
O mar de Trier é vasto, imenso. Olhamos para a superfície e vemos o aparente. É no fundo, no símbolo, que está a sua reflexão mais refinada. Observando os seus dois últimos filmes - O Anticristo e Melancolia - vemos que este é mais simples do que aquele. O primeiro é um mergulho nos símbolos. É tão estereotipado que chega a irritar. Trier já criou uma marca - suas obras são reflexões duras, pungentes e de dores lancinantes. Em O Anticristo a fotografia vai do etéreo-poético da cena inicial, ao inferno telúrico da floresta. Da cena de

Em Melancolia, uma obra de ficção científica, mas com requintes profundos de agonia, dor, depressão; e o cético e estóico sobrepondo-se à inocência e ao otimismo que, no fim, não nos leva a lugar nenhum, pois a vida na terra não vale a pena. Tese dura e cortante de Trier. Como aquele tese anti-humana de Dogville. Seguindo os pressupostos do Dogma 95, Trier não insere trilha sonora em Melancolia. A única sonoridade que surge é a Abertura da ópera Tristão e Isolda, uma das peças mais viscerais da história da música. Wagner torce a possibiliadade de fazer uma obra musical. Nunca vi o início de uma obra falar tão cética, negativa e tragicamente quanto aquela de Wagner. Melancolia insere a obra de Wagner, como se a obra do compositor alemão fosse uma leitmotiv (grande ironia de Trier), que nos leva a repisar a dor antes já sugerida na abertura do filme. O início do filme já nos sugere o fim. O planeta Melancolia colidirá com a Terra. Não restará nada.
Ninguém sentirá falta desse planeta insignificante da Via-Láctea. A vida na terra é um equívoco. Não existe saída. Estamos abandonados em um universo frio. Pa

O final do filme é de uma beleza extraordinária. O planeta Melancolia, cresce, agiganta-se, aproxima-se da Terra, as personagens Claire (Charlotte Gainsbourg), Justine (Kirsten Dunst) e Leo (Cameron Spurr) amparam-se embaixo de uma construção de gravetos. Seria a "caverna mágica", uma tentativa de construir um síbolo contra o caos, ou seja, contra a catástrofe apocalíptica iminente? O fato é que, por mais que enxerguemos exageros em Trier, ao final, sempre aquiescemos que suas produções nos tiram do lugar comum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário