domingo, setembro 09, 2012

"Onde há dúvidas, há liberdade" e O mundo assombrado pelos demônios

Concluí há alguns dias a leitura de O mundo assombrado pelos demônios, de Carl Sagan. Já fazia um bom tempo que eu não havia lido algo que me balançou tanto. Sagan com sua prosa elegante e fácil suscitou em mim um forte apego ao bom senso. Cada capítulo teve um sabor dignatório. A função do livro é explicitada no subtítulo - A ciência vista como uma vela no escuro. O livro revela o amor que o americano possuía pela ciência, que como ele mesmo diz sobre o conhecimento científico: "A ciência é o melhor que temos". Ou: "A ciência é o modo de desmascarar aqueles que apenas fingem conhecer". 

O fato é que Sagan é transparente e honesto em sua análise. Mostra-se convincente em todos os momentos do livro. Sua maior arma é o modo como constrói os argumentos. Busca persuadir por meio de uma lógica combinada com uma abordagem firmada na sensatez. É nesse sentido que Sagan fala de discos voadores, da astrologia, das crenças religiosas, dos argumentos desgatados que buscam sustentar a existência de Deus. Dois dos capítulos mais notáveis do livro têm por título são "Um dragão na minha garagem" e "A arte refinada de detectar mentiras".

O mundo assombrado pelos demônios é um documento fascinante a quem deseja arrancar as máscaras da mentira e das superstições. Um fato curioso se deu comigo e serve para atestar a relevância do livro. Eu estava numa fila de supermercado e um moça curiosa quis saber o que eu estava lendo. Perguntou o nome do livro. Enunciei o nome do livro. Ela disse persingnando-se: "Cruzes!". E inquiriu: "Por que você está lendo isso? Alguém te indicou?". Até que expliquei do que se tratava o livro e ela se viu mais aliviada .O que a deixou contrafeita foi o fato de eu ter falado "demônio". Em pleno século XXI, muitas pessoas ainda vivem assustadas com essa hipótese como se ainda estivessem em plena Idade Média.

As crenças e superstições são gaiolas capazes de fazer prender os homens em suas grades. De certa forma, como diz Carl Sagan, "a credulidade mata". As crenças são piores que as mentiras; e, as convicções, inimigas do bom senso. Nesse sentido, é legítimo dizer que "onde há dúvida, ali há liberdade" para se buscar o novo, para se forjar, com criatividade, caminhos viáveis para um debate coeso e rico. 

Posso concluir que esse livro terá forte influência nos caminhos e decisões que eu vier a tomar daqui para frente. É somente desvestido de dogmas que o homem pode escrever uma nova história não marcada pelo ranço perverso das cristalizações. E para terminar, uma pergunta fascinante feita por Sagan logo no início do livro: "A que interesses a ignorância serve?".


Um comentário:

Anônimo disse...

"As crenças e superstições são gaiolas capazes de fazer prender os homens em suas grades"
Gostei da frase! Gostei do texto!
bjus... Lia