Rubem A. Alves, O que é religião?(São Paulo: Edições Loyola, 2002).
Rubem Alves nasceu em Boa Esperança, MG, em 1933. É psicanalista, bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano de Campinas, mestre em teologia pelo Union Theological Seminary em New York, doutor em Filosofia pelo Princeton Theological Seminary, Princeton.
O autor nesta obra busca dá uma definição, apontar caminhos – sejam eles filosóficos, antropológicos, sociológicos – para o que é religião. A religião que fascina o homem, que são os sonhos de amor do homem com o homem, como assim menciona o autor citando Feuerbach.
O autor inicia a sua obra explicando o fenômeno religioso na contemporaneidade. Afirma que a religião não perdeu seu poder em nossos dias. Embora se viva num tempo muito especial da história, apesar do advento de técnicas revolucionárias da ciência, do aprimoramento industrial, do desenvolvimento de métodos econômicos, verifica-se que o fascínio da religião tem permanecido como em todas as eras e gerações humanos. Ele se instala como um fenômeno subjacente, vinculado ao ser humano, posto que o homem é em si um ser religioso.
A consciência do religioso é como uma teia que se expande e amarra os elos relacionais do existir humano. Negar o sentimento do religioso seria negar o próprio sentido que toma norteios e se torna uma cartilha que inscreve as respostas que dão segurança à vida do homem. Rubem Alves diz que não se liquida a religião com abstinência dos atos sacramentais e a ausência dos lugares sagrados, da mesma forma que o desejo sexual não se elimina com os votos de castidade. Ou seja, mesmo negando ou omitindo a visibilização do religioso nos altares de fora – templos, catedrais, imagens... símbolos – a presença do religioso nos altares da alma é que dá condução à construção para o que existe como objeto externo. Deste modo, “é quando a dor bate à porta e se esgotam os recursos da técnica”, segundo Rubem Alves, “que nas pessoas acordam os videntes, os exorcistas, os mágicos, os curadores, os benzedores, os sacerdotes, os profetas e poetas, aquele que reza e suplica, sem saber direito a quem...”.
É justamente nas horas de indômitas certezas, de existência vacilante, de crise vocacional, de resoluções vencidas que o sentimento religioso se instala como fator mais arraigadamente sisudo na alma humana. Lidar com o religioso, segundo Rubem Alves, não seria lidar simploriamente com idéias primitivas, de uma civilização atrasada ou de uma sociedade com propensões animistas. O religioso extrapola o fetiche. A existência do fetiche é apenas uma objetização do sentimento abstrato que pervaga no interior do ser humano. Os homens erguem catedrais porque dentro de si possuem gritos, sussurros, incompreensões, expectativas e todas elas em um momento ou outro são abraçadas pelo mistério. Daí, a necessidade de se construir um símbolo para a materialização ou visibilização do ser sagrado que primeiramente nasceu no centro da alma como projeção das respostas que são feitas do lado de fora do ser humano.
Enquanto os animais conservam apenas um instinto de preservação e instinto, os homens pelo contrário, a partir da imaginação, construíram ou têm o poder de manipular o mundo para darem a forma que bem entenderem. Tudo isso é feito por uma teia simbólica cujo princípio é entender e decodificar a realidade. Os homens construíram estradas, plantaram jardins, fizeram bandeiras e deram um significado a cada uma delas; os homens laboraram na construção de intricados mecanismos e deram nomes a essas invenções. Assim, o homem tem o poder de manipular a realidade por meio da construção de símbolos que determinam o sentido do mundo. Essa transformação ou leitura própria do mundo é que se pode chamar de cultura. Ou seja, cultura seria o nome que se dá às coisas e o modo de como se interpreta a realidade. Cultura é o modo de vida de um povo, o ambiente que um grupo de seres humanos, ocupando um território comum. A cultura se cria na forma de idéias, instituições, linguagem, instrumentos, serviços e sentimentos.
Para Rubem Alves, “a religião nasce com o poder que os homens têm de dar nomes às coisas, fazendo uma discriminação entre coisas de importância secundária e coisas nas quais seu destino, sua vida e sua morte se dependuram”. Assim, entende-se que a religião seria propriamente um fenômeno da cultura de cada povo. Afinal, quantos são os povos, tantas são as religiões. Não há uma explicação para o fenômeno da religião, porque pode se detectar que cada cultura tem os seus próprios rituais – desde as mais primitivas e simples às mais complexas.
Diz Rubem Alves que a partir desta leitura da realidade, o homem dá vários significados à morte; a vida passa a ser encarada com os seus diversos matizes de acordo com a construção simbólica ou com o sentido de crença de cada indivíduo – o ateu diz não acreditar na existência de Deus e busca viver como se Deus não fosse uma realidade para ele. Já o crente em Deus, guia as ações da sua vida a partir desse sentido de crença. É essa construção simbólica que direcionou milhares de monges para mosteiros na Idade Média. O símbolo condiciona a vida. Ou seja, “com os símbolos sagrados o homem exorciza o medo e constrói diques contra o caos”.
