sábado, outubro 04, 2014

Desabafo

Quem nunca foi à periferia de uma grande cidade - ou ao interior do Nordeste; quem nunca visitou uma prisão; quem somente "viu a pobreza" quando leu Vidas Secas na escola e achou o livro chato; quem nunca precisou das políticas sociais do governo - Pronatec, Prouni, Luz para todos, Bolsa Família, Farmácia Popular, Minha Casa Minha Vida, Brasil sem miséria, Enem, Mais médicos, leis trabalhistas para as empregadas domésticas etc; quem acha que pobre não trabalha porque não quer; quem acha que o mundo apenas é aquilo que ver e interpreta em cores enviesadas; quem nunca passou dificuldades; quem acha que porque come três vezes ao dia (no mínimo), todos vivem essa realidade; quem está acostumado a viajar pelo menos duas vezes ao ano para passar férias em locais variados - seja no Brasil seja no exterior; quem sempre estudou em escola de qualidade e, no ensino superior, em universidade pública; quem nunca teve curiosidade para aprender um pouco da história de luta de classes de seu país e acha que a história do homem se limita ao presente em que vive; quem nunca pegou um ônibus lotado saído de uma periferia; quem nunca morou em um barraco de tábuas; quem nunca sentiu o cheiro da pobreza em seus mais variados matizes; quem acha que é só lutar que Deus ajuda, jamais vai entender a transformação pela qual o país passou nos últimos doze anos. Muito me impressiona o discurso raivoso de pessoas que são massa de manobra da mídia e ainda se acha culto ou entendido. Não consegue perceber o projeto golpista dos meios de comunicação. A mensagem subliminar ensaiada todos os dias. 

Saiamos da menoridade intelectual. Saibamos diferenciar essência e aparência, duas categorias extremamente relevantes a pessoas sensatas. Existe uma passagem curiosa na bíblia que tem morado em minha mente nestes dias. Jesus tinha ido à casa de um fariseu, um líder religioso da época. Alguém bastante influente e respeitado pelo "status quo" da sociedade. Fazia parte da elite intelectual, econômica e religiosa. Ao chegar lá, uma mulher pôs-se a chorar. Com suas lágrimas ela ungia os pés de Cristo. O fariseu ficou a olhar e a condenar aquela cena. Afinal, em seu moralismo interno, na defesa de seu dogma cego e cruel, ele pensava: "Se esse sujeito fosse quem ele diz ser, com certeza, que não aceitaria os rogos dessa mulher". Diz o texto de Lucas que Jesus percebeu suas intenções. Contou uma história para o homem e logo em seguida diz mais ou menos nesses termos: "Quem pouco foi agraciado, pouco vai entender o que é o amor, pouco vai amar". (Lc 7.36-50). É curioso notar como o ódio daqueles que falam mal das políticas do Partido dos Trabalhadores, possui uma tese contrária contra a vida de milhões de brasileiros que tiveram suas existências melhoradas. Trata-se de uma julgamento que tem a sua raiz na naturalização de um discurso de raiva e que está preso a uma sentença: é preciso tirar o PT. Quando leio ou escuto algo assim, entendo que esse recado é contra mim, que estudei com Bolsa do Prouni; contra muito dos meus familiares que receberam Bolsa Família. Venho de uma origem humilde. E a minha vida, como a vida de tantos brasileiros, mudou para melhor. A bondade, a humildade, e a piedade estão a serviço da misericórdia.

Um comentário:

charlles campos disse...
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