Este pequeno texto é um comentário livre a um artigo que li para a aula da matéria de "Medievalismo e Renascimento" do curso de Letras. Quem quiser ler o artigo na íntegra clique no link a seguir: http://www.milenio.com.br/ingo/ideias/hist/casament.htm. A foto ao lado é de Sofonisba Anguissola, uma feminista que quebrou os clichês montados pela Igreja e pela mentalidade da época - excelente pintora e escultora de obras admiradas por reis e rainhas da época, Sofonisba consititui uma antítese a esse período controverso. Espero que o texto agrade. Um abraço carlino.
O texto bíblico do Gênesis afirma que quando se deu a consumação do “pecado original”, Deus teria sentenciado: “O teu desejo [mulher] será para o teu marido”. Desse modo foi construído ao longo da história de Israel um tipo de postura seriamente machista. O direito da mulher, em Israel, partia de uma compreensão da divindade descida para o homem. Por exemplo, o homem podia divorciar-se da esposa “por ter ele ter achado coisa indecente nela”, mas à esposa não era permitido divorciar-se do marido por nenhuma razão.
A Torá de Moisés afirmava que a esposa suspeita de ter relações sexuais com outro homem devia fazer prova de ciúmes. Contudo, não havia prova nenhuma contra um homem acusado de infidelidade contra a mulher. Um homem podia fazer um voto religioso e esse voto tornava-se válido; por sua vez, o voto feito por uma mulher podia ser anulado pelo seu pai (ou se ela fosse casada) pelo marido. Ou seja, uma menina era educada para obedecer o pai sem questionar. Depois, quando se casava, devia obedecer o marido da mesma forma. Quando se nascia uma filha, era bem menos recebida do que se fosse um filho. Os meninos eram ensinados a tomar decisões e a governar as suas famílias. As meninas eram criadas para se casar e ter filhos. A mulher podia ser comprada e vendida. A mãe lhe ensinava a cuidar da casa e a criar filhos. Esperava-se que ela desse muitos filhos ao marido. Se a mulher não tinha filhas, era tida como amaldiçoada ( TENNEY e at., 1988).
Paulo de Tarso, já nos tempos do Novo Testamento, afirma que “o homem era o cabeça da mulher, assim como Cristo era o cabeça da Igreja”. Em trechos de cartas do Novo Testamento o chamado apóstolo dos gentios, que foi responsável pelo bem-sucedido proselitismo no Império Romano, leva as suas concepções judaicas para o mundo Antigo. Paulo como bom judeu na carta que escreveu para ao seu discípulo Timóteo, diz: “A mulher aprenda em silêncio, com toda submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”( II Tm 2.11-14). Percebe-se com muita clareza que a lógica nos quais se enquadra o pensamento de Paulo deriva, antes de tudo, de uma forte base estrutural no pensamento judaico, que tinha a mulher como um ser inferior em relação ao homem.
Já no Timeu de Platão e na Política de Aristóteles foi atribuída à mulher uma natureza secundária em relação ao homem à semelhança dos judeus. O macho tinha prerrogativas absolutas em relação à fêmea. Para Aristóteles, a mulher não passava de uma “evolução detida”. Em suma, aquilo que estacionou estanquimente – evolução involuída. Em Roma, por exemplo, dizia Catão que se um homem surpreendesse a sua esposa em adultério se poderia matá-la. Não haveria culpa para o castigo. Porém se o adúltero fosse o homem, nem um direito teria a mulher, que não poderia tocar o homem – nem com o dedo. Os romanos contavam uma história apócrifa de um certo Egnatius. A mulher desse homem tinha sido surpreendida pelo marido no ato e beber certo licor precioso. Isso bastou para que o marido a matasse a pauladas (ROSA, s.d).
No Oriente também havia esse consenso. Na China, por exemplo, a mulher era tida como inferior ao homem, por acreditar-se ser ela inferior aos olhos dum Ser Supremo. Escreveu Confúcio: “O homem é a representação do ciclo e está por cima de todas as coisas; a mulher obedece às ordens do homem e o ajuda na realização dos seus princípios. Desse modo, nada pode resolver por si mesma e está sujeita à regra das três obediências: solteira, deve obedecer aos seus pais e aos seus irmãos maiores; casada, obedecerá ao seu marido; viúva, obedecerá aos filhos”(sic) (ROSA, idem).
