segunda-feira, abril 09, 2012

Uma leitura sobre Marx

Capa do livro de Attali
Terminei a leitura do livro de Jascques Attali - Karl Marx: ou o espiríto do mundo. O título é bastante feliz para aquilo que Attali se propõe a debater e expor em sua obra. Marx é um dos nomes mais comentados e pleno de significações, radicalismos e achismos peremptórios. Aqueles que o refutam, acham que sua teoria é uma contradição, um mal, razão de desmazelos, ditaduras trágicas e a opressão de uma classe privilegiada sobre uma maioria padecente. Associam à pessoa de Karl Marx, figuras como Béria, Stálin, Pol Pot ou Ramón Mercader, o assassino de Trotsky. Ou, ainda, ambiguidades sistemáticas, contradições cômicas ou trágicas.

Já aqueles que o defendem, agarram-se a uma militância deificadora; numa espécie de entedimento quase que messiânico sob a figura do filósofo de Trier. Essa dicotomia apenas serve para dimensionar a importância desse que, de fato, é responsável pelo "espiríto do mundo". 

Marx e Engels
Umas das reflexões aludidas por Attali é sobre as várias interpretações que foram dadas à pessoa do escritor de O Capital. Como acontece aos grandes homens respresantivos, Marx é uma das figuras que mais passaram por adaptações caricaturescas. Attali afirma que até mesmo Engels foi responsável por uma "vulgarização" da pessoa de Marx. Outros nomes vieram em seguida, encetando este trabalho de adaptação do espiríto da teoria de Marx: Kautsky, Bernstein, Lênin, Stálin etc.

Curiosa é a citação que Attali faz sobre um espisódio, uma declaração de M. B. Mitin sobre Stálin: "Stálin desenvolveu mais, elevou a um nível mais alto o ensinamento do materialismo dialético e histórico. Ele se alinha com os trabalhos dos clássicos do marxismo-leninismo como O Capital de Marx, o Anti-Dühring de Engels e Materialismo e empirio-materialismo dialético e histórico de maneira extremamente compacta. O camarada Stálin procedeu nesse trabalho a uma generalização das constribuições de Marx, Emgels e Lênin sobre o ensinamento do método dialético e da teoria materialista. [...] Jospeh Vissarionovitch Stalin, continuador do imortal trabalho de Marx e Emgels, amigo e companheiro de Vladimir Ilitch Lênin e continuador dos seus trabalhos geniais, é o pensador de nossa época moderna, um tesouro da ciência marxista-leninista" (sic.) [ATTALI, 2005, pp.410-11]. 
Joseph V. Stálin
Afora o aspecto propagandístico da afirmação de Mitin, o tom que se ressalta é de semelhança ao acontece na Igreja, Marx passou a ser uma entidade que precisa de determinadas pessoas supostamente iluminadas para interpretar e dar sentidos aos seus textos. Ou seja, muito daquilo que foi feito em nome de Marx, o próprio Marx não defendeu em seus escritos. Por exemplo, o conceito de ditadura do proletariado foi deturpado; chega-se ao comunismo pela via democrática ou pela revolução. A experiência soviética não deve ser entendida como o marxismo em sua vasão e clímax. 

Apontei aqui apenas um aspecto sobre o livro do Attali. A obra é boa. O estilo possui uma fluência gostosa. A leitura escorre fácil. Apropriamo-nos com bastante facilidade dos conceitos e eventos históricos mais importantes que envolveram o comunismo, o socialismo e as ideias de Marx nos últimos 170 anos.

Marx nunca esteve tão vivo. E a melhor forma de descobri-lo não é por intermédio dos seus epígonos - unicamente. É preciso ir à própria fonte e se abeberar das águas puras e doces do rio caudaloso que é esse filósofo - "o espírito do mundo".

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