sexta-feira, agosto 09, 2013

"Solto o meu bárbaro YAWP sobre os telhados do mundo". Um grande presente de aniversário


O que faz as coisas pararem no tempo é a saudade
Mario Quintana

O cimento que alicerça o mundo humano é a palavra. A palavra é um dos elementos identificadores da minha humanidade. Se eu não verbalizasse, estaria privado dessa dimensão tão intrinsecamente necessária à minha humanização. Paulo Freire diz que o sujeito humanizado é aquele capaz de praticar a "emersão", que é a existencialização de sua subjetividade, o externar de seu próprio mundo humano. Sujeitos humanizados exprimem o que sentem num gesto de liberdade plena. Quem não aprendeu "a dizer" o que sente, ainda não está plenamente emancipado. 

Proibir a fala é proibir a própria capacidade de ser do outro, pois o outro está naquilo que a sua fala diz. A fala é uma dimensão existencial da vivência social. Com ela, eu aprendi a dizer "mãe", "não", "obrigado", "vou", "não vou", "gosto" e "não gosto". O sujeito que verbaliza a palavra projeta o seu próprio ser. O indivíduo proibido de dizer a palavra está proibido, na verdade, de ser. Falar é colorir o mundo com as cores que acumulamos na história. É colocar minhas impressões sobre determinado assunto, sobre determinado aspecto da realidade. É não sentir em sua privacidade, mas compartilhar com o outro um pouco daquilo que somos. 

É, por isso, que que a raposa vai dizer para o Pequeno Príncipe: "A gente só conhece bem as coisas que cativou (...) Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas". Os homens são cativados pelo poder da palavra. E mesmo que haja silêncio no intervalo das falas, isso se constitui em "um dizer". Há silêncios que estão povoados de palavras. 

Divago com as palavras, porque a boca se enche de sorrisos quando o coração é cativado. Hoje é o dia de meu aniversário. Fui trabalhar pela manhã e recebi durante o dia vários gestos de afeto. Dois em especial me tocaram bastante. (1) primeiro do 9° ano A. Deram a mim um livro do Mário Quintana. Presente excelente. Quintana é um gênio. Um burilador de palavras. O pastor de palavras, como o Alberto Caieiro. (2) segundo foi um gesto de carinho do 8° C. Fizeram uma festinha. Todavia, o que mais me comoveu foram as palavras escritas pela turma e lidas pela Lorena Weil. Demonstra um alto nível de perspicácia ao dizer a palavra. Transcrevo-as abaixo:

"Quando me pediram para escrever esta carta, fiquei pensando em como começá-la, em como desenvolvê-la e em como terminar. Pois é. Não tinha ideia de como escrever algo para o cara que corrige nossas provas, mesmo com todas as caligrafias borradas e estranhas, mesmo com os erros ortográficos, ele consegue entender. Nossa caminhada vai se tornando cada vez mais longa, se olharmos para trás, e cada vez mais curta, se olharmos para frente. É estranho - eu sei. Mas pare para pensar nas crianças que éramos no 6° ano e olhe para nós agora, mesmo ainda não sabendo quase nada da vida. Estamos crescendo e evoluindo. 

Toda aula uma palavra carlina entra no nosso dicionário, aquelas aulas que te deixam com os cabelos, mesmo poucos, brancos. O sexto horário da segunda-feira em que já estamos exaustos, mas você está ali, de pé, passando o seu conhecimento para frente. Como não lembrar dos seus pulos de alegria quando acertamos alguma questão ou quando não sabemos a matéria? Aquele seu jeito desengonçado de andar, como você mesmo disse: "como boneco de Olinda". Esse jeito Carlos de ser nos deixa curiosos, afinal como alguém pode falar tão bonito de coisas tão bonitas? Ter sabedoria que você tem, não é para qualquer um. Pode não parecer, mas a admiração que temos por você é muito grande. E quem diria, ainda com essa vida agitada ainda sobre espaço para ler um livro? Um não: uns 10, 20, 30 quem sabe... É. Meu professor de Português também é uma biblioteca ambulante. E também uma discoteca dos mais variados rocks, dos mais diferentes clássicos. 

Como ele consegue é um grande mistério. Daqui a pouco tempo essa turma vai embora. Vamos enfrentar o temido Ensino Médio e cada um aqui vai lembrar daquela professor de Português do Santa Rosa. "Lembro-me de quando ele falou desse escritor". "Acho que li esse livro". Tudo isso vai deixar saudades. Parabéns, Carlos. Continue sendo esse homem de grande coração que você é. Obrigado por cada aula. Esperamos que você realize seus sonhos e conquiste seus objetivos".

Obrigado!

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