Sob vários aspectos, a Idade Média constitui um dos períodos mais enigmáticos da História Ocidental. Vários escritos têm surgido com o fim de retratar e descrever esse período de forte religiosidade. O período conhecido como medieval esteve debaixo do tacão da Igreja como a grande instituição que resistiu às intempéries do desmantelamento do Império Romano. Ela consolida a fé cristã como a religião hegemônica do Ocidente. Para isso, utiliza-se de todas as armas e influências que passam a subjugar todas as mentalidades.
Podemos afirmar que o homem medieval era um ser assustado. Uma criatura amofinada. Crédulo numa realidade construída pela Igreja, como a Grande Mãe de todos os homens. A Igreja é Católica, porque é Universal. Ou seja, é a Igreja de todos os homens. Ela tem o poder de legislar sobre tudo o que dizia respeito à vida. Assim, todas as relações, produções, sistematizações deveriam passar pelo seu crivo. Por sua vez, as ações defendidas por Roma deveriam ser acatadas sem resmungos, oposição ou questionamento.
É a partir dessas prerrogativas de poder temporalmente eficaz, que a Igreja passa a arbitrar sobre a política – a Igreja tirava reis e colocava reis; sobre a religião – a Igreja era única, imaculada, imarcescível; o papa o grande juiz que se assentava na cadeira de Pedro e tinha o poder de mover céus e terra. Sobre as produções artísticas(cultura) – a arte produzida nesta época deveria representar as realidades metafísicas, invisíveis. Tudo aquilo que fosse material e terreno era impuro. Portanto, o corpo, a vida, natureza estavam manchados pelo pecado. A Igreja cria, baseada no pensamento de Platão, um mundo dual. Ou seja, um dualismo que estabelecia a existência de duas realidades distintamente classificadas: de um lado o mundo do clero, perfeito, santo, espiritual. Formado em sua essência pelos bispos e os clérigos em geral. Tal classificação criava uma classe de privilegiados. Daqueles que tratavam das coisas santas, espirituais. Esse tipo de pensamento ainda domina sob vários aspectos a mentalidade dos homens. Os religiosos ainda são vistos como modelos de virtude e excelência. Por outro lado, havia o mundo habitado pelos leigos. O mundo físico, da matéria. Nele estavam os homens comuns. Que realizavam atividades comuns. Que carpiam o campo, criavam animais. Essa fatia passou a ser chamada de leigos. O termo secular ou saeculorum foi cunhado nesta época. Dizia respeito às questões “mundanas”, “profanas”. Em suma, aquilo que estava fora da igreja; afastado do clero.
Em suma, a Igreja Católica e Apostólica Romana validou o pensamento da Antigüidade. Ela como grande instituição que herdou todo o séqüito cultural dos antigos. Muitos costumes se cristalizaram e se tornaram mandamentos. No que dizia respeito à concepção hebraica sobre como teria que se efetuar as relações maritais, a Igreja preservou em muito essa visão. Por exemplo, o bispo Tertuliano afirmava que a mulher era uma espécie de “porta do inferno”. No ano de 585 d. C, o concílio de Mâcon, reunido na cidade de mesmo nome, colocou em dúvida a possibilidade da mulher ter alma à semelhança dos homens(CUNHA, 1995).
Olhando sob este ponto de vista histórico, a Idade Média apenas reproduziu o consenso que havia em torno da figura da mulher. Sempre mal vista, a mulher como é observada hoje: ativa, buscando o seu espaço no mercado de trabalho, competindo de igual para igual com os homens, assumindo altos cargos em tribunais e várias outras corporações, é fruto de uma revolução recente. Podemos chamar de revolução, porque o presente momento para a mulher se configurou nos últimos 50 anos. Com o término da Idade Média, a situação da mulher continuou a mesma. Na Rússia dos czares, por volta de 1790, havia um ditado que dizia: “assim como uma galinha não é um pássaro; a mulher não é um ser humano”. (ROSA, idem).