A religião surge como um encantamento. Ela abriga em si o mistério. A religião por ser uma construção simbólica, lida com poderes ideais. Não existe objetividade na religião, segundo Rubem Alves. Com o advento dos poderes científicos, a religião foi sacudida, trepidada, balançada. A ciência lida com a presença. A religião com a ausência. Na ciência, para que algo seja real e verdadeiro é preciso que seja percebido e visto. O que não é visto não é real, posto que o pensamento tem que se materializar como presença e visto como verdade. Os raciocínios devem ser experimentados.
O materialismo da ciência engoliu o abstracionismo da religião nos últimos séculos. A religião pouco a pouco foi sendo periferizada. Todavia, o “exílio do sagrado” não significou um completo abandono da religião. No ser humano ou fora da capacidade da ciência existem alguns fatores que estão cobertos com o lençol do mistério. Existem realidades que não são objetos estudáveis da ciência – a alma, a morte., etc. Estas realidades não são verificáveis ou quantificáveis e exercem um fascínio misterioso sobre o ser humano.
Rubem Alves também se vale do sociólogo francês Émile Durkheim para afirmar que a religião funciona como uma reguladora social. A ausência da religião instauraria um processo de completa anomia na sociedade. Para Durkheim, todas as religiões seriam verdadeiras. É por causa da capacidade de imaginar do homem que a religião veste o real com o sagrado. Não existem comunidades que eximam em suas estruturas o sentimento pelo religioso. A religião pode se transformar, para Durkheim, mas nunca desaparecerá como fenômeno humano. Para ele a religião se dá como fenômeno dinâmico. Deuses nascem e deuses morrem, deuses aparecem como projeção das necessidades que os homens têm para formar seres ou coisas ideais. Os deuses são necessários, pois se transformam em guias para a humanidade.
Já para Karl Marx a religião não surge como consciência autônoma fora do homem. Não existe uma estrutura chamada religião fora do homem – “não é a consciência que determina a vida; é a vida que determina a consciência”. A religião em Marx é desnecessária porque ela, simplesmente, não existe. Ela não merece qualquer tipo de consideração. A religião surge apenas como um produto da alienação (“a religião é o ópio do povo”). A religião seria uma necessidade do homem oprimido para da cor a uma existência sem cheiro e sem brilho. Ela seria consciência não-consciente no individuo, “porque é o homem que faz a religião; e não a religião que faz o homem”.
De acordo com a concepção marxista, exterminando as agruras da existência humana, a necessidade do religioso teria fim. Os sentimentos e as inclinações que se dão na vida variam de uma classe para outra. Dependendo da classe onde o individuo humano estar há uma influência no seu modo de se vestir, na sua forma de pensar, no seu gosto musical, na sua qualidade alimentícia, nas supertições e crenças, na forma como se encara a vida e a morte. Em suma, nestes aspectos Marx observava que a consciência estabelecida pela ordem de classe determinava a vida. A consciência varia de classe para classe. Assim a religião também toma forma de classe para classe.
Religião é uma forma de alienar o ser humano. Explica-se na obra de Rubem Alves o verdadeiro sentido que Marx usa do termo “alienação”. O termo alienação não é posto como é bem compreendido pelo vulgo. Não se trata de um sentimento que torna o individuo “idiotado”. Em Marx, alienar é “transferir para outrem o domínio de; tornar alheio; alhear; desviar, afastar”. A religião surge como alheamento na consciência do individuo. Ou seja, o individuo alienado é aquele que teve o seu desejo violado pelo desejo de outrem. A religião processa o seu poder neste ponto, embora ela mesma não possua nenhum poder intrínseco, posto que ela “ilumina com ilusões que consolam os fracos e legitimações que consolidam os fortes”. Ainda para Marx, a religião é um analgésico ineficaz dado pelos fortes para adormecer a vontade dos fracos. Marx dizia que em nome de uma entidade superior, argumentos são silenciados. Quem contesta o que é superior e arbitrário? “A religião é nada mais que o sol ilusório que gira em torno do homem, na medida em que ele não gira em torno de si mesmo” (Marx).
Já em Feuerbach a religião aparece como um sonho da mente humana. A religião surge como projeção do sonho, que se deriva da voz do desejo. O desejo existe no interior do ser que é, mas que tem de se adequar ao que se coloca como realidade. A realidade é a negação do desejo. O desejo fala da própria essência do homem. Deste modo “as verdades” mentirosas devem ser abolidas para que o desejo no ser humano torne-se verdadeiramente consumado. E nisto é que Feuerbach afirma que “a religião é o solene desvelar dos tesouros ocultos do homem, a revelação dos seus pensamentos mais íntimos, a confissão pública dos seus segredos”.
