quinta-feira, março 15, 2012

Após 129 anos da morte, a voz ainda fala

"A doutrina de Marx suscita em todo o mundo civilizado a maior hostilidade e o maior ódio de toda a ciência burguesa (tanto a oficial como a liberal), que vê no marxismo um a espécie de "seita perniciosa". E não se pode esperar outra atitude, pois, numa sociedade baseada na luta de classes não pode haver ciência social "imparcial". De uma forma ou de outra, toda a ciência oficial e liberal defende a escravidão assalariada, enquanto o marxismo declarou uma guerra implacável a essa escravidão"
Lenin

Ontem, dia 14 de março, foi o Dia da Poesia, mas também foi dia em que o mundo comemorou 129 anos da morte física de Karl Marx. É curiosa a força que o pensador alemão ainda possui. O século XX, foi o século de Marx. Após a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, há quem ache que falar em marxismo, comunismo, socialismo seja um grande contra-senso  Ledo engano. Marx é uma força rediviva. Seus textos ainda continuam vivos e atuais. Apenas para exemplificar, Karl nunca foi tão lido na Meca do Capitalismo, os Estados Unidos da América, como o é atualmente. Muitos são os exemplares de O Manifesto do Partido Comunista e O Capital que têm sido vendidos por lá.

Quando falamos em Karl Marx, falamos de uma potência. O pensador nunca nos deixa inertes. Sempre nos movemos em relação a ele. Se não o fazemos por amor, fazemo-lo por ódio. Se o movimento não é centrípeto é centrífugo - ou vice e versa. Lenin, um dos seus seguidores mais famosos, disse certa vez que o pensamento de Marx promove ódio à toda a ciência burguesa.

Marx se auto-explica, dizendo que a sua missão "não era explicar o mundo, como tantos outros filósofos fizeram". Que essa não deve ser a sina da filosofia e do engajamento de quem quer que seja. E talvez aqui resida a raiva ferina aos seus escritos. Para Marx, a função da filosofia e do engajamento "é mudar o mundo". Ou seja, estar em Marx é, a priori, está munido de um sentido de mudança. As páginas velhas da história, escritas com o sangue dos trabalhadores, precisam ser reescritas pelos próprios trabalhadores.

Desde o final de minha adolescência, sempre observei que, quando falam de Marx, ou falam com ódio ou com um amor religioso exagerado. Penso que descobri o porquê de tal aversão (olha a minha presunção!). A explicação de tal fato veio com uma frase de um dos seus discípulos - Antonio Gramsci. O pensador italiano disse que "dizer a verdade é sempre revolucionário". Quando nos debruçamos sobre qualquer texto de Marx, fica-nos a certeza de que estamos diante de um bisturi que cortou os membros da história. Karl foi fundo em sua descrição, em sua análise. Impiedoso em sua crítica da anatomia das sociedades. Constatou um modelo que perdura em todas as épocas - a batalha pela luta de classes.

Negar esse fato é negar a história. É, simplesmente, negar a condição de bilhões de homens e mulheres que vivem e já viveram a tirania opressiva. Que tiveram/têm os seus direitos negados; e a dignidade usurpada. A capacidade de alimentação e libertação olvidadas. Marx levantou as saias morais da história e denunciou a orgia e lascívia dos ricos sobre os pobres. O parasitismo das sociedades ditas "civilizadas" sobre os "incivilizados". Os antídotos que são forjados numa tentativa de explicar o inexplicável.

A frase clássica de Hobbes de que "o homem é o lobo do próprio homem" fez com que se criassem mecanismos para abafar o barbarismo dos homens sobre os homens. Para isso era necessário criar uma força que garantisse a ordem e impedisse que "o homem violentasse o homem". Uma força que fosse um agente imparcial para preservar a todos. Tal ente é o Estado Moderno, garantidor do bem comum.

Para Marx, a estrutura ficará viciada se, a sua formação ocultar a selvageria das relações. O Estado Moderno não é nada mais nada menos do que o desejo da burguesia. O que ele diria sobre a nossa sociedade atual? Sobre a nossa ideia ordinária de uma democracia, que nos dá a "liberdade" para escolher apenas quem serão os líderes que arrancarão nossos próprios ossos. Ou seja, os algozes que vão morder nossas carnes bambas pelo trabalho excessivo. Vivemos um ideal de sociedade que nos leva apenas à dominação e à domesticação da vontade. Julgamos que ter dinheiro e poder para consumir bens duráveis e não duráveis é o ideal para se viver bem. Esquecemos que essa é parte que nos cabe de nossa ração. Ou como diria o Chico Buarque na música Funeral de um Lavrador: "É a parte que te cabe deste latifúndio". Que esse modelo leva à barbárie e à selvageria. Ao predatismo da natureza. À cataclísmica situação ecológica que enfrentamos.

Se a infra-estrutura está viciada, a super-estrutura repetirá tais vícios. É por isso que as instituições que surgem numa sociedade capitalista, defenderão com unhas e dentes o capitalismo. Criarão linguagens. Explicações funcionalistas e positivistas do destino para o destino daquela sociedade. Falar-se-á em progresso. Em desenvolvimentismo. As demais instituições - a ciência, a religião, a política, as artes, a cultura em geral - reproduzirão esse anseio viciado. Não me assusta quando vejo alguém falando mal de Marx. Quando constato tal realidade, penso conjecturo duas hipóteses:

(1) Se o sujeito é proletário (apesar de ser um equívoco dorível ouvir um trabalhador falar mal de Marx), entendo que o veneno do "hospedeiro" o tomou. É como se o discurso do vencedor estivesse em seus lábios. Paulo Freire em seu texto clássico, A Pedagogia do Oprimido, disse que: "Os oprimidos, que introjetam a 'sombra' dos opressores e seguem suas pautas, temem a liberdade, na medida em que esta, implicando a expulsão desta sombra, exigiria deles que 'preenchessem' o 'vazio' deixado pela expulsão com outro 'conteúdo' - de sua autonomia". Em outras palavras, a liberdade que ostentam ter é a liberdade "cerceada" e ilusória dada pelo opressor. Em nossa sociedade, a liberdade que temos é a liberdade para consumir as mercadorias que o mercado nos oferece. Ficamos felizes à medida que consumimos mais e mais. A arte, o engenho, o conhecimento, os corpos, o saber, a cultura, o turismo, transformaram-se em fetiche e alimentam as nossas ânsias. Quanto mais os temos, mais nos sentimos livres.

(2) Se ele não gosta de Marx e sabe o motivo por que não gosta, não sendo proletário, creio que ele esteja correto. Quem é algoz, jamais gostará da vítima. Quem explora, jamais sentirá comiseração pelo explorado. Quem está na condição de verdugo, não sentirá conforto se a sua atividade for criticada e exposta cientificamente.

Então, termos a oportunidade para dizer: "Parabéns, Marx, você é imensamente atual. Necessário para que entendamos a situação do trabalhador que levanta todos os dias cedo. Que se ergue para alimentar a sua família. Que paga tributos. Que produz mais-valia".

Para finalizar, um trecho da música Pedro Pedreiro de Chico Buarque:

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando prá trás
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol, esperando o trem
Esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval
E a sorte grande do bilhete pela federal todo mês
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando a festa, esperando a sorte
E a mulher de Pedro, esperando um filho prá esperar também (...)
Letra completa AQUI
Carlos Antônio M. Albuquerque

Um comentário:

Anônimo disse...

pelo pouco que li sobre marx, ele nunca tentou impor aquilo que pensava e simtentar explicar a dinamica socio economico do que hoje conhecemos como mundo globalizado.