De certo modo, podemos afirmar que as Cantigas de Amor Cortês que surgiram na Idade Média, cantigas essas feitas em homenagem a uma mulher(uma musa), não significavam em sua essência uma ação respeitosa em relação à mulher. A mulher era o mesmo ser pequeno, atrofiado que a história produziu. Tratava-se de uma enlevo poético possibilitado pela arte. A mulher era propriedade do seu marido. Com ela o marido podia fazer o que quisesse. Dirigia-se a ele com formas de tratamento respeitosas como "meu amo e senhor". Era permitida a agressão física a mulheres quando o marido achasse que ela o havia desobedecido e as histórias de mulheres que sofriam agressões eram contadas nas vilas em tom humorístico. As agressões não podiam causar a morte nem incomodar os vizinhos, entretanto, em caso de adultério flagrante, o marido tinha o direito até mesmo de matar a própria esposa. A lei não poderia intervir em nada.
A mulher das cantigas constituíam um símbolo poético, por assim dizer: afirmado na arte; negado pela realidade. Reduzida e negada pela realidade, a mulher só existia enquanto vinculada ao marido, só a referiam como mulher dele, parte dele. O próprio designativo feminino tem em sua etimologia uma expectação preconceituosa e redutora. Palavra de origem latina, reunia em sua formação as palavras fides e minus, que significa “menos fé”, “menos crença”. O casamento como um contrato não levava em conta sentimentos de afeição da mulher para com o homem e vice e versa. Essa estrutura não privilegiava o casal. Fazia as mulheres como objetos. O amor entre um homem deve ser alimentado pela caridade cristã, sem o desejo carnal. O sexo era visto como pecado, algo sujo, deturpado, resultado inegável dos descaminhos do pecado original.
Assim, podemos afirmar que a Idade Média constituiu-se como um período de morbidez para as relações. Homens e mulheres se mantiveram embaixo da tirania “ideais” da Igreja. Às mulheres restou o descalabro. De certa forma, a Igreja apenas repetiu um consenso que havia em torno das mulheres – as mulheres como objeto, como seres submissos à vontade dos homens. A Idade Média constitui de certa forma, apenas um estágio na condução preconceituosa em torno da mulher. O machismo ainda é um aspecto constituinte na sociedade contemporânea – seja no Ocidente, seja no Oriente.
REFERÊNCIAS:
BÍBLIA. Almeida Revista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil: São Paulo, 1994.
ROMERO, Elaine(org.), Corpo, Mulher e Sociedade, Editora Papirus, Campinas, 1995.
ROSA, Ubiratan (org), Enciclopédia do Conhecimento Sexual, Editorial Amadio, São Paulo, s.d.
O texto bíblico do Gênesis afirma que quando se deu a consumação do “pecado original”, Deus teria sentenciado: “O teu desejo [mulher] será para o teu marido”. Desse modo foi construído ao longo da história de Israel um tipo de postura seriamente machista. O direito da mulher, em Israel, partia de uma compreensão da divindade descida para o homem. Por exemplo, o homem podia divorciar-se da esposa “por ter ele ter achado coisa indecente nela”, mas à esposa não era permitido divorciar-se do marido por nenhuma razão.
A Torá de Moisés afirmava que a esposa suspeita de ter relações sexuais com outro homem devia fazer prova de ciúmes. Contudo, não havia prova nenhuma contra um homem acusado de infidelidade contra a mulher. Um homem podia fazer um voto religioso e esse voto tornava-se válido; por sua vez, o voto feito por uma mulher podia ser anulado pelo seu pai (ou se ela fosse casada) pelo marido. Ou seja, uma menina era educada para obedecer o pai sem questionar. Depois, quando se casava, devia obedecer o marido da mesma forma. Quando se nascia uma filha, era bem menos recebida do que se fosse um filho. Os meninos eram ensinados a tomar decisões e a governar as suas famílias. As meninas eram criadas para se casar e ter filhos. A mulher podia ser comprada e vendida. A mãe lhe ensinava a cuidar da casa e a criar filhos. Esperava-se que ela desse muitos filhos ao marido. Se a mulher não tinha filhas, era tida como amaldiçoada ( TENNEY e at., 1988).
Paulo de Tarso, já nos tempos do Novo Testamento, afirma que “o homem era o cabeça da mulher, assim como Cristo era o cabeça da Igreja”. Em trechos de cartas do Novo Testamento o chamado apóstolo dos gentios, que foi responsável pelo bem-sucedido proselitismo no Império Romano, leva as suas concepções judaicas para o mundo Antigo. Paulo como bom judeu na carta que escreveu para ao seu discípulo Timóteo, diz: “A mulher aprenda em silêncio, com toda submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”( II Tm 2.11-14). Percebe-se com muita clareza que a lógica nos quais se enquadra o pensamento de Paulo deriva, antes de tudo, de uma forte base estrutural no pensamento judaico, que tinha a mulher como um ser inferior em relação ao homem.
