terça-feira, abril 10, 2012

Raul - o início, o meio e o fim - anotações e memórias

No último domingo fui ao cinema assistir ao documentário de Walter Carvalho - Raul - o início, o meio e o fim - e veio à minha cabeça boas recordações de minha adolescência. Durante dois ou três anos seguidos do meu ensino médio, o cantor que mais ouvi foi o Raul Seixas. Havia um colega em minha turma (o Ronivon), que era um verdadeiro maníaco pelo roqueiro baiano. Aquela influência acabou me contagiando. Mas aquela força aos poucos foi arrefecendo. O vento tempestuoso da vontade acabou sendo sofreado pelas investidas do tempo. 

Quando me converti, no final de 1999, ao protestantismo acabei abandonando muitas das músicas que ouvia. E o Raul foi uma dessas vozes que foram silenciadas. Após algumas caminhadas e reveses, esqueci-me de sua música, de sua poesia, de sua mística roqueira. Mas o documentário (que vou comentar mais à frente) fez reavivar em mim uma vontade enorme de revisitá-lo. 

Raul Seixas nasceu em Salvador, no ano de 1945. Quando ainda era adolescente foi abduzido pelo ritmo contagiante do rock n' roll. Tratava-se de uma energia que contaminava corações e mentes. Era uma época de inocência e sonhos. A força do rock fazia com que os jovens mudassem o modo de vestir, de falar, de andar e, principalmente, o modo de se comportar. Ser roqueiro era pertencer a uma contracultura contestadora. Era caminhar pela via oposta. Significava contestar o modus operandis da sociedade. As engrenagens da vida burguesa. Todavia, o rock mesmo era um movimento feito por burgueses e para burgueses. No fundo, era um ato de rebeldia contra os valores instituídos, mas realizado por aqueles que o criaram. Dizia respeito a uma vontade de dizer na cara dos pais: "A vida não é só casamento tradicional. Existem outras experiências a serem vividas". O rock transmitia essa força. Envidava "anarquismos" contra a ordem instituída.
O garoto Raul Seixas entrou em contato com a música de Elvis Presley e aquilo mudou a sua vida. Determinou uma trajetória de existência. O rock sempre esteve nas veias do maluco beleza Raul Seixas - até no dia de sua morte, em 1989. Ele viveu até as últimas consequências as implicações da fama e da queda.

O documentário de Walter Carvalho é imensamente sensato. Não busca caricaturar, nem fornecer uma imagem distorcida do compositor de Gita. Mostra como se deu início da carreira do roqueiro e o fim melancólico no Rio de Janeiro. O documentário buscou dar voz àquelas pessoas que estiveram ao lado do artista - Paulo Coelho, Caetano Veloso, Marcelo Nova, as várias esposas, amigos e tantos outros que fizeram parte da trajetória do roqueiro. 

A obra amplificou algumas reflexões sobre Raul Seixas. O compositor é um artista maldito. Envolveu-se com toda sorte de experiência - tanto as psíquicas, quanto as espirituais. Pode se dizer que Raul Seixas foi um dos maiores artistas da contracultura do século XX. Se fosse americano, quiça sua fama tivesse alcançado alturas mais significativas. Mas o fato é que Raul Seixas ainda é imensamente popular. Seus discos ainda são vendidos. Sua obra ainda é cantada e celebrada por milhares de fãs espalhados pelo país.

O documentário de Walter Carvalho, acredito, chega em hora oportuna, para que os mais jovens conheçam a importância artística de um homem como Raul Seixas e reflitam sobre a poética de suas músicas. 

Quando saí do cinema, no último domingo, a primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi ouvir o disco "Há 10 mil anos atrás", de 1976. Muito bom! Recordo que na minha adolescência, um dos discos que mais ouvia era o "Abre-te Sésamo". Músicas como Ouro de Tolo, Só pra variar, Metrô Linha 743, Aluga-se, As minas do Rei Salomão, Meu amigo Pedro ou Eu também vou reclamar são verdadeiras impressões de um artista habilidoso e genial.

Foi bom ter assistido ao documentário. Possui cenas muito curiosas e engraçadas da vida do roqueiro. Dei boas gargalhadas. Raul Seixas conseguia fazer belas ironias e críticas mordazes em pleno regime militar. Ele era um "transgressor" nato. Um verdadeiro "maluco beleza", que vivia dentro da "loucura real".

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