A afirmação de Feuerbach remete a religião ao próprio homem, porque para ele falar de Deus é falar do próprio homem. Ter consciência de Deus é ter consciência de si mesmo. Deus no homem surge como uma imagem refletida na parede do ser, porque Deus varia no homem, de ser para ser. Existem várias consciências de Deus no homem, quantos são os homens, tantos são o número de projeções de Deus. Deus se relativiza no ser. Deus, assim, é criado pelo desejo humano. Decodificando as características ou a personalidade de Deus para uma determinada pessoa, descobre-se os desejos desta pessoa. Deus é subjetividade. O ser determina a imagem em sua objetividade e transforma-se em objeto perante a imagem, e, a imagem, por sua vez, toma forma de sujeito.
A realidade última da religião não estaria inclinada para fatores eminentemente metafísicos. A religião encerra-se aqui na contingência do mundo humano. Não existem fenômenos do lado de lá, puramente espirituais. Lidar com o sagrado, seria em outros termos, lidar com a antropologia. Religião é antropologia. O homem é próprio ser divinizado. A necessidade de uma divindade para o homem fala dos próprios anseios humanos. A religião é um sonho que o individuo religioso não compreende. Para Feuerbach, a partir do momento que se interpreta o sonho, a necessidade de Deus e da religião deixa de existir.
Outra perspectiva abordada por Rubem Alves diz respeito à visão da religião como uma força propulsara dos oprimidos. Deus, na concepção dessa visão, surgiria como a razão ou a base de toda utopia. Segundo o autor, os profetas contestam a ordem presente, vociferam contra o status quo, segurador da ordem social, regulador das esperanças dos mais fracos. A base contestatória dos profetas está no presente, mas o anúncio da esperança (utopia) do Reino de Deus está no futuro. Para o autor a religião, seria um objeto que teria duas faces relacionais: (1) “Para iluminar”, “libertar”, “para dar coragem”, “para fazer voar”; ou (2) “para cegar”, “paralisar”, “atemorizar”, “escravizar”. A religião funcionária de modo paradoxal. Ou sendo para os fracos e não sendo para os poderosos; ou sendo para os poderosos e não sendo para os fracos.
Com o advento da “ciência histórica”, tornou-se possível compreender de modo crítico as interpretações suscitadas pelos poderosos. A linguagem mono-focal dos poderosos foi interpretada com uma premissa inteiramente nova. A base era: “o que Antônio fala acerca de Pedro contém mais informações acerca de Antônio do que de Pedro”. Entendeu-se, assim, que “aquilo que os opressores denunciavam nos oprimidos não é a verdade dos oprimidos, mas o que os opressores temem”. As versões oficiais são sempre o fruto da pertubabilidade dos poderosos. Os movimentos messiânicos tidos por marginais são assim denominados pelos poderosos por causa do poder. Para revestir de não santo os movimentos que “fogem da ordem”, é preciso evocar o dogma do absoluto. Assim, a maneira como se interpreta a vida está diretamente “condicionada pela textura social da vida”. Não se contesta o absoluto (Deus). Lidar com o absoluto é absolutamente lidar com a eternidade.
O discurso religioso é, antes de tudo, o discurso da força – dominadores sobre os oprimidos. Os sonhos dos dominados não se enraízam no chão do presente, mas se projetam para uma possibilidade futura. Os pensamentos religiosos são utópicos. Para Rubem Alves, os textos escatológicos (Apocalipse) são utopia. Ou seja, dimensiona-se para o futuro aquilo que não é no presente, todavia existe no ser como esperança concretizável.
É por causa da consciência oprimida do indivíduo que se faz fermentar o contentamento dos sonhos religiosos. É por isso, que os pobres e oprimidos se sentem mais à vontade junto aos “curandeiros”, dos “mágicos”, dos “milagreiros”, que são pretensos prognosticadores, vendedores de esperança. Eles sempre apontam para o futuro com palavras que entusiasmam e geram esperança.
No último capítulo do livro, Rubem Alves faz a “Aposta”. Para ele, esta aposta é um arriscar-se. É, simplesmente, “dar uma chance para a religião”. Ele mesmo diz: “Teremos de ouvir a voz da religião, ainda que ela esteja mais próxima da poesia que da ciência”. Para ele, o objetivismo frio da ciência não possui todas as respostas. A ciência “empalhou”, “imobilizou” o vôo do sagrado. A ciência é fria e míope em seus conceitos. Ela “nos coloca num mundo glacial e mecânico, matematicamente preciso e tecnicamente manipulável, mas vazio de significações humanas e indiferente ao nosso amor”.
O autor diz que bem gostaria que os deuses existissem. Só assim a vida ganharia certezas e exorcizaria as dúvidas e os estalos da alma. A vida teria sentido se assim fosse. Mas por não o ser, o sentido da vida é “experimentado emocionalmente”. É apenas sentimento. Esse sentimento é experimentado como intensificação da vontade de viver a ponto de dar coragem para morrer, se necessário for, por aquelas coisas que dão à vida o seu sentido. O sentido da vida se debruça, para Rubem Alves, diante do mistério. É como afirmou Pascal certa vez: “O silêncio desses espaços infinitos me apavora”. Ao passo que a vida é mistério, a morte mostra-se como um abismo cuja a sociedade é tragada para a sua escuridade. A morte é a inimiga dos homens. Ela se mostra insensível com qualquer que seja o individuo. Todos serão abraçados pelos seus braços frios e pela suas mãos pegajosas.
Para Rubem Alves, religião tem o poder de transformar a morte em irmã. Assim, “livres para morrer, os homens estão livres para viver”. Mas, o que acontece é que na concepção de Rubem Alves, Deus é apenas uma esperança. Não é algo que é concretamente, mas pode ser. Deus é objeto da “magia da imaginação”. O direcionamento mais correto que quiser experimentar Deus , de acordo com o autor, seria se aventurar. Seria, mesmo na inexatidão da certeza, crer. Seria o salto no escuro de Kierkegaard. Seria a possibilidade de total entrega ao incompreensível, ao inimaginável, só possível pela fé. Ele não tem certeza acerca da existência de Deus. “Não sei”. Mas ele gostaria que a esperança que o tomava se concretizasse em certeza e o objeto (Deus) se transformasse em verdade.
Esta posição pode ser considerada como um meio vacilante de se questionar a validade da fé. A posição em que Rubem Alves se coloca pode ser colocada como neutra. Ele quer crer, mas não tem certeza naquilo que crer. Cheira a irracionalismo – embora a fé não esteja dentro das categorias racionalizáveis. Embora eu concorde com a assertiva de Kierkegaard em “Temor e tremor”, "O paradoxo da fé não pode reduzir-se a nenhum raciocínio, porque a fé começa precisamente onde acaba a razão". Ou no dizer de Pascal: “A distância infinita que há entre a certeza do que se aventura, e a incerteza do que se ganhará, iguala o bem finito, que certamente se expõe, ao infinito, que é incerto”.
O fato é que a posição de Rubem Alves embora belamente poética e estética, não é bíblica. Deus não pode ser provado objetivamente, mas se eu creio não devo ter sentimentos ambíguos em relação a Ele. Seria como se pulasse do avião sem se verificar se o pára-quedas está funcionando. Fica-se a mercê do não ou do funcionamento do pára-quedas. O individuo que assim se expusesse estaria, na verdade, se aventurando, posto que ele não sabe se o pára-quedas vai ou não funcionar.
Em Kant e em Hegel, a existência de Deus passou a ser um problema para epistemologia. Em Kierkegaard, passou-se a verificar que todo sistema construído e absolutizado é merecidamente identificável com o ser. O ser é vasto, amplo e a subjetividade é quem diz o que deve se ser para o ser. Kierkegaard se aventurava pela fé para acreditar que Deus existe.
Paulo disse no seu discurso para os filósofos em Atenas que Deus “de um só fez toda raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós”(At 17.26,27). Segundo a Palavra inspirada, homem foi criado com propensões para buscar a Deus, mesmo que tateando. As religiões são os “tateamentos”, as apalpadelas no escuro dados pelo homem em busca de algo que o coração deseja. O coração humano grita inconscientemente por Deus (não O deseja no sentido de querer relacionar-se com Deus, mas porque dentro do ser a ausência grita pela presença) sem o homem o saber, e, por isso, existe uma exteriorização, uma construção visibilizável do elemento religioso. Constrói-se fora para se ver, o que o coração deseja dentro.
É interessante notar que os povos primitivos compreenderam isso de uma maneira involuntária. Ao se observar as comunidades primitivas, verifica-se que o pendor para o infinito sempre existiu. Os antropólogos têm detectado que nunca existiu uma sociedade organizada que não houvesse a icononização de Deus. Por mais bizarros e personificados pelo natural, o senso de Deus, o criador do infinito, sempre existiu. O homem é isso: síntese de finito com infinito. Entende-se daí, os conflitos e os mistérios gerados e criados que ocorrem sucessivamente na existência atribulada do homem.
Os gritos, os símbolos, os mistérios, as dúvidas, as utopias e as certezas existem, porque dentro da alma humana existe a eternidade. Existe o caos que busca equilíbrio diante do infinito. “Finito que diante do infinito se aniquila, torna-se um puro nada”, no dizer de Pascal. A obra de Rubem Alves é importante no sentido de nos informar a temática do religioso de acordo com várias escolas do pensamento humano. Isso apenas serve para comprovar a tese do feitiço humano perante religioso.
Outras obras utilizadas:
AGOSTINHO, Santo, As Confissões – Os pensadores, Nova Cultural, 2000.
PASCAL, Blaise, Os imortais do pensamento humano vol.6, Ed. Universidade de São Paulo, Goiânia, 1.981.
KIERKEGAARD, Sören, Os pensadores, Diário de um sedutor; Temor e tremor; o desespero humano, traduções de Carlos Grifo, Maria José marinho, Adolfo Casais Monteiro – São Paulo, Abril Cultural, 1979.