Já no Timeu de Platão e na Política de Aristóteles foi atribuída à mulher uma natureza secundária em relação ao homem à semelhança dos judeus. O macho tinha prerrogativas absolutas em relação à fêmea. Para Aristóteles, a mulher não passava de uma “evolução detida”. Em suma, aquilo que estacionou estanquimente – evolução involuída. Em Roma, por exemplo, dizia Catão que se um homem surpreendesse a sua esposa em adultério se poderia matá-la. Não haveria culpa para o castigo. Porém se o adúltero fosse o homem, nem um direito teria a mulher, que não poderia tocar o homem – nem com o dedo. Os romanos contavam uma história apócrifa de um certo Egnatius. A mulher desse homem tinha sido surpreendida pelo marido no ato e beber certo licor precioso. Isso bastou para que o marido a matasse a pauladas (ROSA, s.d).
No Oriente também havia esse consenso. Na China, por exemplo, a mulher era tida como inferior ao homem, por acreditar-se ser ela inferior aos olhos dum Ser Supremo. Escreveu Confúcio: “O homem é a representação do ciclo e está por cima de todas as coisas; a mulher obedece às ordens do homem e o ajuda na realização dos seus princípios. Desse modo, nada pode resolver por si mesma e está sujeita à regra das três obediências: solteira, deve obedecer aos seus pais e aos seus irmãos maiores; casada, obedecerá ao seu marido; viúva, obedecerá aos filhos”(sic) (ROSA, idem).
Sob vários aspectos, a Idade Média constitui um dos períodos mais enigmáticos da História Ocidental. Vários escritos têm surgido com o fim de retratar e descrever esse período de forte religiosidade. O período conhecido como medieval esteve debaixo do tacão da Igreja como a grande instituição que resistiu às intempéries do desmantelamento do Império Romano. Ela consolida a fé cristã como a religião hegemônica do Ocidente. Para isso, utiliza-se de todas as armas e influências que passam a subjugar todas as mentalidades.
Podemos afirmar que o homem medieval era um ser assustado. Uma criatura amofinada. Crédulo numa realidade construída pela Igreja, como a Grande Mãe de todos os homens. A Igreja é Católica, porque é Universal. Ou seja, é a Igreja de todos os homens. Ela tem o poder de legislar sobre tudo o que dizia respeito à vida. Assim, todas as relações, produções, sistematizações deveriam passar pelo seu crivo. Por sua vez, as ações defendidas por Roma deveriam ser acatadas sem resmungos, oposição ou questionamento.
É a partir dessas prerrogativas de poder temporalmente eficaz, que a Igreja passa a arbitrar sobre a política – a Igreja tirava reis e colocava reis; sobre a religião – a Igreja era única, imaculada, imarcescível; o papa o grande juiz que se assentava na cadeira de Pedro e tinha o poder de mover céus e terra. Sobre as produções artísticas(cultura) – a arte produzida nesta época deveria representar as realidades metafísicas, invisíveis. Tudo aquilo que fosse material e terreno era impuro. Portanto, o corpo, a vida, natureza estavam manchados pelo pecado. A Igreja cria, baseada no pensamento de Platão, um mundo dual. Ou seja, um dualismo que estabelecia a existência de duas realidades distintamente classificadas: de um lado o mundo do clero, perfeito, santo, espiritual. Formado em sua essência pelos bispos e os clérigos em geral. Tal classificação criava uma classe de privilegiados. Daqueles que tratavam das coisas santas, espirituais. Esse tipo de pensamento ainda domina sob vários aspectos a mentalidade dos homens. Os religiosos ainda são vistos como modelos de virtude e excelência. Por outro lado, havia o mundo habitado pelos leigos. O mundo físico, da matéria. Nele estavam os homens comuns. Que realizavam atividades comuns. Que carpiam o campo, criavam animais. Essa fatia passou a ser chamada de leigos. O termo secular ou saeculorum foi cunhado nesta época. Dizia respeito às questões “mundanas”, “profanas”. Em suma, aquilo que estava fora da igreja; afastado do clero.
