sábado, janeiro 03, 2009

O mito do herói na Grécia Antiga

A Antigüidade Clássica constitui um dos centros formadores dos arquétipos do Mundo Ocidental. A Grécia em específico, com sua filosofia, seu ideal de homem perfeito, de democracia, de civilização, de investigação das ciências naturais, de cidadania, forjou o modelo investigativo que segue o homem do Ocidente há quase 3 mil anos. Uma análise mais detida sobre o legado grego, faz enxergar o quanto os helenos foram responsáveis por constituir a gênese do pensamento analítico dos indivíduos ocidentais.
Tratando-se dessa civilização extraordinária, não é de se desprezar como os gregos interpretaram a realidade. Muitas das inquirições iniciadas ou sugeridas pelos filósofos gregos ainda continuam sendo pensadas. É o caso singular dos filósofos pré-socráticos, responsáveis por interpretarem a natureza filosófica e cientificamente. Há quem já disse que após Platão e Aristóteles não há mais o que se pensar. Que todo o pensamento que surge após estes filósofos não é original, mas uma derivação daquilo que eles pensaram. Os gregos souberam mais do que ninguém retratar filosoficamente os problemas atinentes ao ser humano. Construíram modelos singulares e complexos que ainda servem de base para o homem se entender e se interpretar.
Isso pode ser verificado no que diz respeito ao que eles pensaram sobre a figura do herói. O herói grego é um ente complexo. Carrega em si as potencialidades do trágico. O herói ao vir ao mundo, tem um destino inexpugnável, inescusável. Tal força determinada que o segue precisa ser preenchida, cumprida. O herói cumpre a sua missão quando tem contra ou a favor, as sentenças arbitrárias do destino. Trata-se de uma lei marcial, não separativa, vinculada àquilo que é. O herói é uma árvore solitária que atrai para si os fatídicos raios dos fatos. Assim como a gravidade constitui-se numa lei com regras objetivas e absolutas – e por isso se constitui numa lei – esse caráter incondicional segue a existência do herói e delineia aquilo que poderia ser chamado de “fado heróico”.
A personalidade complexa do herói é outra questão a ser considerada. O herói possui uma “liberdade” para ser/reunir em si o paradoxo – o bem e o mal. A luminosidade e a escuridade persegue-o. Suas ações, oriundas da psique, não são previsíveis, nem sugestionáveis. Hércules é o herói que mata os filhos e as esposas, e, para se redimir, necessita realizar 12 trabalhos ou tarefas. Aquiles é a máquina melindrosa e implacável da guerra. Possui uma força invencível, mas um ponto fraco esdrúxulo (o calcanhar) que sela o seu destino na hora do combate. Morre na peleja, pelas mãos de Páris, o mais covarde dos filhos de Príamo, rei de Tróia. O seu ponto fraco não é apenas um ponto fraco apenas. Constitui uma característica paradoxal na existência do herói. Aquiles é a força, a impetuosidade, mas a fragilidade também.
Os heróis em geral carregam em si os desejos inconscientes de determinada sociedade. Ou seja, o herói constitui um tipo de representação necessária. Seguindo essa lógica, pode se afirmar que em toda sociedade há a necessidade de heróis. Projeta-se no herói as necessidades dos indivíduos que compõem esta mesma sociedade. Assim, o herói é também produto dos anseios. Os gregos ao construírem esses modelos singulares, complexos, sabiam disso. A inevitabilidade da sina do herói constitui a própria busca de respostas aos dilemas do existir humano.

Por Carlos Antônio Maximino de Albuquerque
Data: Segunda-feira, 24 de novembro de 2008.

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