Rubem Alves nasceu em Boa Esperança, MG, em 1933. É psicanalista, bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano de Campinas, mestre em teologia pelo Union Theological Seminary em New York, doutor em Filosofia pelo Princeton Theological Seminary, Princeton.
O autor nesta obra busca dá uma definição, apontar caminhos – sejam eles filosóficos, antropológicos, sociológicos – para o que é religião. A religião que fascina o homem, que são os sonhos de amor do homem com o homem, como assim menciona o autor citando Feuerbach.
O autor inicia a sua obra explicando o fenômeno religioso na contemporaneidade. Afirma que a religião não perdeu seu poder em nossos dias. Embora se viva num tempo muito especial da história, apesar do advento de técnicas revolucionárias da ciência, do aprimoramento industrial, do desenvolvimento de métodos econômicos, verifica-se que o fascínio da religião tem permanecido como em todas as eras e gerações humanos. Ele se instala como um fenômeno subjacente, vinculado ao ser humano, posto que o homem é em si um ser religioso.
A consciência do religioso é como uma teia que se expande e amarra os elos relacionais do existir humano. Negar o sentimento do religioso seria negar o próprio sentido que toma norteios e se torna uma cartilha que inscreve as respostas que dão segurança à vida do homem. Rubem Alves diz que não se liquida a religião com abstinência dos atos sacramentais e a ausência dos lugares sagrados, da mesma forma que o desejo sexual não se elimina com os votos de castidade. Ou seja, mesmo negando ou omitindo a visibilização do religioso nos altares de fora – templos, catedrais, imagens... símbolos – a presença do religioso nos altares da alma é que dá condução à construção para o que existe como objeto externo. Deste modo, “é quando a dor bate à porta e se esgotam os recursos da técnica”, segundo Rubem Alves, “que nas pessoas acordam os videntes, os exorcistas, os mágicos, os curadores, os benzedores, os sacerdotes, os profetas e poetas, aquele que reza e suplica, sem saber direito a quem...”.
É justamente nas horas de indômitas certezas, de existência vacilante, de crise vocacional, de resoluções vencidas que o sentimento religioso se instala como fator mais arraigadamente sisudo na alma humana. Lidar com o religioso, segundo Rubem Alves, não seria lidar simploriamente com idéias primitivas, de uma civilização atrasada ou de uma sociedade com propensões animistas. O religioso extrapola o fetiche. A existência do fetiche é apenas uma objetização do sentimento abstrato que pervaga no interior do ser humano. Os homens erguem catedrais porque dentro de si possuem gritos, sussurros, incompreensões, expectativas e todas elas em um momento ou outro são abraçadas pelo mistério. Daí, a necessidade de se construir um símbolo para a materialização ou visibilização do ser sagrado que primeiramente nasceu no centro da alma como projeção das respostas que são feitas do lado de fora do ser humano.
Enquanto os animais conservam apenas um instinto de preservação e instinto, os homens pelo contrário, a partir da imaginação, construíram ou têm o poder de manipular o mundo para darem a forma que bem entenderem. Tudo isso é feito por uma teia simbólica cujo princípio é entender e decodificar a realidade. Os homens construíram estradas, plantaram jardins, fizeram bandeiras e deram um significado a cada uma delas; os homens laboraram na construção de intricados mecanismos e deram nomes a essas invenções. Assim, o homem tem o poder de manipular a realidade por meio da construção de símbolos que determinam o sentido do mundo. Essa transformação ou leitura própria do mundo é que se pode chamar de cultura. Ou seja, cultura seria o nome que se dá às coisas e o modo de como se interpreta a realidade. Cultura é o modo de vida de um povo, o ambiente que um grupo de seres humanos, ocupando um território comum. A cultura se cria na forma de idéias, instituições, linguagem, instrumentos, serviços e sentimentos.
Para Rubem Alves, “a religião nasce com o poder que os homens têm de dar nomes às coisas, fazendo uma discriminação entre coisas de importância secundária e coisas nas quais seu destino, sua vida e sua morte se dependuram”. Assim, entende-se que a religião seria propriamente um fenômeno da cultura de cada povo. Afinal, quantos são os povos, tantas são as religiões. Não há uma explicação para o fenômeno da religião, porque pode se detectar que cada cultura tem os seus próprios rituais – desde as mais primitivas e simples às mais complexas.
Diz Rubem Alves que a partir desta leitura da realidade, o homem dá vários significados à morte; a vida passa a ser encarada com os seus diversos matizes de acordo com a construção simbólica ou com o sentido de crença de cada indivíduo – o ateu diz não acreditar na existência de Deus e busca viver como se Deus não fosse uma realidade para ele. Já o crente em Deus, guia as ações da sua vida a partir desse sentido de crença. É essa construção simbólica que direcionou milhares de monges para mosteiros na Idade Média. O símbolo condiciona a vida. Ou seja, “com os símbolos sagrados o homem exorciza o medo e constrói diques contra o caos”.
