quinta-feira, janeiro 17, 2013

Impressões sobre as 100 primeiras páginas de Usina, de José Lins do Rego


Uma afirmação inicial deve ser feita: sou um fã incondicional daquilo que se convencionou chamar de Modernismo Regionalista, na literatura brasileira. Escritores como José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Rachel de Queiroz, entre outros fizeram um neorrealismo literário preocupado com as tensões e realidades do Nordeste brasileiro. Utilizaram-se da via aberta pelos modernistas. Compuseram, assim, por meio de uma prosa fluídica, rica, preocupada com as realidades do homem da terra, denunciando as relações de poder, o mando dos coronéis; o processo de submissão, a devoção exagerada, a superstição, o triunfo e a derrocada de alguns processos. Pode-se afirmar, assim, que estes escritores são telúricos. 

Hoje, aqui em Maceió, li aproximadamente 100 páginas do romance Usina, de José Lins do Rêgo, obra escrita em 1936. O livro é conhecido por dar cabo àquilo que o escritor paraibano chamou de Ciclo da cana-de-açucar. O texto é o quinto de uma sequência bem-sucedida de romances escritos por um José Lins completamente inspirado - Menino de Engenho, Doidinho, Bangüe, O moleque Ricardo, respectivamente. É curioso notar que até Usina, os textos de José Lins saíam com uma facilidade, com uma fluência, com uma dinamicidade únicos. Após o último romance de o Ciclo da cana-de-açucar, para muitos críticos e estudiosos da obra de José Lins, há como que um esgotamento na inspiração do escritor. Mais tarde vão surgir outras obras significativas. As principais são Fogo Morto, Riacho Doce, Pedra Bonita e Cangaceiros

Com a leitura de Usina, estou terminando todo o Ciclo. A linguagem de José Lins é simples. Em alguns momentos é perceptível o descuido, quiçá, voluntário das regras gramaticais e outras obviedades da norma crítica. Mas é dessa forma que ele constrói com fidelidade as falas e enseja o regional. O ponto forte de José Lins é a força de sua prosa; a energia que flui; a capacidade de contar uma boa história. O paraibano do Engenho do Pilar não era um escritor genial. Sua prosa não é esculpida artisticamente como a de Graciliano Ramos ou como o mundo de personagens de Jorge Amado, mas, em José Lins, encontramos a verve para uma boa narrativa. Seu texto pode ser comparado a um rio caudaloso, que não se detem em obstáculos. Seguimos o seu curso. Mergulhamos em suas águas, uma maviosidade e uma sensação de embalo nos leva pelo mundo mágico dos canaviais, dos antros do Recife, de Goiana (PE), Itabaiana (PB), Santa Rita (PB), do Engenho Santa Rosa etc. 

O que é relevante apontar nisso tudo é que antes dos regionalistas, o Nordeste não possuía voz. Não era descrito. José de Alencar andou escrevendo alguns romances piegas, numa tentativa de consolidar a literatura "com uma voz verdadeiramente brasileira". O livro que me é lembrado de Alencar é Guerra dos Mascates. Mais tarde, surge o Mulato, de Aluísio Azevedo. A história se passa no Maranhão. Os Sertões, de Euclides da Cunha, é uma das vozes mais fortes na tentativa de deslindar essa omissão. A ótica clínica e jornalística de Euclides da Cunha fez uma análise das mais brilhantes. Mas, foi somente com o movimento literário inaugurado por A Bagaceira (1928), de José Américo de Almeida, que o Nordeste ganhou notoriedade. A denúncia ganhou corpo, se avivou. O restante do Brasil passou a conhecer essa região esquecida. Uma lugar de omissões e desigualdades aberrantes. O Nordeste dos contrários. Dos homens-bichos. O Nordeste dos "homens fortes", como já advertira Euclides da Cunha.

Após a leitura de Usina, farei uma pequena análise do livro. 

Maceió-AL.

Nenhum comentário: