domingo, outubro 07, 2012

"Animals" (do Pink Floyd) e sua mensagem política

Ultimamente tenho ficado sem muito tempo para escrever o que quer que seja neste espaço de sensaborias. Mas, hoje, resolvi deixar aqui algumas garatujas sobre um dos discos mais incríveis da história do rock: "Animals", do Pink Floyd. "Animals" destoou de tudo aquilo que o Pink Floyd produziu até 1977. É um disco conceitual. Sua força está na crítica firme e contudente contra as condições sócio-políticas da sociedade inglesa - e, quiçá, do mundo que estava mergulhado na Guerra Fria. Roger Walters, um grande socialista, baseou o disco na obra de George Orwell, "A Revolução dos Bichos". 

Outro elemento que impressiona é a capa fantástica: um porco enorme, flutuante entre duas chaminés de uma fábrica com matizes apocalípticos.  A central elétrica de Battersea serviu de inspiração para a capa.

O disco possui apenas cinco faixas. Dura aproximadamente 41 minutos. Todavia, três dessas faixas possuem mais de dez minutos ("Dogs", "Pigs" e Sheep") e as letras que levam a mensagem política e filósofica. Estou simplesmente viciado neste disco nos últimos dias. Tenho-o ouvido diariamente. A música "Dogs" (video abaixo) torce nossa compreensão. 

Como enunciei acima, a humanidade é dividida nesses três grandes animais - cachorros, porcos e ovelhas. "Dogs" seriam os burgueses ávidos por poder e influência. O desejo dos "Dogs" era se tornarem "Pigs". Os "Pigs" são aqueles que exercem o poder político como no livro de Orwell. São aqueles que dominam, pela força hegemônica, as outras classes. Nesse sentido, o disco faz uma crítica a Margareth Thatcher, uma desafeta do grupo, e que mais tarde se tornaria a Primeira Ministra da Inglaterra. Como no livro "A Revolução dos Bichos", "Pigs" e "Dogs" possuem uma aliança. Todavia, o que é curioso é que na mensagem conceitual do disco, "Pigs" eliminam "Dogs", restando apenas "Sheep". "Sheep" são aqueles seres que levam os meios de produção nas costas, que vendem a sua força de trabalho. São os seres dóceis, que foram dominados e seguem os seus líderes sem questionar o porquê de tal ação. O início da música "Sheep" sugere uma paisagem tranquila, repleta de paz. As ovelhas balem tranquilamente, evocando uma paisagem rural e campestre. E de repente irrompe o aviso: "Inocentemente passando seu tempo no pasto/ Apenas vagamente ciente de um certo desconforto no ar/ É melhor tomar cuidado, /Pode haver cães por perto /Eu olhei para lá do [rio] Jordão e já ví. /As coisas não são o que parecem ser / O que você ganha fingindo que o perigo não é real? /Submissos e obedientes vocês seguem o líder".

Finalmente, Walters deixa bem claro que o mundo está dividido em dois nichos estanques: "Pigs" (dominadores) e "Sheep" (dominados). Assim, instala-se um estado de submissão, de opressão. Walters desfere ainda sua crítica à religião. Tal crítica estaria centrada no fato que a religião busca anestesiar e "docilizar" as relações entre "Pigs" (opressores) e "Sheep" (oprimidos). Isso pode ser observado numa clara referência ao Salmo 23 na música "Sheep". 

A mensagem política é incontestável. "Animals" é de uma contundência açambarcante. Revela a genialidade criadora de Walters e propensão para a suavidade de Gilmour. Um disco para ouvir, re-ouvir e para se impressionar a cada nova audição.

Abaixo, a música "Dogs". Os solos de guitarra de David Gilmour são cortantes:


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