A religião surge como um encantamento. Ela abriga em si o mistério. A religião por ser uma construção simbólica, lida com poderes ideais. Não existe objetividade na religião, segundo Rubem Alves. Com o advento dos poderes científicos, a religião foi sacudida, trepidada, balançada. A ciência lida com a presença. A religião com a ausência. Na ciência, para que algo seja real e verdadeiro é preciso que seja percebido e visto. O que não é visto não é real, posto que o pensamento tem que se materializar como presença e visto como verdade. Os raciocínios devem ser experimentados.
O materialismo da ciência engoliu o abstracionismo da religião nos últimos séculos. A religião pouco a pouco foi sendo periferizada. Todavia, o “exílio do sagrado” não significou um completo abandono da religião. No ser humano ou fora da capacidade da ciência existem alguns fatores que estão cobertos com o lençol do mistério. Existem realidades que não são objetos estudáveis da ciência – a alma, a morte., etc. Estas realidades não são verificáveis ou quantificáveis e exercem um fascínio misterioso sobre o ser humano.
Rubem Alves também se vale do sociólogo francês Émile Durkheim para afirmar que a religião funciona como uma reguladora social. A ausência da religião instauraria um processo de completa anomia na sociedade. Para Durkheim, todas as religiões seriam verdadeiras. É por causa da capacidade de imaginar do homem que a religião veste o real com o sagrado. Não existem comunidades que eximam em suas estruturas o sentimento pelo religioso. A religião pode se transformar, para Durkheim, mas nunca desaparecerá como fenômeno humano. Para ele a religião se dá como fenômeno dinâmico. Deuses nascem e deuses morrem, deuses aparecem como projeção das necessidades que os homens têm para formar seres ou coisas ideais. Os deuses são necessários, pois se transformam em guias para a humanidade.
Já para Karl Marx a religião não surge como consciência autônoma fora do homem. Não existe uma estrutura chamada religião fora do homem – “não é a consciência que determina a vida; é a vida que determina a consciência”. A religião em Marx é desnecessária porque ela, simplesmente, não existe. Ela não merece qualquer tipo de consideração. A religião surge apenas como um produto da alienação (“a religião é o ópio do povo”). A religião seria uma necessidade do homem oprimido para da cor a uma existência sem cheiro e sem brilho. Ela seria consciência não-consciente no individuo, “porque é o homem que faz a religião; e não a religião que faz o homem”.
De acordo com a concepção marxista, exterminando as agruras da existência humana, a necessidade do religioso teria fim. Os sentimentos e as inclinações que se dão na vida variam de uma classe para outra. Dependendo da classe onde o individuo humano estar há uma influência no seu modo de se vestir, na sua forma de pensar, no seu gosto musical, na sua qualidade alimentícia, nas supertições e crenças, na forma como se encara a vida e a morte. Em suma, nestes aspectos Marx observava que a consciência estabelecida pela ordem de classe determinava a vida. A consciência varia de classe para classe. Assim a religião também toma forma de classe para classe.
Religião é uma forma de alienar o ser humano. Explica-se na obra de Rubem Alves o verdadeiro sentido que Marx usa do termo “alienação”. O termo alienação não é posto como é bem compreendido pelo vulgo. Não se trata de um sentimento que torna o individuo “idiotado”. Em Marx, alienar é “transferir para outrem o domínio de; tornar alheio; alhear; desviar, afastar”. A religião surge como alheamento na consciência do individuo. Ou seja, o individuo alienado é aquele que teve o seu desejo violado pelo desejo de outrem. A religião processa o seu poder neste ponto, embora ela mesma não possua nenhum poder intrínseco, posto que ela “ilumina com ilusões que consolam os fracos e legitimações que consolidam os fortes”. Ainda para Marx, a religião é um analgésico ineficaz dado pelos fortes para adormecer a vontade dos fracos. Marx dizia que em nome de uma entidade superior, argumentos são silenciados. Quem contesta o que é superior e arbitrário? “A religião é nada mais que o sol ilusório que gira em torno do homem, na medida em que ele não gira em torno de si mesmo” (Marx).
Já em Feuerbach a religião aparece como um sonho da mente humana. A religião surge como projeção do sonho, que se deriva da voz do desejo. O desejo existe no interior do ser que é, mas que tem de se adequar ao que se coloca como realidade. A realidade é a negação do desejo. O desejo fala da própria essência do homem. Deste modo “as verdades” mentirosas devem ser abolidas para que o desejo no ser humano torne-se verdadeiramente consumado. E nisto é que Feuerbach afirma que “a religião é o solene desvelar dos tesouros ocultos do homem, a revelação dos seus pensamentos mais íntimos, a confissão pública dos seus segredos”.
