minutos.

O caso do WhatApp impressiona. Por mês, os brasileiros ficam 28 horas e 36 minutos. Daria para ler "Guerra e Paz", do Tolstoi (risos). Os franceses ficam em média 5 horas e 30; os australianos, 5 horas e 36; os estadunidenses, 7 horas e 24; os canadenses, 7 horas e 36.

Esses dados comprovam a necessidade de que haja uma legislação para impedir abusos. As crianças, adolescentes e jovens são os alvos preferenciais dessas plataformas. Além disso, existem outras com um potencial de demolição muito maior. No Brasil, não resolvemos os dramáticos gargalos da educação básica, mas quase que conseguimos que a integralidade da população tenha acesso à internet. São as contradições que nos assolam. 

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