Em suma, a Igreja Católica e Apostólica Romana validou o pensamento da Antigüidade. Ela como grande instituição que herdou todo o séqüito cultural dos antigos. Muitos costumes se cristalizaram e se tornaram mandamentos. No que dizia respeito à concepção hebraica sobre como teria que se efetuar as relações maritais, a Igreja preservou em muito essa visão. Por exemplo, o bispo Tertuliano afirmava que a mulher era uma espécie de “porta do inferno”. No ano de 585 d. C, o concílio de Mâcon, reunido na cidade de mesmo nome, colocou em dúvida a possibilidade da mulher ter alma à semelhança dos homens(CUNHA, 1995).
Olhando sob este ponto de vista histórico, a Idade Média apenas reproduziu o consenso que havia em torno da figura da mulher. Sempre mal vista, a mulher como é observada hoje: ativa, buscando o seu espaço no mercado de trabalho, competindo de igual para igual com os homens, assumindo altos cargos em tribunais e várias outras corporações, é fruto de uma revolução recente. Podemos chamar de revolução, porque o presente momento para a mulher se configurou nos últimos 50 anos. Com o término da Idade Média, a situação da mulher continuou a mesma. Na Rússia dos czares, por volta de 1790, havia um ditado que dizia: “assim como uma galinha não é um pássaro; a mulher não é um ser humano”. (ROSA, idem).
De certo modo, podemos afirmar que as Cantigas de Amor Cortês que surgiram na Idade Média, cantigas essas feitas em homenagem a uma mulher(uma musa), não significavam em sua essência uma ação respeitosa em relação à mulher. A mulher era o mesmo ser pequeno, atrofiado que a história produziu. Tratava-se de uma enlevo poético possibilitado pela arte. A mulher era propriedade do seu marido. Com ela o marido podia fazer o que quisesse. Dirigia-se a ele com formas de tratamento respeitosas como "meu amo e senhor". Era permitida a agressão física a mulheres quando o marido achasse que ela o havia desobedecido e as histórias de mulheres que sofriam agressões eram contadas nas vilas em tom humorístico. As agressões não podiam causar a morte nem incomodar os vizinhos, entretanto, em caso de adultério flagrante, o marido tinha o direito até mesmo de matar a própria esposa. A lei não poderia intervir em nada.
A mulher das cantigas constituíam um símbolo poético, por assim dizer: afirmado na arte; negado pela realidade. Reduzida e negada pela realidade, a mulher só existia enquanto vinculada ao marido, só a referiam como mulher dele, parte dele. O próprio designativo feminino tem em sua etimologia uma expectação preconceituosa e redutora. Palavra de origem latina, reunia em sua formação as palavras fides e minus, que significa “menos fé”, “menos crença”. O casamento como um contrato não levava em conta sentimentos de afeição da mulher para com o homem e vice e versa. Essa estrutura não privilegiava o casal. Fazia as mulheres como objetos. O amor entre um homem deve ser alimentado pela caridade cristã, sem o desejo carnal. O sexo era visto como pecado, algo sujo, deturpado, resultado inegável dos descaminhos do pecado original.
Assim, podemos afirmar que a Idade Média constituiu-se como um período de morbidez para as relações. Homens e mulheres se mantiveram embaixo da tirania “ideais” da Igreja. Às mulheres restou o descalabro. De certa forma, a Igreja apenas repetiu um consenso que havia em torno das mulheres – as mulheres como objeto, como seres submissos à vontade dos homens. A Idade Média constitui de certa forma, apenas um estágio na condução preconceituosa em torno da mulher. O machismo ainda é um aspecto constituinte na sociedade contemporânea – seja no Ocidente, seja no Oriente.
REFERÊNCIAS:
BÍBLIA. Almeida Revista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil: São Paulo, 1994.
ROMERO, Elaine(org.), Corpo, Mulher e Sociedade, Editora Papirus, Campinas, 1995.
ROSA, Ubiratan (org), Enciclopédia do Conhecimento Sexual, Editorial Amadio, São Paulo, s.d.
TENNEY, Merril C.; PACKER J. I., WHITE JR., William, Vida Cotidiana nos tempos bíblicos, Editora Vida, São Paulo, 1988.
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