sábado, março 07, 2015

A sensação "de ser livre"

Sob a lei geral do capitalismo - gerar o máximo de lucro com o mínimo de despesas -, o trabalhador precisa separar-se do seu produto. A educação, a ciência, a técnica, a inteligência e a arte são gratuitas apenas para o capitalista.

Dos métodos brutais de exploração do capitalismo do século XIX passou-se no século XX aos métodos racionalizados e ao trabalho em série, dividindo o trabalho em múltiplas fases, tornando-o repetitivo, impessoal e mecânico. Embora o esforço físico tenha diminuído, o impacto sobre a mente humana leva frequentemente ao stress e à fadiga mental.

Se o trabalhador de hoje pode, muitas vezes, escapar durante uma parcela do seu tempo do domínio da produção esgotante, não é menos explorado nesse seu tempo livre. Através da criação e incentivo de "necessidades" de todo tipo, torna-se escravo de uma sociedade que o obriga ao consumo do que interessa unicamente ao capitalista.

Se contarmos as horas extras e o tempo de locomoção da casa à fabrica ou ao local de trabalho, o chamado "tempo liberado", o segundo emprego ou o biscate, para a grande massa dos trabalhadores, o tempo livre é apenas uma ilusão. As horas de TV serão as únicas capazes de distraí-los. Seria um suplício ter de aguentar na TV ou fora dela um debate dos problemas políticos e econômicos. Por isso ele vê ("é isso o que eles querem", dizem isso os programadores de TV) o que sonha: ambientes bonitos, finos, ouve coisas boas e engraçadas, vibra com o amor e o casamento do rico com o pobre etc. notadamente através das novelas incluídas nos "horários nobres" da reposição física de trabalho.

GADOTTI, Moacir. Concepção Dialética da Educação. Editora Cortez. 16ª edição. São Paulo. 2012. pp. 58-59.

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