Este texto resume as intuições que me habitam nestas últimas semanas ao perceber as manifestações misóginas, homofóbicas, higienistas, racistas, criminosas, nazi-fascistas, burras, preconceituosas, etc, de setores da igreja e de boa parte da população brasileira sobre o resultado das eleições, indicando claramente que não acertamos conta com o nosso passado. Havia pensado em escrever algo nesse sentido, mas Frei Betto se antecipou a mim (risos!). Boa leitura!
Jean-Marie
le Pen, líder da direita francesa, sugeriu deter o surto demográfico na
África e estancar o fluxo migratório de africanos rumo à Europa
enviando, àquele sofrido continente, “o senhor Ebola”, uma referência
diabólica ao vírus mais perigoso que a humanidade conhece. Le Pen fez um
convite ao extermínio.
O
ex-presidente francês Nicolas Sarkozy propôs a suspensão do Tratado de
Schengen, que defende a livre circulação de pessoas entre trinta países
europeus. Já a livre circulação do capital não encontra barreiras no
mundo… E nas eleições de 25 de maio a extrema-direita europeia aumentou o
número de seus representantes no Parlamento Europeu.
A
queda do Muro de Berlim soterrou as utopias libertárias. A esquerda
europeia foi cooptada pelo neoliberalismo e, hoje, frente a crise que
abate o Velho Mundo, não há nenhuma força política significativa capaz
de apresentar uma saída ao capitalismo.
Aqui
no Brasil nenhum partido considerado progressista aponta, hoje, um
futuro alternativo a esse sistema que só aprofunda, neste pequeno
planeta onde nos é dado desfrutar do milagre da vida, a desigualdade
social e a exclusão.
Caminha-se
de novo para o fascismo? Luis Britto García, escritor venezuelano,
frisa que uma das características marcantes do fascismo é a estreita
cumplicidade entre o grande capital e o Estado. Este só deve intervir na
economia, como apregoava Margareth Thatcher, quando se trata de
favorecer os mais ricos. Aliás, como fazem Obama e o FMI desde 2008, ao
se desencadear a crise financeira que condena ao desemprego, atualmente,
26 milhões de europeus, a maioria jovens.
O
fascismo nega a luta de classes, mas atua como braço armado da elite.
Prova disso foi o golpe militar de 1964 no Brasil. Sua tática consiste
em aterrorizar a classe média e induzi-la a trocar a liberdade pela
segurança, ansiosa por um “messias” (um exército, um Hitler, um ditador)
capaz de salvá-la da ameaça.
A classe média adora curtir a ilusão de que é candidata a integrar a elite embora, por enquanto, viaje na classe executiva. Porém, acredita que, em breve, passará à primeira classe… E repudia a possibilidade de viajar na classe econômica.
Por
isso, ela se sente sumamente incomodada ao ver os aeroportos repletos
de pessoas das classes C e D, como ocorre hoje no Brasil, e não suporta
esbarrar com o pessoal da periferia nos nobres corredores dos
shopping-centers. Enfim, odeia se olhar no espelho…
O fascismo é racista. Hitler odiava judeus, comunistas e homossexuais, e defendia a superioridade da “raça ariana”.
Mussolini massacrou líbios e abissínios (etíopes), e planejou
sacrificar meio milhão de eslavos “bárbaros e inferiores” em favor de
cinquenta mil italianos “superiores”…
O
fascismo se apresenta como progressista. Mussolini, que chegou a
trabalhar com Gramsci, se dizia socialista, e o partido de Hitler se
chamava Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais
conhecido como Partido Nazista (de Nationalsozialist).
Os
fascistas se apropriam de símbolos libertários, como a cruz gamada que,
no Oriente, representa a vida e a boa fortuna. No Brasil, militares e
adeptos da quartelada de 1964 a denominavam “Revolução”.
O fascismo é religioso. Mussolini teve suas tropas abençoadas pelo papa quando enviadas à Segunda Guerra.
Pio XII nunca denunciou os crimes de Hitler. Franco, na Espanha, e
Pinochet, no Chile, mereceram bênçãos especiais da Igreja Católica.
O fascismo é misógino. O líder fascista jamais aparece ao lado de sua mulher. Como dizia Hitler, às mulheres fica reservado a tríade Kirche, Kuche e Kinder (igreja, cozinha e criança).
O
fascismo é anti-intelectual. Odeia a cultura. “Quando ouço falar de
cultura, saco a pistola”, dizia Goering, braço direito de Hitler.
Quase todas as vanguardas culturais do século XX foram progressistas:
expressionismo, dadaísmo, surrealismo, construtivismo, cubismo,
existencialismo. Os fascistas as consideravam “arte degenerada”.
O
fascismo não cria, recicla. Só se fixa no passado, um passado
imaginário, idílico, como as “viúvas” da ditadura do Brasil, que se
queixam das manifestações e greves, e exalam nostalgia pelo tempo dos
militares, quando “havia ordem e progresso”. Sim, havia a paz dos
cemitérios… assegurada pela férrea censura, que impedia a opinião
pública de saber o que de fato ocorria no país.
O
fascismo é necrófilo. Assassinou Vladimir Herzog e frei Tito de Alencar
Lima; encarcerou Gramsci e madre Maurina Borges; repudiou Picasso e os
teatros Arena e Oficina; fuzilou García Lorca, Victor Jara, Marighella e
Lamarca; e fez desaparecer Walter Benjamin e Tenório Júnior.
Ao votar este ano, reflita se por acaso você estará plantando uma semente do fascismo ou colaborando para extirpá-la.
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