A afirmação de Feuerbach remete a religião ao próprio homem, porque para ele falar de Deus é falar do próprio homem. Ter consciência de Deus é ter consciência de si mesmo. Deus no homem surge como uma imagem refletida na parede do ser, porque Deus varia no homem, de ser para ser. Existem várias consciências de Deus no homem, quantos são os homens, tantos são o número de projeções de Deus. Deus se relativiza no ser. Deus, assim, é criado pelo desejo humano. Decodificando as características ou a personalidade de Deus para uma determinada pessoa, descobre-se os desejos desta pessoa. Deus é subjetividade. O ser determina a imagem em sua objetividade e transforma-se em objeto perante a imagem, e, a imagem, por sua vez, toma forma de sujeito.
A realidade última da religião não estaria inclinada para fatores eminentemente metafísicos. A religião encerra-se aqui na contingência do mundo humano. Não existem fenômenos do lado de lá, puramente espirituais. Lidar com o sagrado, seria em outros termos, lidar com a antropologia. Religião é antropologia. O homem é próprio ser divinizado. A necessidade de uma divindade para o homem fala dos próprios anseios humanos. A religião é um sonho que o individuo religioso não compreende. Para Feuerbach, a partir do momento que se interpreta o sonho, a necessidade de Deus e da religião deixa de existir.
Outra perspectiva abordada por Rubem Alves diz respeito à visão da religião como uma força propulsara dos oprimidos. Deus, na concepção dessa visão, surgiria como a razão ou a base de toda utopia. Segundo o autor, os profetas contestam a ordem presente, vociferam contra o status quo, segurador da ordem social, regulador das esperanças dos mais fracos. A base contestatória dos profetas está no presente, mas o anúncio da esperança (utopia) do Reino de Deus está no futuro. Para o autor a religião, seria um objeto que teria duas faces relacionais: (1) “Para iluminar”, “libertar”, “para dar coragem”, “para fazer voar”; ou (2) “para cegar”, “paralisar”, “atemorizar”, “escravizar”. A religião funcionária de modo paradoxal. Ou sendo para os fracos e não sendo para os poderosos; ou sendo para os poderosos e não sendo para os fracos.
Com o advento da “ciência histórica”, tornou-se possível compreender de modo crítico as interpretações suscitadas pelos poderosos. A linguagem mono-focal dos poderosos foi interpretada com uma premissa inteiramente nova. A base era: “o que Antônio fala acerca de Pedro contém mais informações acerca de Antônio do que de Pedro”. Entendeu-se, assim, que “aquilo que os opressores denunciavam nos oprimidos não é a verdade dos oprimidos, mas o que os opressores temem”. As versões oficiais são sempre o fruto da pertubabilidade dos poderosos. Os movimentos messiânicos tidos por marginais são assim denominados pelos poderosos por causa do poder. Para revestir de não santo os movimentos que “fogem da ordem”, é preciso evocar o dogma do absoluto. Assim, a maneira como se interpreta a vida está diretamente “condicionada pela textura social da vida”. Não se contesta o absoluto (Deus). Lidar com o absoluto é absolutamente lidar com a eternidade.
O discurso religioso é, antes de tudo, o discurso da força – dominadores sobre os oprimidos. Os sonhos dos dominados não se enraízam no chão do presente, mas se projetam para uma possibilidade futura. Os pensamentos religiosos são utópicos. Para Rubem Alves, os textos escatológicos (Apocalipse) são utopia. Ou seja, dimensiona-se para o futuro aquilo que não é no presente, todavia existe no ser como esperança concretizável.
É por causa da consciência oprimida do indivíduo que se faz fermentar o contentamento dos sonhos religiosos. É por isso, que os pobres e oprimidos se sentem mais à vontade junto aos “curandeiros”, dos “mágicos”, dos “milagreiros”, que são pretensos prognosticadores, vendedores de esperança. Eles sempre apontam para o futuro com palavras que entusiasmam e geram esperança.
No último capítulo do livro, Rubem Alves faz a “Aposta”. Para ele, esta aposta é um arriscar-se. É, simplesmente, “dar uma chance para a religião”. Ele mesmo diz: “Teremos de ouvir a voz da religião, ainda que ela esteja mais próxima da poesia que da ciência”. Para ele, o objetivismo frio da ciência não possui todas as respostas. A ciência “empalhou”, “imobilizou” o vôo do sagrado. A ciência é fria e míope em seus conceitos. Ela “nos coloca num mundo glacial e mecânico, matematicamente preciso e tecnicamente manipulável, mas vazio de significações humanas e indiferente ao nosso amor”.
O autor diz que bem gostaria que os deuses existissem. Só assim a vida ganharia certezas e exorcizaria as dúvidas e os estalos da alma. A vida teria sentido se assim fosse. Mas por não o ser, o sentido da vida é “experimentado emocionalmente”. É apenas sentimento. Esse sentimento é experimentado como intensificação da vontade de viver a ponto de dar coragem para morrer, se necessário for, por aquelas coisas que dão à vida o seu sentido. O sentido da vida se debruça, para Rubem Alves, diante do mistério. É como afirmou Pascal certa vez: “O silêncio desses espaços infinitos me apavora”. Ao passo que a vida é mistério, a morte mostra-se como um abismo cuja a sociedade é tragada para a sua escuridade. A morte é a inimiga dos homens. Ela se mostra insensível com qualquer que seja o individuo. Todos serão abraçados pelos seus braços frios e pela suas mãos pegajosas.
Para Rubem Alves, religião tem o poder de transformar a morte em irmã. Assim, “livres para morrer, os homens estão livres para viver”. Mas, o que acontece é que na concepção de Rubem Alves, Deus é apenas uma esperança. Não é algo que é concretamente, mas pode ser. Deus é objeto da “magia da imaginação”. O direcionamento mais correto que quiser experimentar Deus , de acordo com o autor, seria se aventurar. Seria, mesmo na inexatidão da certeza, crer. Seria o salto no escuro de Kierkegaard. Seria a possibilidade de total entrega ao incompreensível, ao inimaginável, só possível pela fé. Ele não tem certeza acerca da existência de Deus. “Não sei”. Mas ele gostaria que a esperança que o tomava se concretizasse em certeza e o objeto (Deus) se transformasse em verdade.
Esta posição pode ser considerada como um meio vacilante de se questionar a validade da fé. A posição em que Rubem Alves se coloca pode ser colocada como neutra. Ele quer crer, mas não tem certeza naquilo que crer. Cheira a irracionalismo – embora a fé não esteja dentro das categorias racionalizáveis. Embora eu concorde com a assertiva de Kierkegaard em “Temor e tremor”, "O paradoxo da fé não pode reduzir-se a nenhum raciocínio, porque a fé começa precisamente onde acaba a razão". Ou no dizer de Pascal: “A distância infinita que há entre a certeza do que se aventura, e a incerteza do que se ganhará, iguala o bem finito, que certamente se expõe, ao infinito, que é incerto”.
O fato é que a posição de Rubem Alves embora belamente poética e estética, não é bíblica. Deus não pode ser provado objetivamente, mas se eu creio não devo ter sentimentos ambíguos em relação a Ele. Seria como se pulasse do avião sem se verificar se o pára-quedas está funcionando. Fica-se a mercê do não ou do funcionamento do pára-quedas. O individuo que assim se expusesse estaria, na verdade, se aventurando, posto que ele não sabe se o pára-quedas vai ou não funcionar.
Em Kant e em Hegel, a existência de Deus passou a ser um problema para epistemologia. Em Kierkegaard, passou-se a verificar que todo sistema construído e absolutizado é merecidamente identificável com o ser. O ser é vasto, amplo e a subjetividade é quem diz o que deve se ser para o ser. Kierkegaard se aventurava pela fé para acreditar que Deus existe.
Paulo disse no seu discurso para os filósofos em Atenas que Deus “de um só fez toda raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós”(At 17.26,27). Segundo a Palavra inspirada, homem foi criado com propensões para buscar a Deus, mesmo que tateando. As religiões são os “tateamentos”, as apalpadelas no escuro dados pelo homem em busca de algo que o coração deseja. O coração humano grita inconscientemente por Deus (não O deseja no sentido de querer relacionar-se com Deus, mas porque dentro do ser a ausência grita pela presença) sem o homem o saber, e, por isso, existe uma exteriorização, uma construção visibilizável do elemento religioso. Constrói-se fora para se ver, o que o coração deseja dentro.
É interessante notar que os povos primitivos compreenderam isso de uma maneira involuntária. Ao se observar as comunidades primitivas, verifica-se que o pendor para o infinito sempre existiu. Os antropólogos têm detectado que nunca existiu uma sociedade organizada que não houvesse a icononização de Deus. Por mais bizarros e personificados pelo natural, o senso de Deus, o criador do infinito, sempre existiu. O homem é isso: síntese de finito com infinito. Entende-se daí, os conflitos e os mistérios gerados e criados que ocorrem sucessivamente na existência atribulada do homem.
Os gritos, os símbolos, os mistérios, as dúvidas, as utopias e as certezas existem, porque dentro da alma humana existe a eternidade. Existe o caos que busca equilíbrio diante do infinito. “Finito que diante do infinito se aniquila, torna-se um puro nada”, no dizer de Pascal. A obra de Rubem Alves é importante no sentido de nos informar a temática do religioso de acordo com várias escolas do pensamento humano. Isso apenas serve para comprovar a tese do feitiço humano perante religioso.
Outras obras utilizadas:
AGOSTINHO, Santo, As Confissões – Os pensadores, Nova Cultural, 2000.
PASCAL, Blaise, Os imortais do pensamento humano vol.6, Ed. Universidade de São Paulo, Goiânia, 1.981.
KIERKEGAARD, Sören, Os pensadores, Diário de um sedutor; Temor e tremor; o desespero humano, traduções de Carlos Grifo, Maria José marinho, Adolfo Casais Monteiro – São Paulo, Abril Cultural, 1979.
Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Um comentário:
Muito bom... parabéns
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